SHEDD, Russel P. Chamado: e os dons do Espírito Santo. São Paulo: Shedd Publicações, 2018. 79 páginas.
O propósito do livro é investigar a palavra chamado e a conclusão inicial é de que o chamado tem relação com o discipulado e o exercício dos dons espirituais e não com tarefas e ministérios específicos como pastores e missionários. Algumas conclusões são radicais como a importância do desejo de servir mesmo sem um apelo divino direto para algo específico e o que é um pastor segundo o Novo Testamento.
O livro termina datada do junho de 2016 e pode ter sido seu último livro escrito e lançado postumamente.
Introdução
- Talvez Deus não chame especificamente alguém para algo. Pode ser improdutivo esperar tal clareza para que algo aconteça.
Cap. 1 – O uso da palavra “chamar” ou “chamado” no Novo Testamento
- A palavra kaleo geralmente é usada no sentido de convidar como nas parábolas
- A palavra kletoi traduzida por clamar também implica num convite que pode ser rejeitado como em Mateus 22.14: “muitos são chamados e poucos são escolhidos”.
- No caso de Paulo e Barnabé em Antioquia em Atos, a palavra usada é proskaleomai que indica uma ordem para sair e pregar diferente do que acontece com o ministério pastoral que pode ser ou não atendido
Cap. 2 – O uso de “chamado” em Paulo
- Paulo usa chamar (kaleo), chamado (klesis) e ato de chamar (kletos)
- Ele usa porque afirma que foi chamado a ser apóstolo, porque a igreja foi chamada a ser santa e irrepreensível, exortando todos os crentes a permanecer como foram chamados, etc.
- Também usa no sentido de um convite para a salvação como em Gálatas 5.13 indicando um convite inicial para o servir
- Os líderes das igrejas do Novo Testamento não afirmam terem sido chamados e nem mesmo há indicação de algo assim. Serviam pela experiencia, dons, reconhecimento da igreja, idade, conhecimento bíblico, desejo de servir, etc.
- “Em todos os casos que encontrei no Novo Testamento, a clara referência dos vocábulos traduzidos em português para chamar ou chamado diz respeito ao convite soberano da parte de Deus para receber a vida eterna Cristo, o Senhor” – página 22. Esta ideia aparece novamente na página 46.
Cap. 3 – O conceito dos “vocacionados” no Novo Testamento
- No caso de pastores, como diz 1 Timoteo 3.1, o homem de Deus deve desejar servir e este desejo deve ser respaldado por várias virtude como, por exemplo, não ter vícios, não ser neófito, casado, com a família sob controle, etc.
- Há um destaque para a humildade já que aqueles que lideram não podem considerar-se melhor dos que os outros
- Ninguém é chamado de Pastor no Novo Testamento a não ser Cristo. Os demais são apóstolos, bispos, diáconos, presbíteros, etc. Estes que lideram são chamados de irmãos conforme, por exemplo, Apolo em 1 Coríntios 16.12, Epafrodito em Filipenses 2.25.
- Quem pastoreia são os presbíteros e irmãos (Atos 20.28, 1 Pedro 5.2)
- Isto está em perfeita consonância com o sacerdócio universal dos crentes que agora são o sacrifício oferecido a Cristo conforme Romanos 12.1: 1. Apresentação do corpo vivo para trabalhar na obra; 2. Para pregação e evangelização (Romanos 15.16); 3. Sacrifícios de louvor (Hebreus 13.15); 4. Socorrer os necessitados (Hebreus 13.16); 5. Sacrifícios pelos outros (Efésios 5.2); 6. Intercessão (Tiago 5.16).
Cap. 4 – Os dons e o ministério
- A fonte do desejo é o amor a Cristo, sentir a necessidade de servir em não se pode desprezar a emoção no processo como em Hebreus 4.12.
- Efésios 4.11 afirma que foram conhecidos dons de apóstolos, profetas, evangelistas e pastores-mestres.
- Pastores-mestres não devem ser considerados separadamente. É apenas um dom implicando em pastoreio, liderança e supervisão.
Cap. 5 – Os dons de Romanos 12.6-8
- O indivíduo é incluído no corpo para servir a todos com os seus dons
- Profecia: este merece cuidado porque pode ser abafada pelo desinteresse de alguns e o mau uso de outros. Em todos os casos a igreja deve comparar o que é dito com as próprias Escrituras.
- Servir: alguns tem isto de forma mais aguçada, mas é tarefa de toda a igreja. Ela vem da percepção das necessidades da capacidade para supri-las. O dom não tem muito a ver com a capacidade de cada uma, mas muito mais com a percepção e envolvimento.
- Ensino: dom excelente, não é possível ensinar a verdade sem conhecimento bíblico, carisma é importante, não há igreja saudável sem ensino profundo, sem carisma só há comunicação ou informação (p. 61, volta no assunto em 68-70 de acordo com Romanos 12.6 – “de acordo com a graça que nos foi dada”). Um bom ensino bíblico tem: comunica com autoridade a vontade de Deus, repreende os desobedientes, mostra o caminho correto, gera preocupação com os valores do Reino (neste parágrafo da página 62 o texto parece estar incompleto porque o ponto 3 faz alusão ao 2, mas é possível entender). Perigos: quando o pregador cria margem apenas para suas ideias, quando escapa de passagens difíceis. Qualidade a serem procuradas: contextualização da mensagem, ser precisa quanto a comunicação da mensagem do autor bíblico, o pregador deve comunicar com desejo e vontade e não apenas por obrigação ou constrangimento, buscar as implicações práticas e apelar ao coração de quem ouve, o que ensina deve ser reconhecido pela igreja como tal.
- Os demais dons de contribuir e misericórdia também acompanham a necessidade e percepção de alguns. Os dons de 1 Coríntios 12.4-10 são demonstrações de poder e não de amor em particular e, por isto, são comparados ao amor em 1 Coríntios 13.
Conclusão
- A Bíblia não diz que alguém é chamado para um ministério, mas para seguir Jesus.
- Chamado é sinônimo de ser salvo (p. 76), um chamado soberano para todo crente
- 1 Pedro 2.4, 6; Apocalipse 1.6, 5.10 mostra que a divisão entre leigos e clérigos na igreja é superficial
- Depende de envolvimento e sacrifícios anteriormente citados
- Esta confusão não pode gerar outra porque Deus chama pessoas para cuidadas das outras, liderálas e supervisioná-las.
- Pastor é Cristo.
- Aqueles que pastoreiam devem fazer voluntariamente.
- Não aceitar ser chamado de mestre conforme Mateus 23.8.
- A tarefa é entregar todo homem perfeito a Deus (Colossenses 1.28).