AINDA SOBRE OS RELACIONAMENTOS CONJUGAIS

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NÃO DIGA QUE NÃO TE AVISARAM

POR UMA VIDA FELIZ E CONTRA RELACIONAMENTOS TÓXICOS

Escrevo este texto pensando em jovens e adultos de igrejas evangélicas, sobretudo no nosso contexto batista, em que o casamento é uma benção de Deus e a vida sexual uma dádiva. Parte da experiência de 20 anos de cuidados pastorais e de aconselhamento e de muitos casamentos realizados e, infelizmente, depois de acompanhar alguns divórcios também, além de muitos relacionamentos doentios, enfraquecidos e sem solução aparente provocam o presente texto.

Mesmo diante de tantos ataques à família e as tentativas, em muitos casos muito bem-sucedidos, de causar ainda mais problemas no relacionamento entre homens e mulheres, as pessoas continuam namorando, noivando e casando, mas também brigando, se separando, vivendo verdadeiros infernos conjugais e, ainda pior, se divorciando. Isto quando não traem o parceiro adulterando.  

Carreira, aparência física, pensamentos sobre o futuro, ¨a grande oferta de espécimes do sexo oposto¨ neste grande mercado amoroso turbinado pelos aplicativos de relacionamentos e redes sociais, não necessariamente têm dado às pessoas a oportunidade de relacionamentos duradouros, saudáveis e felizes, às vezes tem tido o efeito contrário. 

No entanto, os sonhos de ¨felizes para sempre¨ e de encontrar um parceiro para sempre, até que a morte os separe, ainda continua. Os impulsos e pressões da natureza humana por companhia, família, sexo, intimidade ou alguém que funcione como cúmplice, não podem ser eliminados e castrados pelas convenções sociais, não podem ser substituídos por viagens, passeios, pela falsa felicidade muito bem fotografada nas redes sociais e nem mesmo castrada quimicamente com ansiolíticos e antidepressivos.

Casamentos minimamente felizes e equilibrados são muito raros, raros mesmo! Como ninguém posta com frequência suas infelicidades e problemas nas redes sociais, já que o fracasso dos casamentos é tratado aos cochichos pelos cantinhos deste mundo, como as pessoas não se abrem e não reconhecem seus erros, nem todos tem acesso a todas as dificuldades que um casamento pode ter.

O casamento ainda é algo muito sério e definitivo. Ainda é algo muito importante socialmente e espiritualmente. Para crentes, o sucesso no casamento é sinônimo de bom testemunho e de um bom relacionamento com Deus. As orientações bíblicas quanto à liderança, por exemplo, exigem que os líderes sejam pessoas bem casadas e sem quaisquer problemas conjugais, não apenas para que sirvam de exemplo, mas para que possam servir bem sem problemas de consciência, sem questionamentos sobre sua autoridade e sem a constante pressão de ¨perder o posto¨ por causa de dificuldades conjugais. Por isto, muitos dissimulam, jogam a sujeira para debaixo do tapete, fogem do confronto, racionalizam ou diminuem suas idiossincrasias e pecados ou simplesmente fingem que está tudo bem.

O amor acaba. O único e perfeito amor é o amor de Deus. O relacionamento conjugal passa por momentos de arrefecimento, desinteresse e conflitos, mesmo entre crentes muito sinceros, verdadeiros e engajados no serviço a Deus. Nenhum relacionamento está isento de interferências externas, sobretudo quando há fragilidades internas. Uma daquelas situações que pode explicar o esfriamento do amor ainda que não possa justificar tal esfriamento. A paixão dos primeiros meses e anos do relacionamento não podem durar mais do que dois ou três anos e logo devem ser substituídos por amizade, amor verdadeiro e companheirismo, incluindo o ardor sexual também, mas nem sempre é isto que acontece. Ao contrário do que pensamos, devemos crescer no amor e no relacionamento conjugal. Ao invés de piorar deveria melhorar. 

Problemas financeiros são assuntos sérios e que podem acabar com um casamento. Não apenas quando falta dinheiro, mas quando há muito dinheiro também. Pode ser um problema quando o dinheiro não é partilhado ou quando injustiças são feitas. Poucos casais conversam sincera e abertamente sobre dinheiro. Dinheiro é um assunto muito sério, mas insistimos em não tratar sobre assunto porque pode parecer materialismo demais da nossa parte. Dinheiro é um assunto espiritual também. Na Bíblia, por exemplo, vemos que o próprio Deus no Antigo Testamento e nas palavras de Jesus no Novo Testamento, trata pelo menos 2350 vezes sobre dinheiro. Jesus compara o acesso a Deus e nossa relação com o seu Reino com a relação com dinheiro. Um cônjuge pode ser avarento enquanto o outro é muito gastador. As prioridades financeiras de um podem ser diferentes das prioridades do outro. Gastos secretos podem ser feitos. A facilidade de acesso a um cartão de crédito pode ser a falência financeira, mas também conjugal.

A vida sexual não pode ser negligenciada como um fator importantíssimo do relacionamento. Muitas vezes uma boa vida sexual é um atenuante muito forte de outros problemas. Esta é uma verdade muito importante. Uma boa vida sexual é uma refrigério à vida conjugal. Mas a verdade é que os casais não tem tido uma vida sexual minimamente satisfatória. Estamos em uma sociedade muito sensualizada, senão pornográfica. A sensualidade e a lascívia fazem parte do nosso dia a dia. Nosso mundo transpira sexualidade, mas a vida conjugal mostra que isto é mais uma falácia deste mundo falso. Em parte temos em mente um padrão de satisfação sexual que é simplesmente ilusório e falso. Os padrões são inalcançáveis e irreais. O sexo virtual e o excesso de informações criam desinteresse e esfriam o imaginário do casal. O excesso de trabalho, os problemas de saúde física, problemas mentais como a ansiedade e a depressão, a priorização da carreira e de falsear sucessos nas redes sociais esfriam o ¨fervor sexual¨ – tem gente que prefere o Facebook, Whatsapp e sites pornográficos ao contato físico com o cônjuge. Muita energia é gasta correndo atrás do vento. Ainda consideramos, no fundo dos nossos corações contaminados, que o ato sexual é pecaminoso. Nosso ¨puritanismo às avessas¨ nos privam de certas liberdades sexuais dentro do casamento monogâmico e lançam muitos em um faz de conta que buscam viver fora do casamento. Tudo que dizemos aqui é muito mais comum do que se possa imaginar.

Nosso corpo já está desejoso e praticamente pronto para a vida sexual na puberdade, quando ainda temos por volta de 15 ou 16 anos, quando não antes, mas nossa mente ainda não está pronta. Os anos se passam, as pressões biológicas e sociais aumentam. Nossa mente se prepara para um casamento. Já temos mais de 20 anos de idade, mas… O ensino da igreja sobre a pureza sexual como, por exemplo, não ter relações sexuais antes do casamento, namorar apenas para casar, ter cuidado com carícias íntimas e muito contato físico, são ensinamentos não apenas razoáveis, mas bíblicos e verdadeiros, mas conflitam com a ideia de que se deve casar tarde, e esta é uma convenção contemporânea. Muitos jovens não reconhecem isto, mas parte de sua infelicidade é o adiamento de uma vida conjugal séria. Sinceramente não sei como suportam. Lutam contra a própria natureza. São vacilantes e indecisos.

Temos um déficit de homens. E quando falamos disto não estamos falando apenas no número reduzido de homens, mas estamos falando na falta de masculinidade dos indivíduos do sexo masculino. Os homens estão cada vez mais frouxos. Afeminados em suas vestimentas, delicados demais, sensíveis demais, preocupados demais com o corpo, a própria alimentação contemporânea parece cooperar para a falta de testosterona, seja no sentido biológico seja no sentido simbólico, e obrigam as mulheres a assumir muito do que seria o papel masculino. Liderar uma família, bancar as despesas de uma casa, ter iniciativa, assumir grandes responsabilidades são características muito distantes das gerações mais atuais.

Temos um déficit de mulheres prontas para a vida conjugal e para a maternidade. Aqui poderíamos perguntar quem veio primeiro: o ovo ou a galinha? Sem qualquer maldade ou trocadilho, a gente não sabe se esta falta de mulheres disponíveis ou prontas para um casamento ou para ser mãe é devido, por um lado, à emancipação feminina e a luta justa pelos direitos de serem cidadãs e terem direitos como homens, ainda que um exagero na questão deva ser considerado, ou em virtude do processo do afrouxamento da masculinidade. O fato é que as mulheres vão ficando cada vez menos disponíveis, ainda que seu número absoluto na sociedade pareça maior. Em igrejas, por exemplo, sempre temos um número maior de mulheres solteiras, em idade que poderíamos considerar razoável para o casamento e a maternidade. Não nos parece apenas um problema de descompensação numérica, mas um problema de falta de homens (no sentido da masculinidade, mais uma vez). Outra vez temos um contraste que mostra a incoerência sustentada por problemas de natureza social. Boa parte das meninas parece sonhar com uma vida feliz e que inclua um casamento bem estruturado com um homem de verdade e que possa ser também o pai de seus filhos. Sonham com um companheiro de verdade. No entanto, eles são muito raros. As pressões biológicas pela vida sexual também se impõe. O tempo passa e as coisas não se realizam, cresce a angústia e, em alguns casos, parece haver uma revolta. Mulheres têm justamente, diga-se novamente, conquistado o direito a uma vida profissional plena, mas isto pode gerar um adiamento no casamento e na maternidade. O tempo passa e…

Temos uma visão excessivamente distorcida e romântica do casamento. Sobrecarregamos nossa visão com sentimentos e esperanças falsas. As pessoas não mudam. Mudanças, quando acontecem, são muito lentas e sujeitas a muitas variáveis. Nunca me recusei a celebrar um casamento, mas já cogito a hipótese em alguns casos. Quer queiramos quer não, quando celebramos um casamento, assumimos uma responsabilidade muito grande: estamos concordando e apoiando. As pessoas antes de casar, ou não enxergam atitudes e comportamentos potencialmente fatais a um bom relacionamento ou fecham os olhos deliberadamente. Como falo a cristãos, vai aqui uma pequena lista, que não é definitiva e nem exaustiva, de coisas que já vi e sei muito bem, pela experiência, que vão bater às portas de muitos relacionamentos. Pode ser do seu. Desaconselho a continuidade de um namoro ou noivado nas situações abaixo, mas cada um que pense o que pode suportar:

  1. Seu parceiro não é crente: não vai falar sua língua, vai criar problemas para seu relacionamento com a igreja, vai gerar problemas na criação dos filhos, vai questionar suas ofertas e dízimos, não vai orar com você, não vai fazer devocionais com você, vai querer te levar a lugares que você não gosta, terá um vocabulário muitas vezes desagradável, etc. Você terá constantes problemas espirituais e será improdutivo.  
  2. Seu parceiro é mau filho e mau aluno: provavelmente não vai querer compartilhar do cuidado diário de uma casa, pagar as contas em dia, não vai parar em emprego, não vai pensar em continuar crescendo e evoluindo na vida acadêmica, profissional e familiar depois de casado, etc. Você não poderá sonhar e realizar seus sonhos. Seus planos vão se estagnar.  
  3. Seu namorado, ou namorada, não te defendem dos outros: nenhum relacionamento está isento da tentativa de interferências externas, mas há relacionamentos que facilmente se fragilizam à menor interferência. Pais ciumentos e super-protetores são muito comuns. ¨Ninguém é idôneo o suficiente para meu filhinho¨. Mesmo depois de casados isto acontece e pode ser um fator de muito desgaste no relacionamento conjugal. Logo você verá seu companheiro como um inimigo. Medirá sempre suas palavras. Encontros de família serão indesejados e quando acontecerem serão verdadeiros campos de batalha.  
  4. Seu futuro parceiro recorre financeiramente e emocionalmente aos pais constantemente: não pense que vai acabar depois de casado. Não se esqueça: quem paga as contas também dita as regras! Você estará sempre com problemas financeiros e terá que dar satisfações constantes de sua vida à quem não faz parte dela.
  5. Seu parceiro é muito focado em coisas materiais: se por um lado o desinteresse pelo crescimento material é um problema sério, por outro, o excesso de preocupação nesta área pode ser um problema. Pessoas assim tendem a querer viver uma vida acima da que podem de fato ter, gastar além do que ganham, a manter uma vida de aparência, são facilmente seduzidas por falsas ofertas e se escondem atrás de uma vida de busca por crescimento ao mesmo tempo em que estão afundadas em dívidas, compromissos não cumpridos, etc. Que você acha de trabalhar muito e nunca ter nada? 
  6. Seu parceiro já namorou gente demais e tem várias histórias mal explicadas no currículo: você pode ser apenas mais um ou mais uma. Os casos antigos sempre serão um fantasma a te perseguir. Você recusará ir a certos lugares e encontrar certas pessoas. Sempre haverá o sentimento de que não se sabe algo. Novas histórias de casos antigos vão te dar o sentimento de quem você jamais conhecerá com quem está se deitando todas as noites. 
  7. Ainda no namoro há pressões por sexo, brincadeirinhas sexuais, desrespeito às suas vontades de pureza nesta área: não vai te respeitar depois de estarem casados também. Quando isto acontece, é necessário que antes de casar haja perdão mútuo e compromisso de busca por uma vida de respeito.  
  8. Vocês brigam muito por ciúmes e por qualquer coisa: você quer um companheiro ou companheira, ou um dono ou dona? Sentimentos de possessão e o ciúme são doenças praticamente incuráveis. Quem se casa com alguém assim nunca tem liberdade e vive com uma sombra constante e escura sobre os ombros. As crises e brigas por ciúme e possessão são muito vergonhosas, desgastantes e podem ser o princípio de relacionamentos com agressões verbais, assédio moral, e mesmo de violência física. Isto acontece com crentes também. Você consegue se imaginar em uma vida que tem que cuidar constantemente das palavras, das amizades ou com quem fala? Consegue imaginar uma vida ao lado de uma pessoa de quem tem medo? Imagina uma vida de constantes visitas à delegacia, ao gabinete pastoral ou fugindo para a casa dos pais e de amigos depois de brigas? Pois é, tem gente que vive assim.

Mas a gente sempre pensa em terceiros quando falamos disto e nunca em nós mesmos, então cabe perguntar:

  1. Eu sou crente? Estou comprometido com Deus e com a igreja? Se não estou não posso enganar uma pessoa da igreja que seja comprometido com Deus ou esteja firme na igreja. Não posso afundar a vida espiritual de um bom crente.
  2. Não gosto de trabalhar e estudar? Ou eu mudo ou eu não deveria me relacionar com ninguém, principalmente se for uma pessoa séria e crente.  
  3. Estou pronto a defender quem amo ou digo amar? 
  4. Eu sei ganhar meu próprio dinheiro, pagar minhas contas em dia e não me endivido com facilidade? Se a resposta é não, você é um perigo para si mesmo, quanto mais para os outros.
  5. Só penso em ficar rico, mas não penso em trabalhar sério para chegar lá? Espero que as pessoas a sua volta saibam dizer não e não queiram pagar pelos seus sonhos em detrimento dos próprios. 
  6. Já namorei demais e realmente nunca amei ninguém? Quem garante que é agora? Não engane mais ninguém. Pessoas não são brindes e nem peças de roupa que podem ser trocadas ao se desgastarem. Pessoas são seres com valor intrínseco dado por Deus.   
  7. Sou sexualmente respeitoso? Aprendi que não é não? Tudo tem seu tempo certo. O pior de tudo é que muitos que são assim no namoro são apagados sexualmente depois de casados. Frustrante!  
  8. Sou  ciumento e possessivo? Deus livre as pessoas de você.  
  9. Este texto não é definitivo e há muitos outros aspectos a serem tratados, mas vamos ficar por aqui.

A falta de experiência, de conhecimento, a paixão do momento, as pressões sociais por casar logo ou por adiar indefinidamente, já que ainda já tanto a conquistar, as pressões físicas e biológicas por sexo (e isto é natural, comum, desejável – alegria, você é saudável!) podem cegar você quanto ao casamento. Nada justifica a infelicidade depois de casado por falta de conhecimento e reflexão anterior. 

Não é bom casar muito tarde, mas é pior fazer algo tão importante com pressa e sem critério.

As pessoas são mal estruturadas, quando não são más de índole e caráter. Cuidado com relacionamentos tóxicos, aqueles que podem te fazer mal. Tenha coragem para não se relacionar com pessoas assim, e tenha coragem de encerrar relacionamentos ruins agora.

 Se esta pessoa é você, não engane ninguém e tenha coragem de mudar.

Pastor Júnior Martins

25 de setembro de 2017

 Bem casado!

 
 
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