O MONGE E O EXECUTIVO – UMA HISTÓRIA SOBRE A ESSÊNCIA DA LIDERANÇA

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HUNTER, James C. O monge e o executivo: uma história sobre a essência da liderança. São Paulo: Editora Sextante.

Não vou negar que não me sinto atraído pelos grandes best sellers muito vendidos, mas leio alguns, como foi o caso do Código Da Vinci do Dan Brown. Agora vamos ao Monge e o Executivo. Achei muito proveitoso o conteúdo do livro, mas não brilhante.

Basicamente é a história de um executivo que começa a passar por sérios problemas familiares e profissionais após adquirir muita prosperidade e, percebendo sua má situação familiar e profissional, aceita o conselho do pastor da sua igreja, igreja que não frequenta com tanta regularidade, a conhecer um mosteiro beneditino, que contava com trinta e três monges, e que estava trazendo bons resultados e mudanças na vida de pessoas conhecidas. O que o atrai definitivamente é saber que Leonard (Len) Hoffman, uma antiga lenda do mundo dos negócios, estava neste mosteiro trabalhando há anos, após uma vida de muito sucesso e da fatalidade da perda da esposa. É exatamente ele quem vai orientar a turma de John durante toda aquela semana. John ficará espantando com o poder desta figura e a vida simples e singela que ele leva. Um dos momentos críticos é vê-lo consertando o vaso quebrado do seu banheiro.

John, nosso protagonista, é casado com Rachel com quem tem dois filhos, sendo o primeiro adotivo.

O livro é uma abordagem sobre a liderança humilde e servil baseada, sobretudo, no exemplo de Jesus narrado nos Evangelhos, mas cita outros lideres como Martin Luther King, Madre Teresa de Calcutá e Gandhi, mas voltada para o ambiente empresarial, ou seja, ainda que os conceitos possam, e devam ser aplicados à vida como um todo, fica claro que o autor projetou sua experiência focando a vida corporativa. Os diálogos acontecem em um mosteiro dentro da vida monástica dali da qual os visitantes participam. A pontualidade, os cinco cultos diários, a rotina de acordar muito cedo, fazem pare do pacote de responsabilidade e compromissos dos participantes do retiro.

O grupo de estudos e reflexões de John é composto por um pastor Batista, uma enfermeira, uma treinadora de basquete, um sargento do exército e uma enfermeira, todos buscando crescer como lideres, tendo sido encaminhados até ali ou voluntariamente decidido a ir. Não me aterei tanto ao papel de cada um, mas às ideias que são discutidas e conceitos que são levantados.

A rotina de cinco cultos diários logo se tornam agradáveis à medida que os dias vão passando, apesar das resistências internas do nosso personagem. As aulas assustam, mas logo parecem fazer sentido. Há um descrição diária dos encontros daquela semana no mosteiro e as discussão são muito acaloradas.

John teve encontros as 5:00 conta Simeão. Simeão não é autorizado a fazer refeições especiais com John, o que lhe causa espanto. As coincidências com o nome Simeão são um fator interessante na historia. É o texto do batismo de John, de seu casamento e agora o nome conferido a Len Hoffman no mosteiro.

Autoridade e poder em Max Weber é uma das primeiras citações de suas conversas. A distinção está em virtude do fato que poder significa ser respeitado pelo mal que você pode fazer a quem lhe deve obediência pelo temor, enquanto autoridade é a obediência em virtude do que você é. Como usam muito a Bíblia, é digno de nota que a Bíblia não parece incentivar liderança nos moldes que entendemos hoje, mas toda a discussão nos leva a concordar com muito do que é dito, ou seja, algo muito parecido com o que a Bíblia ensina e o exemplo de Jesus.

Relacionamento e confiança são de fundamental importância em qualquer relacionamento e podem ser atrapalhados por velhos hábitos como, por exemplo, cortar pessoas quando estão falando, o que faz de você um mau ouvinte, além de deixar claro o seu desinteresse pelo que a pessoa está dizendo e por quem ela é.

Outro obstáculo a uma boa liderança é o medo de quebrar os paradigmas. Paradigmas são padrões psicológicos de nossas experiências boas e ruins e eles nos incentivam a desafiá-los. Coisa das pessoas que estão à frente e são corajosas. O homem sensato se adapta ao mundo. Ele apresenta uma lista de como maus hábitos e paradigmas podem ser resignificados e trabalhar para o bem de todos:

Velho paradigma Novo paradigma
Invencibilidade do EUA Concorrência global
Administração centralizada Administração descentralizada
Japão = produtos ruins Japão = produtos bons
Gerenciamento Liderança
Eu penso Causa e efeito
Apego a um modelo Melhoria continua
Lucro a curto prazo Lucro a curto e longo prazo
Trabalho Sócios
Evitar e temer mudanças A mudança é uma constante
Está razoável Defeito zero


Necessidades e desejos são um discussão também importante levantada no texto. Para isto, ele cita a pirâmide de Maslow. Nela eles discutem que o ser humano tem necessidades básicas que precisam ser supridas primeiramente. Deste modo, no ambiente de trabalho os lideres devem estar atentos às necessidades mínimas de seus liderados para somente então pode exigir coisas mais elevadas.

Das prioridades destacadas dentro de suas conversas na aulas, os relacionamentos são apontados como primordiais em todas as relações.

Líder é quem serve e temos em Jesus o maior exemplo de liderança. Apesar de não citado, fica nossa referência do Evangelho de Marcos 10.45: ¨porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida no resgate de muitos¨. Jesus é o maior líder que já existiu, e Simeão justificou historicamente: o calendário mundial, suas várias referências, o respeito de outras religiões, a profundidade de suas palavras, etc. seguindo o exemplo de Jesus, nós podemos esperar amor até mesmo nas corporações, não como um sentimento, mas como aquilo que se faz pelas pessoas e pela corporação. O amor está sempre ligado à vontade, e nunca a sentimentos, como os dicionários parecem apontar. Logo, não apenas as intenções, mas ações e vontade em ação são necessárias em nosso dia a dia.

Ao contrário do que a maioria pensa e ensina, não preciso gostar das pessoas, mas amar cada uma delas, o que é bem diferente. O amor não é um sentimento, mas o conjunto das ações e da dedicação que tenho.

Faço outra observação que escapou ao autor, mas acho importante: Jesus liderou em vida pela autoridade que tinha e pelos exemplos que dava, mas recebeu poder no final antes de ascender, ou subir, aos céus.

Amor é apresentado a partir da expressão grega ágape que é sinônimo de liderança, bondade, respeito, honestidade, serviço, paciência, humildade, sinceridade, respeito pelas pessoas, perdão. Eles discutem cada uma destas palavras dispondo de um dicionário, ora concordando ora discordando do que leram, mas chegando a conclusões bastante interessantes, e invariavelmente, cristãs.  Eles afirmam que os resultados deste amor na comparação podem ser medidos pelo efeito Howtorm, que diz respeito ao aumento da produtividade pelo fato de que quem produz é visto e acompanhado pela liderança, não no sentido de vigilância castradora, mas no sentido de expressão de empatia ou de se estar completamente presente.

Das habilidades de se relacionar estão: ler, escrever, falar e ouvir. Mas não somos treinados a ouvir. Ouvir é fundamental.

Ouvir é terapêutico.

Elogios são importantes e devem ser sinceros, verdadeiros e específicos.

Perdão é definido como a desistência do ressentimento após ser enganado.

Eles distinguem pessoas que estão envolvidas e comprometidas com a empresa, como comparação pedem para medir o grau de compromisso ou envolvimento de uma galinha e de um porco no café da manhã de um norte-americano. A galinha está envolvida com seus ovos, mas o porco está comprometido, porque deu parte de si mesmo. Uma comparação irônica, mas que explica bem o enunciado.

Um ambiente adequado é de suma importância.
Tem a ver com a forma como mantemos e investimos nos nossos relacionamentos. É importante lembrar o espanto de John quando chegou ao mosteiro e viu tudo bem cuidado e da forma positiva como olhou para o cuidado e detalhes da sala onde teriam aula durante a semana toda: bonita, bem equipada, etc.

Quanto aos relacionamentos, Simeão os compara a uma conta bancária na qual fazemos saques e depósitos, e afirma que, para cada retirada são necessários quatro depósitos. Parece a regra de restituição do AT, mas não comparou isto, mais um gancho muito interessante que perdeu.

Ele cita a pesquisa de um behavorista: Podemos normatizar o comportamento das pessoas? Sim, mas fazemos isto estabelecendo regras. No entanto, a única pessoa que podemos mudar somos nós mesmos. Mas como mudar as pessoas e fazê-las excelentes no que fazem? O pastor batista do grupo compara o comportamento e atendimento excelente dos funcionários do Hotel Ritz e, estando lá, questionou porque todos estavam trabalhando com o máximo respeito. A resposta veio em forma de um lema: cavalheiros e damas atendendo cavalheiros e damas.

O comportamento dos líderes é fundamental para modelar o comportamento dos demais. Nosso comportamento também é determinado por aquilo com o que convivemos. Ou seja, o convívio molda nosso caráter e comportamento. A prática determina inclusive se vamos amar alguém. Quando desumanizamos alguém o odiaremos ainda mais. Nosso comportamento não muda só pela ideia de que o faremos quando quisermos, mas mediante a vontade dirigida pela prática. Os sentimentos também vêm em virtude do comportamento. Geralmente projetamos o contrário: mudarei quando o mundo a minha volta mudar. Neuróticos se culpam por tudo de errado que acontece. Há os que se desculpam por tudo que aconteceu, sendo os que têm mais problemas de caráter. Ele diz que os EUA beberam Freud demais e o determinismo ensinado por Freud (pela biologia e pelas condições externas) no qual afirma que cada efeito há uma causa sempre e, independente daquele que a sofre. Isto trouxe problemas sociais sérios já que podemos culpar a genética e os outros pelo que somos de maus ou distorcidos. Ele acusa Freud frontalmente, dizendo que ele construiu suas teorias nos sofás aveludados vitorianos e não nos campos de concentração de Auschwitz, onde seu povo, judeus, foi massacrado. O homem se auto determina, não é apenas determinado. Ele cita kierkegaard que dizia que temos que fazer escolhas, incluindo o fato de que a falta de escolhas é também uma escolha. Condicionar os comportamentos – behavorismo – aprender pela disciplina a tornar o não natural, algo também natural pela prática, cujo estágio final é ser inconsciente e habilidoso.

Aprendemos pela disciplina por sermos criaturas de hábitos. Assim ele propõe que passamos por quatro estágios no nosso desenvolvimento das habilidades, hábitos, práticas e comportamentos: Quais são estes estágios?

  1. Inconsciente e sem habilidade;
  2. Consciente e sem habilidade;
  3. Consciente e habilidoso;
  4. Inconsciente e habilidoso.

Liderança é estilo e caráter Para cada esforço há recompensas. Sacrifícios fazem parte da vida daqueles que optam por liderança com autoridade e influência. Sem objetivo dispersamos nossa vida sem sentido.

Pessoas mais velhas dizem que teriam se arriscado mais e feito coisas que ficariam eternizadas de alguma forma. Há várias recompensas em liderar, mas ele destaca a alegria, já que o resultado das coisas boas que acontecem, aparecem e alegram. Um obstáculo à isto é o fato de sermos auto centrados como crianças de 2 anos que são tirânicas. É o pecado original no cristianismo. De fato,  todas as religiões parecem combater este problema da humanidade. Cita CS Lewis. Cita Jesus: ¨amem-se uns aos outros como eu vos amei. Definição de insanidade: esperar mudanças sem ter mudado nada na maneira como agimos.

Um percurso de 200 km começa com passo.

Terminam combinando de se encontrar em seis meses. John reflete sobre como Greg, o sargento do exército, era honesto e transparente e que deveria ser assim também e aprender com Greg. Nada vale aprender bem se não fizer bem, foi um dos conselhos finais de Simeão. John ficou muito angustiado na despedida, mas abraçou sua esposa com muita alegria, como nunca fizera, talvez.

Como nas parábolas de Jesus não sabemos o final dos personagens, mas porque talvez o que importa é que a história seja completada por nós porque o ensino foi transmitido.

Em alguns momentos pareço mais o Greg, sargento do exército, dizendo: vamos falar do mundo real.

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