Igreja dos sonhos e igreja da realidade
¨… e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la.¨
Mateus 16: 18b – NVI
Crentes sinceros sonham com uma igreja perfeita. No entanto, o ideal de perfeição de cada um é bem diferente. Desde a organização da igreja por Cristo e seus apóstolos, vemos claramente a luta por este ideal de perfeição da igreja. E esta ingerência, querer colocar seus ideais como referência do que é bom ou ruim para a igreja, tem sido a fonte de muitas dificuldades.
Começamos com o debate judaizante, já que havia dificuldade de interpretar em Cristo toda a Lei de Moisés, e insistiu-se em preservar a aparência externa da Lei e ritos mosaicos, ainda que nem todos fossem de fato ritos mosaicos. Tivemos a dificuldade com a grande helenização da igreja, já que o Evangelho, como devia ser, espalhou-se, e a pergunta agora era: como nos mantermos incontaminados das influências pagãs? E agora a coisa era séria porque a própria divindade de Cristo era questionada. Caminhamos mais um pouco e agora o Rei era cristão. Seria a solução? As respostas são controversas. A igreja ganhou pompa, poder, mas com isto, ficou ainda mais rodeada de crentes duvidosos, afinal de contas, as vantagens em abraçar a nova fé eram intermináveis. Obscuridade e um abismo ainda maior entre o clero e o povo era o próximo passo. E este foi um passo muito longo, tempo muito demorado. Alguém costurou o véu que foi rasgado, mas nem todos estavam do lado de cá, ficaram do lado lá: do lado de Deus – senão fora pretensiosamente no lugar de Deus! Mas a luz raiou, ainda que por acidente e peça do destino para os homens, um ato de Deus! A terra está em seu lugar e o céu também, e melhor ainda, Sua Palavra de novo nas mãos do povo. Desta liberdade não só a igreja evoluiu, mas com ela todo o mundo. Mas talvez o mundo tenha ido longe demais! Agora é ele que lança dúvidas sobre nossas verdades, e há quem do lado de cá que ceda à tentação, e entre neste diálogo perigoso que destruiu a fé de muitos sem que precisassem abandonar a igreja nem mesmos a cadeiras daqueles que ensinam. A resposta a isto foi tão dura que pendeu demais para o lado de lá, fazendo com que uma rigidez impensada tomasse a vida de muitos. Que se endureça sem perder a ternura. Irrompe o nosso tempo, e depois de tantos mandos e desmandos, que cada um siga sua vida e viva conforme ¨o que lhe der na cabeça¨. Já não sei quando foi mais difícil para a igreja.
Não pela Lei, não pela cultura, não pelo poder, não pelo clero, não pela ciência, não pela liberdade, não pelo rigor, não pela minha sinceridade e sentimento, mas por Cristo, e sempre por Cristo. Foram muitos os momentos iluminados neste longo tempo também, tempos de Cristo e seu exemplo, tempos de sua Palavra, tempos dos quais não temos muitas notícias de nomes, mas de um povo, um só povo. As coisas se tornavam sadiamente incontroláveis porque o Espírito fazia sua obra, a Palavra não voltava vazia, e Cristo jamais era esquecido. Tempos em que não há ideias próprias, tempos em que buscar a verdade e submeter-se a ela a todo custo e sacrifício era o mais importante.
Em data tão importante como esta, 48 anos de organização, e com certeza de lutas, erros e acertos, seja hora da igreja também analisar tempos de luz e trevas que viveu. Mas não é hora mais de planos e projetos que sejam humanos, que sejam terrenos, é hora de Cristo governar a igreja, tomar as rédeas e assumir seu controle. A tarefa da igreja é urgente, não pode ser negligenciada, a igreja não pode patinar em questões de menor importância e esquecer sua vocação de prevalecer contra o inferno, seja evangelizando, seja se levantando contra esta sociedade corrupta, seja estendendo a mão aos necessitados, seja disciplinando seus filhos, seja sofrendo a dura tarefa de ser fiel até a morte.
Parabéns? Sim. Parabéns! Afinal de contas, é mais um ano de vida. Mas que seja breve esta comemoração porque há muito trabalho pela frente.
Deus nos abençoe.
Pr. Junior Martins
Março de 2015
Igreja Batista em Vila das Belezas
