PREDESTINAÇÃO – RESUMO

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PARTE I

INTRODUÇÃO

Não é de hoje que estamos empreendendo tratar deste assunto em nossa igreja dada sua importância para a fé, como também para muitos que, influenciados por outras doutrinas ou mesmo descrentes no perdão de Deus para os seus pecados, chegam a duvidar de sua própria salvação, o único tesouro que realmente temos. Aquele que podemos dizer que realmente levaremos conosco.

Antes de tudo precisamos esclarecer alguns problemas gerados quando tratamos deste assunto.

Em primeiro lugar, é um assunto bíblico, ou seja, uma doutrina (ensinamento) bíblico, presente em grande quantidade nos ensinos neotestamentários de Paulo, surgindo também nos escritos de Pedro e João, como citaremos posteriormente.  Já citei, por exemplo, um cantor muito conhecido e admirado, mesmo por mim que, em uma de suas músicas, condena os crentes que, segundo ele, “caem em predestinação”.

Em segundo lugar, o assunto da Predestinação faz parte de um assunto maior – a Eleição – sendo assunto da Soteriologia (doutrina da Salvação), na seção que trata da Ordo Salutis (ordem da salvação), quando se discute a maneira como Deus opera no Homem a Salvação cabalmente. A Ordo Salutis, ou Ordem da Salvação trata dos passos para a conclusão da Salvação do homem, a saber:

  1. Eleição (escolha das pessoas a serem salvas – é o nosso assunto aqui!),
  2. Chamado ao Evangelho (pregação da mensagem)
  3. Regeneração (novo nascimento), 
  4. Conversão (fé e arrependimento),
  5. Justificação (o direito legal de estar diante de Deus),
  6. Adoção (a filiação na família de Deus),
  7. Santificação (a conduta correta na vida),
  8. Perseverança (o permanecer cristão),
  9. Morte (partir para estar com o Senhor),
  10. Glorificação (a ressurreição do corpo).

Logo, não é um ensinamento isolado sem consequência para outros ensinamentos da Bíblia. Charles Haddson Spurgeon, grande pregador do século XIX, cita em um dos seus livretos uma questão interessante.  Ele diz que uma boa base para a vida cristã só é possível quando começamos crendo nas coisas certas. 

Em terceiro lugar, e isto é extremamente importante, uma verdade que pode parecer querer nos desabonar de responsabilidades maiores, mas, que precisamos admitir: não temos todas as respostas e, em algum ponto, tanto o Arminiamisno quanto o Calvinismo (duas posturas diferentes em relação à Eleição) acabam esbarrando sem conseguir progredir.

Em quarto lugar, a grande crise gerada quando se trata deste assunto, é sobre o conflito entre a Soberania de Deus e a Liberdade Humana, ou mesmo sobre o Livre Arbítrio, outra questão que precisa ser muito bem entendida. A pergunta áurea seria: como pode Deus predestinar alguém para ser salvo conservando sua vontade pessoal e sua volição para crer?, ou ainda, como poderia (se é que pode?) alguém decidir-se espontaneamente por Jesus sem uma intervenção de Deus, para que sua vontade seja considerada como totalmente livre? E, talvez a pergunta mais inquietante: como poderia Deus condenar alguém que não tenha tido condição de escolher o bem? (se por um lado temos a doutrina da salvação, não podemos ocultar também a ênfase bíblica na doutrina da reprovação).

Em quinto lugar, precisamos deixar claro também que quando procuramos respostas com sinceridade obviamente poderemos nos deparar com respostas que jamais esperaríamos receber. A busca pela verdade realmente é uma tarefa difícil em todos os aspectos. 

Em sexto lugar, precisamos admitir que não podemos digerir este assunto de uma vez só, porque ele possui complexidades que vão exigir muito preparo bíblico e doutrinário, bem como anos de meditação e leitura. Procurarei, desta vez, apontar as alternativas e seus problemas, citando seus defensores e gerando na mente de cada um, uma pequena “crise”, no sentido de persuadi-los a pensar intensamente e seriamente sobre o assunto. E vamos agendar mais um encontro para daqui um mês para que possamos discutir o assunto dando a todo o tempo para digerir o melhor o assunto.

Só para que tenhamos uma idéia, o Sínodo de Dort, um concílio teológico, se reuniu cerca de 154 vezes para tentar conciliar a visão arminiana com as Escrituras durante o início do século XVII. Para sermos mais precisos, no ano de 1618, logo após a morte de Jacobus Arminius. 

Passo agora a narrar brevemente o meu testemunho sobre o assunto, que não é diferente nem melhor que o de ninguém, mas para mostrar que muitas vezes pensamos no assunto desde cedo, de forma não sistematizada. Em seguida vamos conhecer um pouco sobre os homens cujas doutrinas foram batizadas com seus nomes (Calvinismo e Arminianismo).  Veremos em seguida diversos textos bíblicos atestando e elucidando (ou problematizando!) tais doutrinas. A seguir veremos suas objeções. Para terminar vamos ver algumas aplicações práticas do que estudarmos.

MEU TESTEMUNHO

Já muito cedo em minha vida cristã me deparei com a seguinte pergunta: Por que “eu aceitei Jesus”? Lembro-me que, várias vezes, minha irmã me falou d’Ele e, muitas vezes me usava (com a minha permissão!) como cobaia para as aulas que ela dava na EBD para as crianças da igreja, mas nada me tocava. Achava apenas interessante e bonito, não cogitava a hipótese de ir à igreja um dia.

Um belo domingo, após minhas seções de drogas às margens da represa, já em casa, decidi sem muito pensar ir com ela naquela tarde à igreja, e fui. Bem recebido senti-me muito bem. Sem dúvida nenhuma nos três dias que sucederam algo havia me acontecido enojei dos cigarros e das drogas. Estava estranhamente determinado a mudar de vida, coisa que tentei várias vezes antes, sem sucesso (pelo menos duradouro!).

Na quarta-feira à noite procurei minha irmã para conversar na sala de casa. Lembro-me muito bem da pergunta que fiz: “o que eu faço para ser igual a vocês?” (descobri depois que realmente não seria muito bom querer ser igual a qualquer outro ser humano aqui na terra, senão igual a Jesus!).

Não me lembro de suas palavras, mas o que sucedeu abriu meu entendimento de tal maneira que compreendi o plano de Deus para minha vida e, como se diz por aí: “aceitei Jesus”.

A empolgação da minha irmã contagiou a casa sem ninguém mais que pudesse compartilhar com ela, a não ser eu mesmo. Algo irrevogável acontecia comigo!

Cerca de um mês depois, ou mais, não me lembro, na sala de EBD me pus a pensar: “Deus sempre me quis. Eu só me converti agora porque minha vontade se encontrou, finalmente, com a dele” (cabe aqui uma observação: longe de mim, querer fazer doutrina em cima da minha própria experiência, estou apenas citando como algumas coisas começaram). Era uma resposta muito simplória, mas já era um “insightˮ sobre a minha própria eleição. Desde então o assunto me interessa.

JOÃO CALVINO E JACOBUS ARMINIUS

João Calvino (1509-1564), francês, dono de um grande acervo escriturário, incluindo comentários sobre 23 livros do AT e, de todos do N.T., menos do Apocalipse. Influenciou muito mais através pelos seus escritos, apesar de ter se dedicado também ao pastoreio. É conhecido como o Pai da doutrina e Teologia Reformada, sendo o escritor das INSTITUTAS CRISTÃS, obra já traduzida para o português.  Teve os escritos de Agostinho como base de seus estudos. Considera-se, normalmente o termo Calvinismo, como um termo arbitrário para uma doutrina bíblica.

Jacobus Arminius (1560-1609), holandês (conhecido como “holandês reservado”), não deixou uma teologia sistemática completa como Calvino, mas deixou vários escritos isolados incluindo um comentário sobre Romanos 9 combatendo a posição a respeito da predestinação incondicional do calvinismo, para ensinar uma predestinação condicional. Sua doutrina enfatiza a liberdade humana, afirmando não podermos ter garantia da salvação, uma vez que ela era, para ele, um estado (Veremos mais tarde na seção Calvinismo X Arminianismo). João Wesley foi um dos grandes pregadores de sua linha de pensamento, dirigiu duras críticas ao calvinismo, chegando a afirmar que a predestinação incondicional faria de Deus autor do pecado, uma vez que tendo seus eleitos, Ele, automaticamente, criara a condição para a reprovação.

Estes dois homens fundamentaram suas doutrinas na Bíblia, não implicando com isto um debate árido e contraproducente, mas pelo contrário enriquecedor. Quem realmente começou o debate foi Jacobus Arminius, quando elaborou os cinco pontos da doutrina do Arminianismo, levando o Calvinismo a buscar sua defesa. Na tabela a seguir descrevemos lado a lado cada um dos pontos.

Arminianismo Calvinismo Questão
1.  Depravação parcial ou vontade livre1. Depravação TotalAté que ponto a queda afetou o homem? Há alguma nobreza no homem ainda?
2. Eleição Condicional2.Eleição IncondicionalA escolha de Deus para com os salvos pode ou não estar ligada à decisão de fé do homem? Deus prevê a fé salvadora das pessoas por isso as escolhe? 
3. Expiação Universal3. Expiação LimitadaQuando Cristo morreu na cruz ele morreu por indivíduos específicos ou morreu por todos, como que lançando a salvação ao ar para quem quisesse, ou seja, por sua livre vontade?
4. Graça Resistível4. Graça IrresistívelQuando a mensagem evangélica alcança alguém pode ela resistir ao chamado ou o chamado é eficaz a ponto de não poder ser rejeitado? Em outras palavras o Espírito tem a função de atrair as pessoas e elas podem decidir por si só rejeitá-lo, frustrando o desejo de Deus em salvá-lo?
5. A Queda da Graça – Salvação é um estado5. Perseverança dos Santos – a salvação é uma condição sine qua non dos eleitos, uma questão ontológica (ser ou não ser salvo!)A salvação é um mérito exclusivo de Jesus ou cabe ao homem conquistá-la de acordo com seu esforço?  Em outras palavras, o homem só pode continuar na salvação se quiser permanecer salvo ou a salvação é irrevogável?

A resposta Calvinista para o Arminianismo é a TULIP, as cinco iniciais em inglês do exposto anteriormente como se segue:

  1. T – Total Depravity -Depravação Total (Gênesis 6: 5, Salmo 51:5, Romanos 5:12, 2Timóteo5: 25-26, Marcos 4: 11-12, 1Coríntios 4: 11-12, Efésios 2: 1).
  2. U – Unconditional Election – Eleição Incondicional (Deuteronômio 7: 7, Romanos 9: 11-13, Lucas 4:25- 7, João 15:16)
  3. L – Limited Antonement – Expiação Limitada (Isaías 55: 11, Mateus 26:28, João 6: 37, João 17:9, Romanos 4:25, Efésios 5: 25)                                    
  4. I – Irresistible Grace -Graça Irresistível (João 6: 37, João 6: 44, João 6: 45, Atos 16: 14, Romanos 8: 14, Gálatas 1: 15, 1 Pedro 2: 9, 1 Pedro 5: 10)
  5. P – Perseverance of Saints – Perseverança dos Santos (João 6: 39, João 10: 28, Romanos 5: 10, Romanos 8:1, Romanos 8: 29-31, Romanos 8: 38-39, Filipenses 1:6)

A PREDESTINAÇÃO NA BÍBLIA

A eleição é “um ato de Deus, antes da Criação, no qual ele escolhe algumas pessoas para serem salvas, não por causa de algum mérito antevisto delas, mas somente por causa de sua suprema boa vontade”.  As controvérsias a respeito da liberdade humana e a vontade de Deus são longas e extensas aqui vamos apontar o que a Bíblia ensina sobre a eleição, predestinação e escolha soberana de Deus. Vejamos os textos que mostram que Deus determinou de antemão a salvação de pessoas.

 TextosComentário
1. Isaías 45: 4Fala sobre a eleição de Israel.
2. Isaías 65: 22Fala da condição de vida dos eleitos.
3. Marcos 13: 20O próprio Jesus cita que há eleitos ou escolhidos de Deus na terra durante um período duro sobre a terra que será abreviado.
4. Atos 13: 48Destinados para a vida eterna é citado por Lucas de modo corriqueiro como se lhes fosse à época algo extremamente comum e inquestionável.
5. Romanos 8: 28-30O termo predestinar aparece juntamente com o conhecimento, chamado, justificação e glorificação, etapas indiscutíveis da salvação (a ordu salutis).
6. Romanos 9: 11-13Deus escolheu Jacó e o texto afirma que sua eleição não se deu por fator algum intrínseco a ele, mas pela vontade soberana de Deus.
7. Romanos 11:5-7Diz que a eleição os alcançou. Aqui surge a questão da divisão em dois grupos dos eleitos e dos endurecidos.
8. Romanos 11: 28 -32É interessante a relação entre os eleitos de Israel e a Igreja, mas, segundo Paulo tudo está sob o controle de Deus.
9. Efésios 1: 3-6Escolha na eternidade passada mediante a Vontade de Deus.
10. Efésios 1: 11-13Escolhidos em Cristo tendo crido após ter ouvido o “Evangelho da vossa salvação”.
11. Colossenses 3: 12Fala de eleitos de Deus.
12.  1 Tessalonicense0s 1: 4-5Paulo pede a eles que reconheçam a sua eleição. Ele afirma isto porque quando foram evangelizados eles creram, dando provas de sua eleição.
13.  2 Tessalonicenses 2: 13Deus os escolheu desde o princípio para a salvação.
14.  1 Timóteo 5: 1Não trata da eleição humana, mas, cita a escolha de anjos – anjos eleitos.
15. 2 Timóteo 1: 9Aqui ele ressalta novamente o poder exclusivo de Deus e não qualquer mérito que seja para a salvação (“antes dos tempos eternos”).
16. 1 Pedro 1: 1-3Pedro fala de “eleitos de Deus”.  Nesta saudação ele fala de presciência, mas coloca tal obra também nas mãos de Deus pelo Espírito.
17. 1 Pedro 2: 9Aqui ele fala de “raça eleita”.
18. Apocalipse 13: 7-8João fala de nomes que não foram escritos no livro da vida do Cordeiro desde a fundação do mundo.
19. Apocalipse 17: 8Fala novamente dos nomes não inscritos

Não podemos fugir também de apontar textos que mostram também a intervenção de Deus de forma contrária, ou seja, reprovando pessoas, ou “levando-as” a atitudes reprováveis, ou seja, “a decisão soberana de Deus, antes da criação, de não levar em conta algumas pessoas, decidindo em tristeza não salvá-las e puni-las por seus pecados, manifestando por meio disto a sua justiça”. Vejamos também.

TextosComentário
1. Jeremias 18:1-11Fala da vontade soberana de Deus para com os seus e mesmo com relação a outras nações para fazer o mal e o bem.
2. Ezequiel 33:10 -20Este texto fala da tristeza de Deus com o pecador que se perde a incapacidade da justiça própria em salvar.
3. Mateus 11:25-26Jesus declara que Deus ocultou algumas coisas de sábios e entendidos exatamente em um contexto onde fala de arrependimento, salvação e condenação.
4. João 3:18-19Fala sobre a condenação e a incapacidade humana de crer e praticar o bem.
5. João 5:36-40Fala de seres humanos que não quererem ir a Jesus para terem vida. Preste atenção ao detalhe de que eles estudam as Escrituras e por que não veem? Veja Jeremias 5:21, Ezequiel 12:2, Marcos 8: 18, Romanos 11:8, Efésios 1: 18.
6. Romanos 9:1-4Paulo deixa claro que a salvação vem dos judeus como Jesus disse à mulher Samaritana e mesmo assim serão condenados.
7. Romanos 9:15-16Deus se compadece de quem quer e endurece a quem quer.
8. Romanos 9:17-23Paulo fala de vasos preparados para a perdição. Ele salienta também que Deus tem como propósito demonstrar o seu poder nos que se perdem e sua misericórdia nos que se salvam.
9. Romanos 11:7Fala dos que foram endurecidos em contraposição aos eleitos.
10. 1 Pedro 2:8Fala de pessoas postas para tropeço e desobediência.
11. Judas 4Pessoas já desde muito condenados.

No nosso próximo encontro vamos começar a ver as dificuldades com detalhes e ver até onde podemos ir em nossas conclusões e quais dificuldades continuam intransponíveis. Falaremos sobre a importância de pregar, etc. 

PASTOR JOSÉ MARTINS JÚNIOR

ABRIL DE 2007

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