A SEXTA-FEIRA MAIS TRISTE DA HUMANIDADE

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Texto escrito para página e site da IBVB
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Hoje é sexta-feira e feriado no Brasil e muitos lugares do mundo. Não é um dia de comemorações porque os fatos deste dia dois milênios atrás são apavorantes sob todos os aspectos. Mas sem dúvida é um dia para nunca esquecer.
Como previ no texto anterior, a quinta-feira foi excelente. Não poderia ser melhor. Apesar da agitação de ontem, ainda tento ficar ligado àquela quinta-feira, mas hoje já é sexta. Passei a noite dormindo. E dormi muito bem, apesar de ter ido mais tarde que o habitual para a cama. Não me dei conta do que aconteceu entre às 00h00 desta sexta-feira e as 7h00 desta manhã, mas em uma madrugada distante destas toda a criação estava atenta ao que acontecia naquele pequeno pedaço do mundo.
É o dia em que Jesus foi levado à Cruz para que o homem pudesse se reconciliar com Deus. Aquele dia poderia jamais ter acontecido! Por que e para que tanta crueldade? Para que tantas mentiras? Por que ninguém o defendeu? Onde estava a multidão que o aclamara Rei no Domingo anterior? Como Ele foi capaz de suportar tantas afrontas, dor física e abandono?
No que é para nós hoje o início da madrugada, por volta de 1h30, Jesus está com seus discípulos que, a exceção de Judas, nada sabiam do que aconteceria nos próximos minutos. Duas horas antes Jesus orava intensamente se preparando para o que viria naquele dia terrível que estava apenas começando (Mateus 26-36-46, Marcos 14.32-42, Lucas 22.39-46). Com um beijo Jesus é entregue. Há um primeiro tribunal condenatório já estabelecido, com sentença escrita, naqueles corações duros, e determinada para julgar Jesus (Mateus 26.36-46, Marcos 8.32-42, Lucas 22.39-46). Não há argumentos, verdades, testemunhas e nem mesmo inconsistências da acusação que possam livrá-lo. Anás, que já não era mais o sumo sacerdote, recebe Jesus em sua casa enquanto o sumo sacerdote em atividade, Caifás, consegue reunir o Sinédrio na madrugada. Era Páscoa, na madrugada o Sinédrio não funcionava, deveriam sempre operar à luz do dia como convém a tribunais, mas mesmo assim se reúnem sem maiores sacrifícios ou demora para condenar Jesus. É apenas o primeiro julgamento.  A raiva contra Jesus é tanta que ele não é poupado nem mesmo fisicamente. Bateram no seu rosto (João 18.19-23) e Ele não tinha dito nada de errado (quem diz a verdade sempre corre o risco de ofender). Era apenas a verdade – pura e simples verdade. Covardes!
Já na casa de Caifás, Jesus passa pelo segundo julgamento onde começa a sangrar (Mateus 26.57-67, Marcos 14.53-65, Lucas 22.63.71, João 18.12-24). Já são entre 3h00 e 5h00 da manhã (Mateus 26.57, João 18.24). A zombaria começa, um circo de gestos e mentiras está armado. Gritaria, inconformidade, falatórios. As palavras de Jesus são distorcidas, mais uma vez, enquanto Ele também é acusado de ser blasfemo ao falar a verdade: Ele é Deus!
Entre 5h00 às 6h00, no começo da manhã, Jesus passa pelo terceiro julgamento, um conselho entre líderes religiosos e anciãos do povo. Sai a decisão: pedir ao governo romano para matá-lo (Mateus 27.1, Lucas, 23.1, João 18.28). Ele é levado a Pilatos.
Muito rapidamente, entre 6h00 e 7h00, Jesus passa pelo quarto julgamento diante de Pilatos, que afirma não ter encontrado nada errado (Mateus 27.11-26, Marcos 15.1-15, Lucas 23.1-25, João 18.28-19.16). O remorso de Judas o leva ao suicídio. Pilatos sabia que Jesus fora entregue por inveja. Sua esposa tentou avisá-lo daquela injustiça, sofrera por Ele em sonhos, mas a pressão do povo era maior. A injustiça se aprofunda ao escolherem Barrabás, e não Jesus, para ser solto naquele dia como era costume dos Romanos durante a festa da Páscoa. Pilatos tentou usar esta manobra, mas foi covarde e mal sucedido. A pergunta crucial de Pilatos só serviu para piorar as coisas: ¨Que farei, então, de Jesus, chamado Cristo?¨. A multidão a uma voz gritava: ¨Crucifica-o!¨. Jesus é encaminhado para Herodes, mas não antes de ser açoitado. Neste momento a tortura já está configurada e se torna cada vez mais lancinante (Mateus 27.26).
Tudo acontece a uma velocidade impressionante. Pouco mais de 30min depois, ainda são 7h00 ou 7h30min, Jesus passa pelo quinto julgamento diante de Herodes Antipas, filho de Herodes o Grande, que tinha jurisdição sobre a Galiléia. Jesus se recusa a responder a qualquer questão e é devolvido rapidamente a Pilatos. Um silêncio eloquente. Herodes esperava ver algum sinal e Jesus lhe negou até as palavras (Lucas 23.8-12). As humilhações agora são por meio das palavras de Herodes e dos que estavam ali com ele, palavras que a Bíblia não traz em detalhes. Colocam-lhe um manto cheio de aparatos: Mostra-te Rei, figura desprezível! Não dando ocasião para gracejos e zombarias, Herodes se cansou rapidamente de Jesus e o devolveu a Pilatos. Pilatos e Herodes, por causa deste mal, reconciliaram-se, como convém a ímpios quando a questão é calar a Verdade.
Jesus retorna para Pilatos por volta de 8h00 e 8h30 e passa por um sexto julgamento. Pilatos tenta repetidamente libertar Jesus, mas sem a coragem e o pulso suficiente sendo pressionado por todos. Três vezes tentou argumentar sobre a inocência de Jesus, mas quanto mais falava, mas a multidão se enfurecia. Jesus é torturado fisicamente para satisfazer os líderes judeus com o intuito de demovê-los daquela decisão tão cruel, mas eles exigem de forma crescente a sua crucificação. Pilatos cede à pressão e Jesus é condenado (Mateus 27.15-26, Marcos 15.6-15, Lucas 23.13-25, João 18.39-19-16). Justiça seja feita, é bom dizer que algumas mulheres lamentavam aquilo que viam à medida que acompanhavam aquele cortejo pré-fúnebre, o lamento por aquele que, ainda vivo, seria (fatalmente e inevitavelmente) morto. Jesus ainda profetiza, e não faz caso de si mesmo: Chorem por vocês mesmas! Chorem por seus filhos! (Lucas 23.27-32 – o único que registra este momento).
Os soldados de Pilatos pegam Jesus no tribunal – o Pretório – e se divertem com ele, torturando-o e colocando uma coroa de espinhos na sua cabeça (Mateus 27.27-31, Marcos 15.16-20, João 19.2-3). Ainda são pouco mais de 8h30 da manhã. Jesus é profundamente humilhado, mais uma vez. Aqui vale reproduzir as palavras de Mateus que mostram a dramaticidade daqueles momentos: ¨… despindo-o, o cobriram com uma capa de escarlate; e, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e em sua mão direita uma cana; e, ajoelhando diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, Rei dos judeus. E, cuspindo nele, tiraram-lhe a cana, e batiam-lhe com ela na cabeça. E, depois de o haverem escarnecido, tiraram-lhe a capa, vestiram-lhe as suas vestes e o levaram para ser crucificado¨ (Mateus 27.28-31).
Jesus, saindo dali, é forçado a carregar sua própria cruz (Mateus 27.33-44, Marcos 15-22-32, Lucas 23.32-43, João 19.17-24), ou seja, levar o objeto que o levaria a morte. Simão, o cirineu, se por privilégio ou maldição (que cada um julgue) é obrigado a carregar a cruz para Jesus (Mateus 27.32, Marcos 15.21, Lucas 23.26). A distância percorrida por Jesus é de cerca de 600 metros, mas pode parecer muito mais para alguém já bastante ferido e ciente de sua morte. Ainda antes de ser crucificado, deram-lhe vinho misturado com fel. Os Evangelistas não descrevem com detalhes a forma como Jesus foi crucificado, seus contemporâneos sabiam exatamente como acontecei, bastava afirmar: ¨… e o crucificaram…¨. Nem mesmo nós precisamos destes detalhes: Sabemos! Agora ele está entre dois ladrões e ainda tem tempo para perdoar aquele que se arrepende (Lucas 23.39-43). Tudo isto entre 9h00 e 12h00. Jesus ainda terá cerca de três horas de profunda agonia. Ele já está enfraquecido, sofrendo dores terríveis, sangrando, sentido o peso do próprio corpo, vivendo a mais profunda vergonha. As próximas três horas representam uma eternidade: ¨O castigo que nos traz a paz estava sobre Ele¨ (Isaías 53.5b). Uma escuridão tomará conta daquele lugar ao meio-dia durante três horas. O sol em seu auge não foi capaz de iluminar aquele dia.
Por volta da 15h00, ainda em treva diurna, o véu se rasga, Jesus entrega seu espírito (lágrimas!), o centurião glorifica a Deus, a multidão se arrepende, as mulheres o observam tristemente de longe – Está consumado! (Mateus 27.45-56, Marcos 15.33-42, Lucas 23.44-49, João 19.28-30). Seu lado foi furado, mas suas pernas não foram quebradas. Não era necessário mais torturar.
Ainda antes das 18h00 tudo deve ser feito de forma rápida – começaria o Sábado. José de Arimatéia pede o corpo de Jesus e ele mesmo o retira da Cruz, leva para um sepulcro que ninguém usara. As mulheres, em um último ato de cuidado e de adoração (era o que podiam conceber naquele momento), preparam aromas e bálsamos para o corpo do Mestre. São 18h00, começa o sábado. Silêncio em toda a criação.
Um dia destes deve nos fazem lembrar nossas tristezas, falhas e pecados. Estar na igreja, ter amigos cristãos e hábitos religiosos não nos fazem cristãos de verdade porque precisamos compreender o que aquele dia representa para nossa salvação.
Do mesmo modo que aquela multidão foi levada a comportamentos diametralmente opostos em apenas uma semana, podemos ser levados por ventos de doutrinas e ideias destruidoras que nos colocam fora da vontade de Deus. Podemos nos encontrar lutando contra Deus. Sermos conduzidos pela multidão e pelo pensamento fragmentado e vendido ao pecado é sempre perigoso.
O porquê e como Jesus fez tudo aquilo é importante para nossa compreensão da vida espiritual, para nosso relacionamento com Cristo. Aquele dia era o nosso dia. Aquele castigo era apenas nosso. Assim como aquela Cruz. Merecíamos tudo aquilo. Um justo morreu por mim. Recebeu sobre si todos os meus pecados.
Pouco importa ouvir verdades eternas o tempo todo se elas não tocam mais os nossos corações e nem transformam nossas vidas. É bom revisitar constantemente aquele dia e manter a nossa lamparina acesa. Haja luz!
Não nos damos conta do quanto discordamos de Deus ao agir e pensar de forma diversa à sua vontade. Negamos os fatos. Colhemos o mal que plantamos e mesmo assim nos justificamos. Não podemos perder o prazer pela verdade e por viver em santidade.  Não há acordo com as trevas e não podemos viver a vida sempre negociando entre a Verdade e a Mentira. O silêncio de Jesus diante de Herodes é eloquente – não jogou pérola aos porcos e não barateou a Verdade.
Boa parte de nós estamos reunidos em família e aproveitando muito bem este feriado. Que tal pensar apenas por alguns momentos naquele dia? Que tal um momento de oração para agradecer o livramento que aquele dia nos traz? Que tal nos comprometermos em carregar a nossa cruz a cada dia e seguir Jesus? Que tal?
A alegria humana dissociada da Palavra e da Vontade de Deus produz morte, mas a tristeza segundo a vontade de Deus opera vida. Sua Graça está plenamente sobre nós por meio de todo aquele sofrimento, mas…
Que sexta-feira triste!
Pr Júnior Martins
19.04.2019
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