ACONSELHAMENTO CRISTÃO – ERIC L. JOHNSON

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JOHNSON, Eric. Aconselhamento Cristão: Os recursos terapêuticos da fé cristã para o cuidado da alma. São Paulo: Vida Nova, 2021. 847 p.

PRIMEIRA PARTE

O programa doxológico-terapêutico da Trindade

Capítulo 1 – A órbita da alma humana

  1. O mal do homem está no nível psicológico do pecado que gera o egoísmo, uma forma de idolatria. A própria psicologia moderna reforça a individualidade e aprofunda a crise humana.
  2. A solução para o bem-estar humano é a glória de Deus. Ambos estão umbilicalmente ligados.
  3. O homem precisa de ordem biológica, psicossocial, ética e espiritual.
  4. Algumas implicações terapêuticas são: Deus deve ser o centro da vida do homem, o homem deve deixar de ser o centro de si mesmo, buscar uma hierarquia teocêntrica, florescer dando frutos.

Capítulo 2 – As missões gloriosas da Trindade 

  1. A Trindade é um mistério inesgotável em compreensão por causa da própria natureza divina. Entretanto, o que se pode conhecer e deduzir dela é uma fonte de saber e vida que a natureza humana perdeu no pecado e pode resgatar em Cristo.
  2. A Trindade é perfeita em comunhão, igualdade e solidariedade. Mesmo assim, a economia divina permite que sejam diferentes e que sirvam uns aos outros como, por exemplo, o Pai aponta o filho como modelo de vida e o Espírito é quem opera no ser humano a fé no Filho de Deus. Na Criação a Trindade é o modelo e padrão do que é o ser humano.
  3. As implicações terapêuticas apontam a necessidade de fugir do egocentrismo buscando a plena comunhão, reconhecer que relacionamentos podem curar, que estes relacionamentos devem ser intersubjetivos, ou seja, numa espécie de simbiose relacional e funcional de amor e serviço, o que não anula a força da individualidade, mas que se inclina com toda a sua potencialidade para o bem do todo.

Capítulo 3 – A Palavra do Filho

  1. A psicologia em seus últimos 30 anos, e são 125 de existência, tem visto a necessidade de ter um padrão de maturidade no qual se basear. Basicamente, há duas linhas mais gerais: uma na qual a maturidade de expressão pelas relações que se desenvolvem e outra que se expressa pela independência.
  2. O modelo de maturidade cristã é Cristo: sua vida e suas palavras.
  3. O conceito de imagem e semelhança pode ser expresso pelo tripé: dinâmico-estrutural (mente, sentimentos, inteligência, razão), relacional e funcional (produzir, ser frutífero).
  4. A maturidade cristã é uma busca voluntária pela beleza e santidade da Imago Dei.
  5.  Esta imagem do filho seria a Imago Christi. Acredito que poderíamos tratar de uma Imago Spiritus na qual agem aqueles nascidos de Deus, ou regenerados.
  6. Cristo é a Palavra e o relacionamento com ele é terapêutico. Nenhuma terapia pode separar o bem-estar do relacionamento com Cristo. Neste processo o ser humano conhece as próprias fragilidades e como pode ser perdoado e melhorar.

Capítulo 4 – O Dom do Espírito

  1. Com o naturalismo que influencia a psicologia, há a tendência de julgar que o ser humano é autodeterminação
  2. A correlação entre o mundo interno e externo ainda é motivo de controvérsia e há quem pense que o ser humano não determina nenhuma de suas ações
  3. A própria existência da psicologia, entretanto, atesta que o ser humano precisa de ajuda externas para efetuar mudanças
  4. A proposta bíblica mostra que há uma relação complexa e misteriosa entre o homem e Deus pela Imago Dei. Sem descartar a iniciativa e a vontade humana, a Imagem de Deus não se estabelece sem uma ação direta dele por meio do seu Espírito
  5. O Espírito Santo é fundamental no processo de redenção humana como também foi na Criação e no ministério de Cristo. Convencendo o homem do mal, o permite guardar e obedecer às palavras de Cristo
  6. A presença do Espírito no crente é garantia de poder, verdade, amor, unidade/harmonia, diversidade/ruptura
  7. O aconselhamento cristão pressupõe a presença imutável divina na relação terapêutica entre duas pessoas
  8. Cristo é a meta e o padrão do aconselhamento cristão
  9. Ao contrário da terapia secular, a oração pode ser fundamental no processo de aconselhamento e deve ser bem utilizada
  10. Ambos os envolvidos no processo de aconselhamento devem ter ciência da presença do Espírito Santo
  11. O aconselhado deve ser desafiado a agir com a ajuda do Espírito Santo em tarefas especificadas
  12. O controle primário diz respeito às ações externas e pessoas. O controle secundário às mudanças internas do aconselhado
  13. A ação dipolar diz respeito a receber poder de Deus e agir
  14. O resultado desejado é a liberdade de amar e de buscar a Deus e o que diz respeito ao seu Reino
  15. A igreja, através da comunhão, tem papel importante neste processo terapêutico

Capítulo 5 – Histórias de glória

  1. A Bíblia fornece uma metanarrativa que podemos chamar de teodrama (Von Bathasar)
  2. A psicologia cresceu com o evolucionismo que ajudou na difícil tarefa de comparar homens e animais, mas chegando a conclusões questionáveis
  3. O evolucionismo também se constitui numa metanarrativa
  4. O teodrama pode ser resumido através da criação, queda, redenção e consumação
  5. Cada uma das fases pode ser mais ou menos bem identificada e dá conta de explicar quem é o homem e por que se encontra como tal
  6. Além disto, eles estão intimamente ligados através de um ciclo de cuidados dentro de um plano divino que inclui a redenção do homem
  7. A vida de Cristo é o ápice da humanidade por vários motivos: é o ser humano perfeito e o padrão para todos os Homens, sua vida mostrou a amor de Deus e como ele reverte os efeitos do pecado quando Cristo os pagou na Cruz, mostra a necessidade e o poder do perdão divino
  8. A transformação do crente em uma imagem de Cristo acontece dialogicamente. Ou seja, responsivamente, em obediência, em alegria, testemunho.
  9. Crentes precisam ter clara consciência da sua relação com Cristo, suas vidas devem ser uma reinterpretação (no sentido de repetição, ou reencenação) da vida de Cristo, ampliando o entendimento do teodrama, compreendendo a vida cristã como uma migração da cidade dos homens para a cidade de Deus.

SEGUNDA PARTE

A bondade de Deus e a criação da humanidade

Capítulo 6 – A beleza de Deus e o florescimento humano

  1. Conhecer a Deus e a nós mesmos é a essência da doutrina cristã, mas isto é um desafio particular porque somos influenciados pelo pecado
  2. A beleza de Deus é única e singular e representa muito mais do que algo meramente estético porque o revela em sua plenitude. Anselmo de Cantuária e Jonathan Edwards falaram disto e propuseram, como surge nos Salmos, que o homem aprende a contemplar a beleza divina ser refletida no próprio ser-humano
  3. Quatro coisas impedem esta realização: o pecado, nossa incapacidade de perceber esta beleza na criação, a forma como fomos educados e um excessivo subjetivismo na compreensão divina. Neste último caso há o que se chama conceito-Deus, uma ideia formada pela religiosidade, que se contrapõe à imagem-Deus, como a percepção consciente ou não de Deus
  4. A beleza é conhecida pelo amor porque ele nos molda segundo o objeto do nosso amor
  5. A beleza é conhecida por sua soberania em que se reconhece sua presença e cuidado em tudo. Se isto não for bem ensinado, pessoas mais fracas podem se aterrorizar com isto. Uma pessoa que seja excessivamente confiante também pode ser um problema.
  6. Compreender a justiça de Deus também é fundamental. É fato que lidar com a justiça retributiva de Deus pode ser traumático para que nunca soube lidar com amor e misericórdia ou que teve péssimas experiências com a ira humana. Entretanto, o exercício de compreender que Deus não nos pune segundo os nossos pecados, que é longânimo e pronto a perdoar é essencial. Não esquecendo nunca que a graça de Deus não é uma autorização para pecar indefinidamente, mas um caminho para a santificação.
  7. O amor é uma palavra cujos significados podem contrariar o que as Escrituras dizem. Deus é caracterizado pelo amor, mas não aceita os pecadores entregues ao pecado. Antes quer transformá-los como produto do seu amor. O amor transborda em perdão, generosidade, graça e misericórdia. A psicoterapia comum contempla o amor entre os homens, mas este é limitado quando comparado ao poder do amor de Deus. A compreensão deste amor é fundamental para a alma humana (um homem sadio é aquele capaz de amar e trabalhar).
  8. Quanto mais tempo gastamos com Cristo, mais as suas virtudes de amor e justiça nos invadem. Isto também ajuda muitos a ajustarem ideias de vida e perfeição irreais e que só causam desvios e frustrações. Por outro lado, confiando em sua justiça e amor aprendemos a descansar nele e aliviar nossa alma.
  9. Implicações terapêuticas: 1. Deve haver uma busca pela transcendência acima de uma mera contemplação da natureza, mas em adoração ao Criador. A adoração tem um papel terapêutico importante porque tira o foco de nós mesmos e nos aproxima de Deus e de sua essência. Como há beleza e verdade em tudo que vem dele, aprendemos a contemplar e nos extasiar e isto muda nosso interior. A busca da imagem-Deus é importante porque transferimos nosso entendimento de nossos relacionamentos terrenos para o próprio Deus através de compensações, afastamentos, bloqueios, etc. Transferimos esta complexidade inadvertidamente para um relacionamento que pode ser simples e direto. 2. Aproximar da beleza de Deus é fundamental porque nossa alma distorce a percepção do que é bom e belo. Isto é a origem da idolatria e da estética estranha que o homem adota em muitos contextos. O pecado é um enfeiamento da vida. Pessoas que sofrem abuso, pessoas religiosas presas ao tradicionalismo, formalismo, legalismo e fundamentalismo, costumam ter uma visão estética distorcida da vida. A vida em Cristo é bela. Estas mudanças no aconselhados são internas e inclusive biológicas, mas acontecem de forma gradual e lenta. 3. Deve haver uma correção no pensamento de que Deus é um inimigo, uma espécie de contratransferência negativa, mas o conselheiro deve começar isto através de outros relacionamentos. Esta manifestação dos nossos relacionamentos humanos na relação com Deus é chamada de “equivalência psíquica”. 3. Reais, os personagens bíblicos podem ser considerados arquétipos da nossa relação com Deus. Satanás, ou o diabo, é um ser real, mas que também representa a força condenatória mental que todo ser humano carrega porque ele foi o gerador da dúvida que levou o homem a cair. É comum que crentes consideram que haja conflitos na natureza divina porque ele é amoroso e justo, mas o desafio de compreender isto integralmente faz parte do processo terapêutico. O problema não está em Deus, mas no mau funcionamento da nossa percepção d´Ele. 4. Nossa visão de Deus deve ser embelezada. A oração e a meditação são fundamentais neste processo porque a luta começa no interior. Deus precisa ser compreendido como um companheiro constante da vida de todo crente. O conselheiro tem um papel importante nesta mudança.

Cap. 7 – Do jeito que deve ser

  1. Não se pode concentrar a ajuda e ensino do homem apenas no combate ao pecado. É necessário incluir o ensino sobre como fomos criados e para que fomos criados.
  2. O homem foi criado para dominar e exercer sua criatividade com a Criação. Isto é o que o leva a glorificar a Deus.
  3. O autor vê uma relação entre a Trindade e a estrutura familiar: pai, mãe e filhos.
  4. Originalmente fomos criados para bons e para as coisas boas.
  5. Na estrutura da criação estão princípios que nos guiam e deveriam influenciar na nossa formação. O reconhecimento de que o mundo criado possui regras e normas estabelecidas, que fomos criados para ter comunhão com o Deus Triúno, com sexos e gêneros definidos, prontos para viver em família onde aprendemos a ser quem somos através da admiração, introjeção e identificação.
  6. A constituição do homem em uma parte material e outra imaterial também configuram sua finalidade e suas formas de relacionamento e percepção do mundo. Uma parte é chamada de mental e tem a ver com tudo que o cerca no sentido material inclusive. A parte carditiva, do coração, está no campo das ideias e sentimentos para que o homem se reconheça e se conecte ao mundo. Ou seja, temos também uma relação de interdependência com o mundo externo.
  7. Na maneira como fomos criados, Deus nos capacitou para uma busca constante para o bom e o belo (o autor não aborda isso diretamente). Outras ciências se debatem para discutir de onde nasce esta predisposição para a busca por excelência e como o pecado colocou esta instância sob ataques que geram todos os tipos de maus relacionamentos, doenças, etc.
  8. Não é possível felicidade e satisfação plena no mundo por causa do pecado, mas é possível que o muito bom criado por Deus seja apenas um estágio anterior à realidade de pura perfeição que teremos em Novos e Nova Terra. No mundo é possível chegar, no máximo, ao que o autor chamou de emoções “levemente positivas”.
  9. Fomos criados para ter uma vida que cresce em percepção do mundo e de nós mesmo numa vida que cada vez mais glorifica a Deus, ou ainda, para participar cada vez mais do bem divino.
  10. O amor-próprio e nosso altruísmo devem ser contrabalançados neste processo evitando o narcisismo e o abandono de si mesmo.
  11. O terapeuta cristão deve ter consciência da dialética existencial criação-pecaminosidade que domina a vida do homem.
  12. No processo terapêutico deve-se aplicar o princípio trialógico: celebrar os dons de Deus à medida que nos deleitamos nele conforme se manifestem nos outros (p. 271).
  13. Neste sentido o homem deve ser direcionado a ter uma imagem amorosa de Deus, a ser grato por tudo que tem, vendo a bondade de Deus mesmo num mundo caído, ver-se como um ser único criado por Deus, tendo consciência da sua finitude, meditando sobre a criação e reconhecendo que a bondade de Deus é contínua na vida de todos.

TERCEIRA PARTE

O diagnóstico divino

  1. O pecado original e as psicopatologias identificadas pelas várias frentes do conhecimento naturalista conflitam em certos momentos.
  2. Uma unificação destes saberes sob o conhecimento divino parece mais adequado.

Cap. 8 – Pecado e psicopatologia

  1. O impedimento para a realização humana da vida tem três pilares: pecado, sofrimento e danos biopsicossociais.
  2. Há um sentimento generalizado de que há algo errado com o ser humano e muitas respostas já foram dadas pelas religiões e pelos cientistas.
  3. A matriz do pensamento contemporâneo é naturalista e isto afasta a ideia de que o ser humano está contaminado pelo pecado e se pensa que as barreiras são apenas externas e fruto de uma falta de evolução humana. Minimiza-se a vergonha e a culpa alegando que são apenas sentimentos religiosos limitadores e falsos.
  4. Uma compreensão mais holística do homem, que considere a Bíblia, é necessária e viável.
  5. O pecado é um estranho parasita que não faz parte da constituição original do homem. Ele se manifesta, em primeiro lugar, como um problema relacional de distanciamento e oposição a Deus. É uma solidão voluntária. Nem mesmo o homem religioso está livre disso porque pode se esconder atrás de uma falsa religiosidade.
  6. A compreensão do ato que gerou a Queda põe em perspectiva temas importantes da abordagem do conselheiro. Satanás induzindo ao erro, o homem egoisticamente aceitando a sugestão gerando contra si mesmo defesas e causando dissociações relacionais com Deus e seus semelhantes.
  7. Uma das dimensões do pecado é o que aflige o homem internamente o colocando diante de conflitos internos insolúveis, em conflito em sua vivência, dominado pelo mesmo pecado e vendo a Imago Dei sendo destruída por se opor a Deus. Este é o pecado implícito.
  8. O pecado se manifesta em quatro dimensões. A primeira é o pecado original que instalou na humanidade sua condição de quem nasce propenso ao castigo e à desordem. Num segundo aspecto se manifesta através de desejos, atitudes e resoluções pecaminosas que condicionam o homem a toda sorte de desventuras e destruições por lhe ser um impulso intrínseco, ou seja, sem ajuda externa o homem peca. Este é o desejo pecaminoso tentador citado por Tiago 1.14-15. A terceira está no campo da atividade pecaminosa em si. O pecado ativo é o processo de destruição do homem e do mundo ao seu redor. Finalmente ele também se manifesta através dos vícios que são os pecados praticados de forma contundente, repetitiva e irrefreável.
  9. Devemos evitar qualquer dicotomia entre corpo e alma no qual o corpo seja visto como algo ruim por si só. Mesmo assim, a palavra carne é usada na Bíblia para expressar nossa natureza pecaminosa, mas significando sempre o homem como um todo.
  10. A ideia da depravação total não faz juz a realidade porque há algo de intrinsecamente bom nos seres humanos ou, ainda, o sentimento de que não somos tão ruins quanto poderíamos ser. Isto vem, principalmente, do fato de que o próprio Deus não privou a humanidade totalmente da sua bondade. Cristo é o exemplo e o motivo mais evidente desta realidade. Nossa vida é um gritante contraste com sua perfeição e santidade ao mesmo tempo em que ele viabiliza pelo seu poder estas virtudes em nós.
  11. Se por um lado é difícil encontrar uma resposta adequada para o motivo pelo qual o pecado e o mal existem, por outro lado devemos lembrar que em Cristo somos convocados e nos livra do primeiro e sermos protegidos do segundo.
  12. Por que abordar o ser humano sob a perspectiva do pecado é vital? 1. Porque ele remove o bem-estar para o qual fomos criados. 2. Porque combatê-lo nos aproxima de Deus. 3. Porque sem ele as demais doenças são relativizadas inadequadamente. 4. Conhecer o pecado aumenta nossa autoconsciência. 5. Nos tornar agentes pessoais da nossa própria mudança. 6. Removem a culpa dos outros sobre nossos problemas. 7. Remove a autoilusão religiosa. 8. Nos coloca em condições de realmente lidar com a vergonha e a culpa. 9. Promove uma tristeza que gera sabedoria e soluções reais. 10. Reduz a ação e consequências dos pecados ativos. 11. Fornece elementos para a compreensão das psicopatologias. 12. Tratá-lo tem consequências eternas.

Cap. 9 – Sofrimento e psicopatologia

  1. O sofrimento é um aspecto da psicopatologia vivido e interpretado de modo consciente de acordo com as estruturas de cada um. Tem origem em diversos momentos da vida e está ligado a fatos e interpretação dos fatos.
  2. Se pode falar do próprio Deus como sujeito ao sofrimento, mas não como os seres humanos. Nele está a perfeição dos sentimentos e das emoções, mas também a sensibilidade para o que acontece com as criaturas que criou. Portanto, ele se ira, entristece, etc.
  3. O texto de Gênesis 6.5-6 que traduz como Deus se arrependeu revela muito mais a sua tristeza do que um arrependimento que o levaria a desistir de tudo já que não desistiu. Preservou uma família e seguiu com seus planos, vindo a entristecer-se muitas vezes novamente.
  4. Ele mostrou sua tristeza com a idolatria e obstinação de Israel.
  5. Da mesma forma, Deus demonstra sentimentos outros de forma positiva em relação ao homem. Ele é empático com o sofrimento humano. Ele desceu após a agonia dos hebreus no Egito. Em Cristo é revelado como um homem de Dores, ou o Servo Sofredor. A agonia da Cruz revela o ponto mais alto desta empatia divina que o aproxima dos homens.
  6. Isto revela um aspecto importante para quem questiona por que Deus criou um mundo em que as pessoas sofrem. Na verdade, Ele criou um mundo perfeito que optou pelo pecado que traz sofrimento, mas decidiu participar da saga do sofrimento humano providenciando a redenção deste mesmo mundo caído. Deus não é impassivo.
  7. O sofrimento humano também pode figurar no campo do mistério no sentido da sua compreensão e explicação. É o caso de Jó, de citações de Salomão em Eclesiastes, etc. Maior que o sofrimento é o pecado porque este nos separa de Deus. O sofrimento pode nos aproximar.
  8. No meio do sofrimento somos ensinados pelas Escrituras a lamentar e significar nosso sofrimento esperando florescer a partir dele.
  9. O sofrimento por causa do pecado é diferente porque nele a causa também deve ser resolvida por meio do arrependimento.
  10. Em Cristo, somos encorajados a participar dos seus sofrimentos porque por eles nos unimos a Ele.
  11. O sofrimento faz parte da vida de muitos irmãos do passado. Suas biografias podem ser muito úteis para aprendermos formas inteligentes, corajosas e espirituais de enfrentar o sofrimento.
  12. O sofrimento pode ser encarado de duas formas: mudando o  ambiente externo, confrontando a causa e fazendo modificações internas das emoções e sentimentos.
  13. As crianças podem sofrer de modo especial traumas e perdas. Reviver as angústias devidamente acompanhadas por profissionais pode ser um caminho. A falta de vocabulário e experiência das crianças pode ser um obstáculo.
  14. Lidar com a aparente impassividade divina é resolvido olhando para a Cruz. Ele já fez tudo pelo homem.
  15. Quem acompanha ou sofre pode aprender a fazer as pazes com o sofrimento, ajudar a acompanhar quem sofre, chorar com que sofre, etc.

Cap. 10 – Dano biopsicossocial e psicopatologia

  1. A sociedade tem o poder de estigmatizar indivíduos que não se encaixam em seus padrões.
  2. Entretanto, com o avanço da psicologia e da medicina, novas doenças foram detectadas e podem ser tratadas devidamente. Podemos nos beneficiar destes avanços.
  3. É fato que fatores genéticos e hereditários são fundamentais para doenças físicas e mentais como depressão e ansiedade. Da mesma forma, é sabido que eventos traumáticos na vida de um ser humano são capazes de promover mudanças no nível mental das sinapses e provocar mudanças de comportamento e de personalidade variando a forma e intensidade em cada indivíduo.
  4. Os poucos casos de alguma psicopatologia na Bíblia são insuficientes para fundamentar uma visão sobre o assunto e todos ligados a pecado como no caso de Saul e de Nabucodonozor.
  5. Quanto aos que eram estigmatizados, tanto o AT quando o NT tem ordens claras a respeito. Jesus não aceitou as convenções sociais dos que desprezam os necessitados, doentes em geral, leprosos, estrangeiros, etc.
  6. A Bíblia trata de fraqueza em dois sentidos. O primeiro como limitação e doença. E o segundo como algo que o ser humano não pode fazer, mas apenas Deus.
  7. Portanto, existe uma diferença fundamental entre fraqueza e pecado ativo. Enquanto o segundo é uma desobediência voluntária, o segundo diz respeito a uma limitação do ser humano que o impede de alcançar certos padrões e objetivos. No caso de Paulo, ele diz que sua fraqueza foi usada para a Glória de Deus.
  8. Do ponto de vista biopsíquico, as fraquezas se constituem em instâncias menos sadias e menos aptas ao bom desenvolvimento criando claras limitações de entendimento e ação.
  9. Quando a fraqueza está acompanhada do pecado temos a falha, um lapso que ocasiona uma série de erros no caminho do homem.
  10. Mas há mais questões envolvidas como a pobreza, por exemplo, que pode ser uma condição social específica, em alguns casos é resultado de preguiça, hedonismo e embriaguez.
  11. Jesus lidou de forma especial com os pecadores que se aproximaram dele e tiveram a vida transformada. Neste caso pareceu mais receptivo aos pecadores ativos do que a hipocrisia dos religiosos.
  12. O próprio pecado original se constitui como uma fraqueza herdada e imputada.
  13. O processo terapêutico do aconselhamento também visa reduzir as falhas e permitir a vida em comunhão e produtividade diante de Deus.
  14. Não se pode evitar o uso do maior vocabulário possível para isto: falha, dano, doença, feridas, fragmentação, etc., porque ajudam a descrevem várias condições dos danos vividos.
  15. Deus tem nos seus planos restaurar os danos na vida dos seus. Há grandes vantagens na compreensão e abordagem dos danos biopsicossociais na vida de alguém em aconselhamento. Deve-se aprender a lamentar a própria fraqueza porque é o caminho para glorificar a Deus. O processo de mudança pode ser lento porque os antigos padrões estão incrustados. Alguns danos podem ser irreversíveis, como doenças físicas debilitantes, e a pessoa deverá se adaptar a estas limitações. Medicações podem ser importantes em muitos casos.
  16. Alguns danos são apontados pelo autor como resultado de danos biopsicossociais insônia, a AH, o transtorno depressivo maior e o transtorno de personalidade antissocial.

Cap. 11 – A extensão da psicopatologia

  1. O grande desafio é integrar os conhecimentos teológicos do pecado e suas consequências com o sofrimento humanos e os danos de natureza biopsicossocial.
  2. Primeiramente, ao analisarmos do ponto de vista bíblico e teológico a extensão das psicopatologias, o cristianismo afirma que o homem é muito mais do que um complexo biológico, mas um ser ético de moral com responsabilidades diante do mundo e diante de Deus. Ou seja, ao assumir sua condição pecaminosa também se tornou responsável pela dor e seu sofrimento decorrentes dele direta ou indiretamente.
  3.  O pecado sujeita o homem e toda a criação ao caos. Isto significa que ele oferece respostas inadequadas aos estímulos e desafios que recebe, que assume comportamentos destrutivos repetitivos, que anseia pelo mal, estabelece modelos relacionais inadequados, etc. O mundo estava sujeito à dor e à desordem com o pecado.
  4. Tudo isto gera comprometimentos no homem. Há um inadequado funcionamento cognitivo (memória, sensações, raciocínio, etc.), carditivos (emoções, sentimentos, crenças, etc.).
  5. O autor descreve pelo menos seis emoções negativas em relação a este tema: tristeza, medo ou ansiedade, raiva, vergonha ou culpa, dor emocional e distorção das emoções negativas. A dor emocional ele classifica como um sofrimento irredutível às outras citadas. Aprender a expressar adequadamente as emoções é fundamental para o processo terapêutico. Isto vale para emoções negativas e positivas.
  6. Deus é glorificado através do enfrentamento das psicopatologias e seus efeitos. Cristo o fez na Cruz e crentes o fazem em todo tempo quando lidam adequadamente com seu sofrimento e limitações ou ajudando outros nas mesmas condições.
  7. O foco do terapeuta cristão é o pecado, ainda que não seja o primeiro passo da sua abordagem porque ele se manifesta pontualmente de várias formas. Reconciliar com Cristo é o alvo.
  8. O conselheiro cristão deve criar um ambiente de empatia e sem o legalismo e formalismo que pode bloquear o processo terapêutico. Mostrar tolerância com a própria angústia e a alheia é fundamental para o processo.
  9. O conselheiro cristão deve diferenciar muito bem pecado, sofrimento e danos biopsicossociais.
  10. Revisitar os eventos traumáticos é importante principalmente quando este reencontro se dá a partir da mente e de uma vida renovada em Cristo (repetição/reencenação; redenção/nova criação, p. 426-427).
  11. Uma vez que somos agentes livres e responsáveis, é preciso revitalizar o conceito de buscar saúde num mundo caído em relação a nós mesmos e aos nossos relacionamentos.
  12. Numa sociedade adoecida, os maiores danos na vida de algumas pessoas podem servir de proteções para os desvios menores em outros, considerados normais (Foucalt e Girard, p. 429), mas não podemos nos deixar levar por isto. Todos estamos arruinados e feridos.
  13. É preciso companheirismo em todos os tipos de psicopatologias.

QUARTA PARTE

A Intervenção Divina

  1. A compreensão da vida de Cristo é fundamental para o processo terapêutico.
  2. De fato, nossa união com ele está no campo do mistério, mas sua vida revelada também é um fundamento importante para nossa compreensão da vida e de um caminho de cura da alma.

Cap. 12 – A vida de Cristo e a perfeição da humanidade

  1. O esquema criação-queda-redenção-consumação não subsiste sem a encarnação, morte, ressurreição e reinado eterno de Cristo.
  2. Sua encarnação encerra mistério da união hipostática das duas naturezas ao mesmo tempo em que é a solução divina perfeita e completa para o drama do homem caído. Em Cristo está toda perfeição,
  3. O mais surpreendente é a forma humilde e a vida humilde que assumiu e viveu. Isto revela o coração de Deus e no nível humano, nos faz compreender o seu coração, sentimentos e emoções. Cristo é Deus agindo entre nós como homem. O modelo perfeito.
  4. Sua encarnação revelou coisas importantes: como Deus revela suas características através da fala e sentimentos, como é a obediência que ele espera de nós, a compaixão pelos desvalidos, o afastamento do pecado e de sentimentos perniciosos, um zelo real, profundo e verdadeiro em fazer toda a obra de Deus.
  5. Jesus é o verdadeiro arquétipo humano. Foi pleno em cada fase do seu desenvolvimento e, mesmo não tendo envelhecido, chegou à plena maturidade.
  6. As curas físicas efetuadas por Cristo são entendidas pelos evangelistas como curas espirituais.
  7. Nossa salvação e cura vem de fora. Deus quer nosso bem-estar. Imitar a Cristo é a meta do cristão, mas a impossibilidade de chegar ao seu exemplo não deve nos desesperar porque ele também é o nosso representante naquilo que não podemos alcançar. Ele fez tudo por nós.
  8. A forma narrativa como os Evangelhos foram escritos nos convidam a admirar e seguir o seu exemplo. É um processo lento e longo em que se deve familiarizar com suas histórias, adorá-lo, receber seus ensinos em nossa alma, ouvir o que ele diz, nos identificarmos com ele conscientemente.
  9. Seu esvaziamento é exemplo para o nosso esvaziamento na contramão do que ensinou a psicoterapia dos últimos 50 anos. O auto sacrifício e a abnegação não podem ser compreendidos e vividos por personalidades pouco desenvolvidas. Cristãos dispõem de recursos espirituais para isto, mas também dependem de um processo de desenvolvimento.
  10. Cristo se fez carne por nós.

Cap. 13 – A morte de Cristo é o fim da psicopatologia

  1. A compreensão do sacrifício de Cristo é suficiente para eliminar muitas consequências do pecado. Foi o assassinato da pessoa mais virtuosa que existiu.
  2. A morte de Cristo é central em todo Novo Testamento como uma expiação, ou seja, uma morte que traz vida.
  3. Na sua morte também está incluída a ideia de que ele resgatou os que salvou do poder do pecado que agora são soldados labutando ao seu lado.
  4. A morte de Cristo foi um castigo recebido no lugar de muitos. Apesar de apresentar os questionamentos contra a característica de substituição penal da morte de Cristo, é o ponto de vista defendido pelo autor. Desde a Aliança Mosaica que todo pecado cometido deve ser cobrado pela justiça divina e um animal é posto no lugar do homem. Cristo, por fim, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, definiu de vez a situação bastando ao homem crer nele.
  5. Sua morte viabiliza o relacionamento com Deus por meio da remoção da culpa do pecado e do rompimento de todas as barreiras criadas pela inimizade gerada pelo pecado.
  6. A morte de Cristo propicia uma intervenção terapêutica porque remove a culpa e opera no coração do homem mudanças na direção de uma melhor compreensão da sua condição pecadora e dos seus relacionamentos que carecem de cura. Mesmo que o homem em Cristo reconheça a sua maldade e limitações, não estará fora da cura, de conhecer e melhor relacionar-se com Deus o seu próximo.
  7. A morte de Cristo também é um modelo e exigência da morte do eu na vida do crente. O fim da autonomia. Sua morte e as exigências cristãs colocam o homem na obrigação constante do autoexame.
  8. A morte de Cristo é o modelo e o início de uma nova forma de vida: vida cruciforme. Sua kenósis marca este princípio. É uma vida que se encaminha para glorificar cada vez mais a ele. Nela ele venceu o diabo, a morte e o mal. Estava ali pelos pecadores e fracos e nisto fundamentou o princípio fundamental da vida cristã. Foi exemplar no seu sofrimento.
  9. A vida cristã é guiada por princípios contraintuitivos: morrer para chegar à vida. Ela não segue um padrão contínuo de crescimento, mas um desenvolvimento cruciforme de abandono do eu, viver para a Glória de Cristo. Isto acontece à medida em que o Cristão supera a vergonha e a culpa por meio da paz com Deus e quando esta paz é internalizada em seu entendimento. É um processo subjetivo, profundo e necessário.
  10. A Cruz também resolve os problemas com solidão e separação em relação com Deus porque ela representou esta aproximação.
  11. A compreensão da restauração gradual da vida humana destruída pelo pecado também gera uma compreensão das estruturas dos relacionamentos terrenos. Ou seja, um homem reconciliado com Deus em Cristo também viverá uma vida de comunhão com seu semelhante e sempre buscará a paz e a reconciliação.
  12. A reconciliação, por sua vez, também deve ser o papel fundamental do conselheiro.
  13. A internalização da redenção em Cristo é fundamental para que o crente aprenda a amar cada vez mais a Cristo e se perceba dentro do seu plano de redenção. Nisto pode se formar o que o autor chama de “eu redentor”, um conceito especialmente útil para quem sofreu por se achar menos do que fora criado por Deus e para quem distorce seu papel no mundo. Isto é especial porque também representa a constante morte do eu.
  14. Reconhecer e participar do lamento de Cristo é fundamental porque vemos que nem ele foi poupado por Deus do sofrimento.
  15. A morte de Cristo representa o fim da psicopatologia em alguns aspectos: fornece ao homem um telos, julga o pecado de modo cabal, e aponta para uma solução definitiva escatologicamente.

Cap. 14 – A ressurreição de Cristo e o início da nova criação

  1. A ressurreição de Cristo funciona como o desabrochar de uma vida inferior e feia para uma vida bela e cheia de significados.
  2. Partindo da vergonha romana tornou-se o centro da própria fé cristã. É bem representada no batismo do crente, mas que alcança toda humanidade através de uma nova criação. É uma nova onde subjetiva, porque muda os corações, mas objetiva porque remete os crentes às boas obras.
  3. A ressurreição é a marca da mudança entre a velha criação, caída e sofrida, para um nova criação que aguarda sua plena realização na Consumação.
  4. Esta renovação é e será eticoespiritual e material.
  5. Como somos reconciliados com Deus por meio da morte e ressurreição de Cristo, um novo eu ressuscitado surge para a glória de Deus, mas isto também está dentro do sistema já e não ainda porque agora as coisas são apenas parcialmente realizadas.
  6. A nova criação agora é a antiga renovada, mas que pouco a pouco aponta para uma plena e completa mudança.
  7. Na ressurreição de Cristo está o convite para sair das trevas e vir para a luz.
  8. Na ressurreição há o convite a compreender de modo profundo a nova relação com Deus por meio da adoção. A simples compreensão racional da adoção não é suficiente. Emoções e sentimentos devem ser envolvidos. É o que o autor chamou de “internalização transmutadora” (p. 514).
  9. Outra consequência importante para a terapia é a regeneração que muda as “raízes subconscientes do nosso ser” (p. 515). O autor fala das limitações na psicoterapia para compartilhar a fé na esperança de que isto possa mudar (p. 516).
  10. Não são desenvolvidas novas partes ou camadas no ser dos ressurretos em Cristo nesta vida, mas as características atuais são renovadas e fortalecidas. Somos convidados a uma nova vida gloriosa de relacionamento com Deus, guiada pelo Espírito e pela Palavra. Esta compreensão é como uma semente plantada no coração do crente que vai brotando cada vez mais sob o cuidado do próprio Deus.
  11. A fé é fundamental para manter o crente no caminho e as dúvidas podem servir para levá-lo além.
  12. A difusão gradual da vida ressurreta se dá através de novas crenças, valores e comportamentos, de novas emoções e desejos, de novas imaginações, de novas ações e padrões relacionais, de uma nova história, de um novo eu, e de novos eus em comunidade (dialética do um-muitos, p. 524).
  13. No aconselhamento, “a cruz e a ressurreição estão relacionadas dialeticamente; portanto, não devem estar muito separadas em nossa experiência” (p. 525).
  14. Cristo torna-se o mediador entre a velha natureza e a nova em que as experiências e estruturas da velha são julgadas pela nova.
  15. O crente deve esperar que as mudanças sejam muito lentas e graduais e percebidas principalmente internamente já que o mundo externo continua entregue à corrupção.

Cap. 15 – A exaltação de Cristo e a multiplicação da nova criação

  1. A dinâmica de vida de hoje é muito diferente de bem pouco tempo atrás. Não só pela tecnologia, mas pelas novas configurações econômicas, sociais, etc.
  2. Jesus ressuscitou e ficou por cerca de 40 dias ainda com os discípulos e foi elevado ao céu diante dos seus olhos. Eles sabiam e testemunharam tal glorificação que já estava prevista no passado através de passagens como o Salmo 110 e diversas profecias messiânicas de que ele governaria o mundo, estaria á direta de Deus, etc.
  3. Esta exaltação de Cristo é fundamental para a humanidade: será elevada a condição de sua máxima realização, vence o pecado, vence maligno, etc.
  4. Em sua exaltação Cristo é assume o lugar de intercessor por nós. Além disto, estamos que assentados com ele nas alturas e gozando antecipadamente das questões celestiais. Por causa da sua  assunção o Espírito nos foi enviado. Isto significa que temos em nós aquele que supera todas as nossa dificuldades relacionais com Deus porque ele intercede por nós, nos dá dons e nos guia para longe do pecado e do juízo, mas no caminho da justiça divina.
  5. Da mesma forma que Deus criou tudo por meio da sua Palavra, ele declarou a nossa salvação por meio da salvação declarativa que efetivamente causa em nós uma série de efeitos: adoção, justificação, aceitação, santificação, etc.
  6. Ato perlocucoinário é o efeito produzido sobre a vida da alguém pela fala. A locução é o efeito pretendido pela fala. Assim, quando falamos da Bíblia, devemos esperar pelo menos quatro efeitos terapêuticos em ordem na vida dos que a acessam: 1. Que o crente seja capaz de entender o seu conteúdo; 2. Que o crente tenha uma experiencia real de salvação no nível dos sentimentos e do entendimento; 3. Formação de Cristo em nós; 4. A fase eclesial na eternidade.
  7. Do ponto de vista terapêutico, Cristo promove uma ascensão vertical e o crente deve ser encorajado a se ver nesta nova geografia cristã até seu estado escatológico pleno, em que ele é o único padrão de perfeição e que elimina o perfeccionismo (quando se procura algo impossível de ser alcançado, irrealista e inflexível – p. 552), o Espírito Santo em nós e a pericorese divina (ato em que Deus se entende para fora de si como na criação, por exemplo).
  8. Um dos grandes desafios para os cristãos é reorganizar a própria existência diante das representações a que está sujeito. Há um eu empírico efetivo que contrasta com o eu assentado com Cristo nas alturas. Uma luta do velho homem com o novo homem. A luta da psicologia é tentar entender estes eus conflitantes, mas buscando um encontro e respostas em si mesmo. O que a Bíblia ensina é que nossos paradigmas estão fora de nós: em Cristo.
  9. O autor aconselha o jejum como ferramenta de autoconhecimento.

QUINTA PARTE

A Terapia Divina

  1. O drama da vida cristã se dá porque o crente está num conflito histórico-redentor.

Cap. 16 – O abraço santo do corpo de Cristo

  1. Deus escolheu a igreja para operar sua salvação e cura do homem. Os escândalos e a pecaminosidade humana são motivos para o desânimo de muitos, mas nisto esta, também a vontade de Deus.
  2. A Trindade é o arquétipo da relação humana. A igreja, por isto, é chamada de corpo. Ninguém pode ser perfeito e pleno sozinho.
  3. Éctipo é o mesmo que uma cópia. A igreja é um éctipo da Trindade.
  4. A igreja também foi feita pela Palavra de Deus, está sendo transformada segundo a imagem daquele que a criou e está sendo reconstituída pela Palavra.
  5. A salvação também se desenvolve por meio da unidade eclesial, ou de forma coletiva. O crente se vê e se insere no grupo que está sendo salvo.
  6. A igreja é um complexo de paradoxos e ironias enquanto está na Terra se desenvolvendo rumo à sua plenitude no céu: 1. É uma comunidade cheia de contradições, mas que se inclina para estar centrada em Deus; 2. É um localidade, uma igreja local, mas que representa a igreja universal, isto não é uma fragmentação, mas os primeiros passos de Deus no sentido de reunir um dia todo o seu povo; 3. É um comunidade marcada pela unidade, mas que convive com um intensa diversidade; 4. É uma comunidade de amigos caídos que se ajudam e toleram; 5. Uma comunidade de caídos que se amam; 6. Uma comunidade escatológica.
  7. A liturgia bem reconhecida e elaborada é o ambiente perfeito para elevar a alma do homem a Deus e curar suas psicopatologias.
  8. A saúde da igreja está nos relacionamentos que ela promove. A igreja deve promover atividades que realmente foquem neste fortalecimento da comunhão entre os irmãos.
  9. O trabalho pastoral de ensino, pregação, visitação, aconselhamento, etc., é fundamental no processo, mas com o desafio de que a igreja geralmente tem uma visão distorcida do pastor.
  10. O sacerdócio universal dos crentes pode significar, também, o uso de profissionais da própria igreja no auxílio das variadas necessidades. Por outro lado, confiar a profissionais os casos para os quais não tem capacidade, tempo, ou outros impedimentos.
  11. A vocação da igreja é para a verdade, a santidade e o amor.
  12. Um ambiente sadio é onde as pessoas mais fracas se sentem bem-vindas.
  13. A visão que temos das nossas próprias igrejas e do nível de integração que temos nela reflete o que nossa alma é. Basta ver o que pensamos dela, como nos sentimos em seus cultos e reuniões, etc.
  14. O autor propõe que igrejas construam centros ou estruturas de apoio para que sofre em todos os sentidos. Isto deve também ser aberto ao mundo externo a partir de uma cosmovisão cristã que confronte a cosmovisão neutra proposta por outros.

Cap. 17 – A divisão do cristão em novo e velho 

  1. A vida cristã é um caminho longo e difícil bem descrito como uma guerra.
  2. A natureza da fé operada por Cristo no coração dos crentes é, até a sua conclusão, de extremo conflito por causa da dupla forma do crente: pecado e graça.
  3. Segundo Gálatas 5 é um luta entre a carne e o Espírito em que aquele que for mais alimentado prevalecerá. Segundo Romanos 8 o crente deve se conscientizar que sua natureza espiritual é que prevalece. Segundo 1 Coríntios 3 quando o crente não alimenta o Espírito ele se torna carnal. Em Romanos 7 fica claro que o cristão ainda pode estar sujeito ao um conflito quando se deixa governar pela lei e pela carne que se juntam para destruí-lo caso este não se posicione ao lado de Cristo. Segundo Colossenses 3.9-10 e Efésios 4.20-24, o crente luta com suas duas naturezas e é incentivado pelo exemplo de Cristo à obediência, a compreender quem é e a exercer cada vez mais a sua cidadania celestial em contraste com a sua cidadania terrena vendida e escravizada pelo pecado. Ou seja, a vida do crente é caracterizada por uma ruptura radical.
  4. O desafio para a compreensão do papel do aconselhamento bíblico quando comparado aos textos científicos é que a Bíblia foi escrita em linguagem cotidiana.
  5. O desafio terapêutico tem a nuance de que há um contraste severo entre o sistema (como o autor chama, mas poderia ser cosmovisão ou outro termo) é estruturado na carne e diretamente associado ao histórico de vida e de aprendizados no crente. Neste caso, a carne é mais do que o corpo, mas uma forma de pensar que induz ao sofrimento e ao dano psicossocial.
  6. Quanto a nova natureza, é uma nova criação de Deus. As estruturas remanescentes do crente são revistas, reaproveitadas e reorganizadas.
  7. Há uma questão importante a ressaltar: o crente é quem vai abandonando a velha natureza, mas a nova ainda está surgindo porque está oculta e sendo revelada pouco a pouco em sua vida. Isto não significa que ele tenha duas almas, como alguns sugeriram, mas que este eu unificado ou um eu verdadeiro (p. 624) é constituído por este conflito. Um novo ser vai brotando à medida em que o velho está morrendo.
  8. Esta crise mal constituída ao longo da vida cria o splitting,[1] uma espécie de divisão conflituoso socioafetiva em que os vários eus estão desbalanceados e em conflito. No caso de cristão o splitting é ainda mais severo porque é dominado pelo pecado e o velho homem usa todas as artimanhas possíveis para enganar e vencer o novo homem. Por isto, mesmo depois de convertido, o crente ainda pode espiritualizar seus vícios, pecados, preconceitos, etc., e encontrar falsas justificativas ou formas de manter os pensamentos e atitudes do velho homem.
  9. No caso do cristão pode se falar do eu genuíno e falso eu cristão (p. 628). O falso emerge da vergonha, do pecado, das pressões externas para formatar uma personalidade que não é a verdadeira, conhecida e amada por Deus. O tempo é capaz de solidificar esta personalidade falsa e criar uma capa difícil de ser rompida e transformada.

Cap. 18 – Diferenciação redentora

  1. Por diferenciação redentora se entende a capacidade de reconhecer a luta interior do crente com sua velha natureza.
  2. Na verdade, o bom desenvolvimento humana é composto por diferenciação, em que o indivíduo se reconhece único, e ao mesmo tempo integrado, em que se percebe diante dos outros, com um papel definido e produtivo.
  3. Esta diferenciação é uma dependência de Deus e uma negação da sua autonomia, sempre se expressa em ações concretas, como um vivo entre os mortos, concentrando-se na coisas do alto e negando as terrenas, que também atinge o mais profundo levando a uma nova compreensão de si mesmo (duplo reflexo, ou segundo reflexo, conf. p. 638, em Kierkegaard). Assim, também propõe que o crente deve participar da morte e ressurreição de Cristo.
  4. O crente, para isto, deve receber a Palavra de Deus e reorganizar todo seu pensamento anterior à luz do que vai aprendendo devagar o que inclui a vida congregacional também com todas as suas nuances. Por meio da Palavra o crente contrasta as suas qualidade morais, sentimentais, emocionais e espirituais com o próprio Deus e estabelece um novo padrão para todas elas, aprende a ser grato porque recebe o poder e as condições para uma nova vida, aprender a celebrar o que recebe e vive.
  5. O distanciamento da velha vida é ensinado na Bíblia com diversos nomes: confissão, arrependimento, negar a si mesmo, tomar a cruz, perder a vida, etc;, além de renúncia, purgação, resignação, entrega, etc.(p. 647).
  6. O autor concorda que usar os termos da psicologia e das ciências não é errado desde que se explique de forma cristã os temos por que aquelas se aproximam muito do tratamento dos danos biopsicossociais descritos na Bíblia, mas não consideram o pecado como a origem e o fundamento de tudo isto.
  7. Os crentes devem ser ensinados a trazer para o plano consciente todos os seus conflitos. O primeiro passo é reconhecer e nomear sentimentos como vergonha, culpa, ansiedade). Para isto, a Bíblia é cheia de exemplos de homens de Deus que fizeram isto. O segundo passo é a avalição destes sentimentos que é diferente da psicologia comum porque é feita em Cristo. Vergonha e culpa, por exemplo, são tratadas de formas diferentes em seus prejuízos do que os danos causados pelo pecado. A psicologia não distinguiria isto e trata tudo da mesma forma, apenas como um dano ao paciente. O passo seguinte é a expressão verbal das dores e pecados através do lamento, da confissão, etc. Sabe-se muito bem do valor das expressões verbais para o tratamento terapêutico. O quarto passo é o arrependimento, que é complexo. Vai de um a dor interna à uma mudança que pode ser muito lenta como também radical. O quinto passo é muito importante porque diz respeito ao que se faz com os sentimentos negativos anteriores. Não se pode simplesmente desligá-los sem tratamento correndo o risco de falsidade e hipocrisia. Esta ação é espiritual também, vinda de Deus, em que o perdão recebido é aceito profundamente a ponto de gerar novas ações, sentimentos e atitudes dali em diante. Alguns crentes podem estar tão profundamente magoados que precisarão de conselheiros experientes e tratamentos com abordagens mais profundas.
  8. O papel do conselheiro é caminhar com o aconselhado no seu caminho de morrer e reviver em Cristo.

Cap. 19 – Integração redentora

  1. O crente está num processo de reconstrução em que deve aprender a olhar cada vez mais para a situação de fé, santidade e pureza a que está sujeito em Cristo.
  2. A integração acontece à medida em que se percebe que o ser deve ser unido. O cérebro, o corpo, as experiencias do homem caído o dividem e fazem com que esta integração seja difícil. Há muitas palavras que descrevem a necessidade da integração do homem como aliança, união, coerência, empatia, metabolização, etc.
  3. A integração é baseada na beleza, simplicidade e no amor baseada no modelo divino. Por isto, teocêntrica. É baseada na Escrituras que nos incentiva direta e indiretamente a atitudes que promovem a integração humana, o Espírito Santo promove isto. O ponto alto é notado pelo amor compreendido e exercido pelos crentes.
  4. Isto só pode acontecer à medida em que os crentes dão cada vez mais espaço em suas mentes e práticas ao que é ensinado por Cristo e a sua estrutura se organizará cada vez mais.
  5. A origem da integração do homem está fora de sí, em Deus. Para isto é importante que ele aprenda a se recolher, isolando-se o quanto possível dos ruídos externos.
  6. O ponto alto da questão é quando o homem percebe que tanto o velho eu como o novo eu são o eu total e ele o assume com todas as suas virtudes e defeitos, mas sem o exagero das abstrações que o supervalorizam e nem o desprezo que o torna nada. Para isto, o homem deve integrar no seu eu total: o criado e o novo eu, os dons redentores, a pecaminosidade, os sofrimentos, os danos biopsicossociais, as falhas, a história própria e a de Cristo.
  7. Os relacionamentos e os diálogos humanos são fundamentais neste processo. E, também por isto, os terapeutas assumem uma posição privilegiada no processo de integração do verdadeiro eu do crente.

SEXTA PARTE

A cura divina

  1. A certeza de que Deus no curará deve ser um incentivo a olhar para a frente com esperança e lutar no presente.

Cap. 20 – Vivendo no futuro

  1. O foco no fim escatológico também é fundamental para o bem-estar da alma humana. É normal que vivamos momentos de muita frustração, mas este não pode ser o guia de uma mente realmente cristã.
  2. A natureza humana é voltada para o futuro e a cultura contemporânea distorceu isto em suas frentes: voltando apenas na busca pelo sucesso e de forma rápida. Entretanto, como observado em pessoas voltadas para seu crescimento e desenvolvimento, como em atletas, se percebe que mesmo as limitações podem funcionam como maior incentivo em direção ao alvo desejado. Ou seja, há dois fatores importantes a considerar: o alvo e o caminho a ser percorrido.
  3. No caso dos cristãos, é necessário encarar a morte como fim necessário e inevitável, mas também toda a esperança decorrente da relação com Cristo. Os apóstolos, como Paulo e Pedro, afirmaram que as esperanças futuras eram a base para suportarem os sofrimentos, mas também para fundamentar o seu trabalho diário que tinha o foco na glorificação a Deus, no fortalecimento das igrejas e crentes, na salvação dos perdidos e na confrontação das obras das trevas.
  4. As esperanças escatológicas apontam para uma completitude e plenitude da noiva de Cristo, a igreja. Com a promessas de heranças em Cristo, o padrão de felicidade do cristão é objetivo, enquanto o padrão normal do mundo é subjetivo, fluído e irreal.
  5. Em relação aos juízos, os crentes estão seguros e podem descansar enquanto os ímpios não. A esperança do crente está firmada num futuro que já começou.
  6.  Há um severo contraste quando o crente observa sua vida e as esperanças nas quais se alicerça. Isto significa que ele não deve prender sua atenção nesta vida passageira e cheia de percalços. O autor chama esta vida de um Divina Comédia, já que quando tudo passar os verdadeiros motivos, sentimentos e razões deste mundo terão um nova dimensão na qual nossa falta de fé e desespero poderão ser risíveis. Histórias tristes e terríveis, por fim, terão seus finais os mais felizes possíveis. Olhar para o que seremos pode ter um impacto muito importante na vida presente. Este mundo não é o nosso lar.
  7. Este pensamento nos ajuda a construir um âncora transcendental que nos livra dos perfeccionismo e das frustrações. Sabemos que nossa perfeição está no futuro e lidamos melhor com nossas limitações no presente. Este processo de reorientação é cognitivo ensinando a olhar para o alto mudando a mente e o coração.
  8. Por isto o trabalho de um conselheiro é importante não apenas pontualmente, mas tem consequências eternas também na vida de que é aconselhado. Ele pode ser o guia de uma caravana para a eternidade.  

[1] Splitting significa divisão.

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