E AS NOSSAS CRIANÇAS? E A NOSSA IGREJA? E O FUTURO? – DEUTERONÔMIO 6.7

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“Estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração. Tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, Andando pelo caminho, deitando-te e levantando-te. Também As atará na tua mão por sinal, e te serão por faixa entre os olhos.”

Mas do que nunca começo a olhar para meu filho como uma continuação de mim. Não desejo, é óbvio, que ele seja exatamente igual ao que sou – longe de mim tal pensamento! Quero que seja muito melhor e muito mais feliz. Eu me lembro claramente de que meu pai muitas vezes me disse: “trabalho porque quero que você vá muito mais longe do eu fui, não quero que você passe pelas mesmas dificuldades que eu”. Creio que a vontade dele tem se cumprido.

Temos, com certeza, negligenciado a tarefa de preparar o futuro. Não só o futuro de nossas famílias, mas mesmo da Igreja e do Evangelho. Não temos ensinado nossos filhos a gostarem de estar na igreja porque a temos tornado um lugar desagradável pela nossa forma de olhar para ela. Dizemos sem palavras que a Igreja não vale a pena. Outros valores, até mais fundamentais que este, são também pouco difundidos, ou desvalorizados do mesmo modo por nós: o valor da família, o valor do trabalho, o valor da educação, o valor de Cristo. A continuar como vai poucos de nossos filhos serão missionários, pastores, evangelistas, pessoas de famílias íntegras, bons pais ou boas mães, educadores cristãos, pregadores, crentes cheios da graça de Deus, amantes da Bíblia (hoje em dia pouca gente ainda vibra quando lê a Bíblia!). Temos que nos ater a algumas verdades simples e importantes.

Primeiramente somos frutos da semeadura de alguém: de nossos pais, de nossas igrejas, de nossos pastores… Em cada criança de nosso contato temos também a oportunidade, para não dizer responsabilidade, de semear algo. É mais fácil avaliarmos o quanto algo é difícil e impossível de se fazer, ou mesmo atribuirmos aos outros os empecilhos para que algo se concretize. As crianças têm um potencial a ser explorado enquanto ainda são crianças. No PEJI* vemos isto. Elas têm muitas dificuldades e problemas, não porque tenham nascido deste jeito. São desafortunadas no sentido de que não estão sendo estimuladas corretamente, não tem recebido a atenção devida, não tem recebido amor… Há alguns cultos atrás em uma quarta-feira falávamos sobre “Maldição Hereditária” (Doutrina que rejeito plenamente baseado em uma promessa feita ao Profeta Jeremias pelo próprio Deus, promessa de que cada um, individualmente, pagaria pelos seus erros e pecados, não imputando consequências aos descendentes – Veja em Jeremias 31: 29, 30, fora tantos outros textos tanto do Antigo quando do Novo Testamento, cada um paga pelo seu erro e, se for perdoado por Cristo, nem isto!) Temos que entender que Deus nos chamou para mudar nossa realidade e o ciclo de vida que vivemos, muitas vezes péssimo, de nossa vida familiar.  Já questionei alguns perguntando: Quem vem de uma família de alcoólatras? Quem vem de uma família de pais divorciados? Quem vem de um mundo de vícios? Quem vem das drogas? Quem vem da bruxaria? Quem vem das mais variadas doenças da alma e do espírito? Quem vem de uma família de viciados em jogos? Pois bem, é hora de quebrarmos esta cadeia “desgraçada” na qual nossa geração passada e mesmo a nossa tem vivido. E como? Cuidando dentro da vontade de Deus de nossos filhos e crianças da igreja.

A segunda coisa é o exemplo. Isto porque para mim “o exemplo é o melhor professor”. As crianças, antes de meditar no que fazem, porque isto farão apenas muito mais tarde, acostumam-se ao fato de ter como verdade aquilo que vivem no dia-a-dia. Sobretudo aquilo que veem seus responsáveis fazendo. Em casa, por exemplo, a Vera acostumou, quando ainda pequeno, fazer o Cris dormir dando pequenos tapinhas nas costas dele. E, obviamente, durante muito tempo era a única maneira que ele tinha ou aceitava para “pegar no sono”. Hoje ele não pede mais isto, no entanto, de vez em quando se lembra. É um exemplo muito simples de algo quase sem importância para ilustrar. É muito normal que na adolescência os problemas se acumulem e até tenhamos a ideia de que o trabalho tenha sido em vão. Aí entra a Bíblia novamente que nos afirma que quando se “ensina a criança no caminho que deve andar, até quando envelhece não se esquece dele”. Fica a nós claramente o mandamento de ser o exemplo para nossos filhos e crianças.

Champlim, em seu comentário sobre a Campanha do Armagedon, fala que nos últimos tempos as coisas serão terríveis. Ele imagina que o tempo do fim ocorrerá ainda em nossa geração ou, mais tardar, na geração de nossos filhos. Ele chega à seguinte conclusão: “Nossos filhos certamente passarão por ela (a Grande Tribulação que é concluída pela Batalha do Armagedon). Terão de ser crentes melhores do que somos, se quiserem resistir incólumes, espiritualmente falando, àqueles dias tão horrendos. Nossa tarefa é prepará-los para isso.” Às vezes nos comportamos como se as crianças fossem capacitadas a enfrentar as dificuldades com hombridade apenas pelo ato de respirar o ar (poluído, diga-se de passagem!) da nossa cidade. Ledo engano. Tenho certeza que os conflitos morais e espirituais que vivo hoje são mais intensos do que os que passaram meus avôs e até meus pais. O mundo tem se tornado mais exigente e até mais difícil para qualquer um, mesmo um crente, ou, diria melhor: mais ainda para um crente. Se a gente não entender, agora, que o mundo que nossos filhos e nossas crianças vão viver vai ser muito mais complicado que hoje, temo pelos problemas que eles enfrentarão, e as diversas crises pessoais que terão diariamente. Devemos enxergar isto e preparar nossos filhos para encarar situações bem mais complicadas que nós.

Em último lugar, devemos também atentar que as crianças já nos dão perfeitamente as “dicas” de como serão no futuro. Há poucos dias um menino do bairro após o culto de domingo se escondeu na igreja, para que, após a saída de todos, pudesse pegar algo que queria. Não fosse um amigo dele esperando na porta para “colher os frutos do trabalho” eu não teria notado. Julgou que poderia entrar na cantina e pegar um pastel, digamos assim: “de graça”. Talvez você questione: ele fez isto porque ninguém deu um pastel para ele (talvez ponha a culpa até no Pastor por isso). A verdade é que ele havia comido sim, estou certo disto. Ele não ficou privado de participar do que os outros participaram. Mas a julgar pela sua natureza e procedimento comum no dia-a-dia, na sua forma de tratar conosco, este menino me preocupa*. Você já reparou (sem querer ser muito dramático – apenas realista!), que algumas crianças ao nosso redor já tem instintos aguçadíssimos para rebeldia, baixa estima, isolamento, suicídio, indiferença, para o roubo, para o adultério, para a fornicação, para a lascívia, e todo o tipo de infortúnio que pudermos alistar (as professores e ajudantes do PEJI, as professoras do berçário e da EBD que o digam!). Então, diante disto, temos também uma tarefa para hoje, para agora…

Olhamos apenas o hoje e o agora enquanto o futuro implacavelmente vai chegando. Dia 12 é o dia das crianças. Vamos fazer para elas uma pequena festa na igreja, ensinando um pouco da Palavra de Deus e orando por e com elas. Gostaria de sua participação, mas entendendo que mais importante é o que podemos e devemos fazer no dia a dia para ajudar, não somente a elas, mas o mundo em que vivemos.

Deus nos abençoe em tão árdua tarefa.

Pastor José Martins Júnior

Outubro de 2005

* . PEJI – Programa Educativo Jardim Iporã, uma vertente dos PEPEs promovidos pela ABIAH (Associação Batista de Incentivo e Apoio ao Homem), que alfabetizou uma média de 60 crianças por ano entre os anos de 2002 e 2012. Meu filho foi alfabetizado no PEJI.

* . Passados 8 anos que escrevi este texto minhas suspeitas infelizmente se confirmaram. Daquele geração pouco estão na igreja, alguns já amargam uma vida na drogas, prisões, paternidade e maternidade precoce, entre outros. A igreja fez sua parte e tem feito.

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1 comentário
  1. Sim, o exemplo e a forma em que se vive soam muito mais alto do que a própria fala de um pai. Muitas vezes as atitudes acabam abafando o som de sua própria voz.
    A omissão, o silêncio e o abandono dos pais em relação aos filhos são fatores determinantes em suas vidas. O que é triste.
    Acredito que provocar a ira de um filho seja a falta de correção, falta de amor, de proteção, de limite e tantos outros aspectos que permeiam a vida de um indivíduo.

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