INTRODUÇÃO
- Lembro de uma pergunta feita na sala de EBD quando eu ainda era novo convertido: “Se seus pais te pedissem para roubar laranjas na feira, você iria?ˮ A pergunta tem um monte de brechas: Por que roubar laranjas? Para matar a fome? Dá para matar a fome com laranjas?
- Mas obviamente, o que está em jogo não são as laranjas, mas como resolver conflitos entre o que o mundo, e até nossas famílias podem exigir, e a vontade de Deus. É um conflito ético, moral e espiritual que julgo fácil de resolver: não iria! Além de obedecer a Deus, há outras alternativas para matar a fome, inclusive para a laranja.
- O conflito com a família de Jesus ganha um novo capítulo. Primeiramente acharam que Jesus estava ficando louco e queriam leva-lo para casa à força. Agora, parecem querer convencê-lo de desistir do que está fazendo. Muitas coisas estão em jogo ali: a vergonha da família, o medo de que ele realmente tivesse algum problema mental, o medo de que ele estivesse exagerando na carga de trabalho e, obviamente, a família já sabia que ele estava correndo risco de prisão, julgamento e morte.
- O desafio de Jesus é diferente do desafio da laranja, mas o cerne da questão é o mesmo: manter-se na vontade de Deus apesar de todos os desafios e contrários.
- Do ponto de vista da família de Jesus surge a questão: o que realmente mais desejamos aos nossos parentes mais próximos? O que realmente consideramos uma vida adequada, ou até cheia de frutos? É uma pergunta justa diante de uma passagem desta. E Jesus mostra que havia um conflito sério entre o que sua família julgava melhor para Ele e o que Deus o havia chamado para fazer. E, como no caso das laranjas, Jesus decidiu obedecer a Deus.
O TEXTO
- Jesus começa a dar os primeiros sinais de que estar ao lado dele é algo sério, exigente, e que ele estava inaugurando um novo modo de relacionamentos, de entendimento da vida e de compromisso com Deus.
- Diante de muitas oposições, agora é a segunda vez que sua família tenta contato.
- Duas vezes o texto afirma que seus familiares estavam do lado de fora: O fato da família chamar para fora implica em que queriam algo diferente do que concordar com ele. Era mais uma tentativa de tirá-lo da sua tarefa que julgavam uma loucura. Não há dúvidas de que os que estavam rodeando Jesus permitiriam o acesso a ele. Portanto, ficar fora foi uma opção para a família de Jesus como quem não quer se identificar com aquilo. Podia ter sido um momento de profundo lamento para Jesus, mas ele não aliviou a situação dos seus familiares apenas para não desagradá-los. Simplesmente disse a verdade.
- Antes de dizer aquilo que mais chama a atenção no texto, Marcos deixa claro que Jesus olhou aos que estavam ao redor, afirmando que aqueles que estavam ali eram seus verdadeiros familiares porque estavam buscando a vontade de Deus. Esta história se assemelha ao caso de Marta e Maria. Uma super atarefada, mas Maria escolheu ouvir as palavras de Deus. Vale recordar o momento em Lucas 10.38-42: ¨E aconteceu que, indo eles de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa; E tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Marta, porém, andava distraída em muitos serviços; e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me ajude. E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; E Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada¨.
- Uma situação com a qual facilmente nos identificamos que revela nossa dificuldade de nos mantermos aos pés de Jesus. Mas não são apenas as tarefas que podem nos afastar. Desânimo, frustração por algo que não deu certo ou não alcançamos, algum relacionamento que não anda bem, etc.
- Apesar de parecer um palavra áspera, Jesus eleva o discurso do grau de parentesco simples para uma relação de obediência e discipulado no qual seus discípulos se tornaram a sua verdadeira família.
- VALE UMA NOTA MUITO IMPORTANTE: Honrar as questões familiares faziam parte da Lei e dos bons hábitos dos hebreus (Êxodo 20.12). Para cristão, Paulo, escrevendo a Timóteo reforçou e aprofundou isto quando disse: “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infielˮ (1 Timóteo 5.8).
- O real grau de parentesco entre os discípulos de Jesus não é pela carne, mas espiritual. Em Mateus 3.9 está registrado que Jesus disse: “E não presumais de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraãoˮ. A postura de Jesus confirma as palavras dadas aos Patriarcas, como Abraão, e todos os profetas. Aquela palavra dura de Jesus confirma tudo o que foi prometido a Abraão (todas as famílias da Terra), Isaque e Jacó (na mesma medida), confirma as palavras dos profetas (de que um Reino formado por afinidade espiritual seria formado), confirma as palavra duras de Jesus aos seus contemporâneos de que a filiação espiritual era maior do que da carne.
- Conhecendo a história posterior, vemos que Maria se converteu e mudou sua postura tornando-se uma seguidora de Jesus, mas não sabemos quando isto de fato ocorreu. Os irmãos de Jesus também mudaram. Tiago tornou-se bispo de Jerusalém e Judas um fiel e decidido pregador e seguidor de Jesus.
CONCLUSÕES
- Ao contrário do que parece à primeira vista, Jesus não está desprezando sua família, mas mostrando que somente os que nascem de novo e fazem a vontade de Deus é que estão unidos a ele. Por isto, a salvação de nossos familiares é essencial. Imagine se Jesus deixasse de priorizar a vontade Deus? Nada restaria para aqueles discípulos, para sua família e muito menos para as nossas. Portanto, este ensino de Jesus não é um incentivo ao abandono da nossa família, mas uma advertência contra preocupações que não considerem a salvação de nossos familiares.
- A vida que vivemos agora é um protótipo da vida celestial. Jesus afirmou que no céu seremos como anjos, nem casando e nem nos dando em casamento. Mateus 22.30: “Porque, na ressurreição, nem casam, nem são dados em casamento; mas serão como os anjos no céuˮ. Principalmente e livro de Apocalipse revela que estarão diante dele povos, tribos, línguas e nações, mas todos vivendo e louvando juntos pela eternidade.
- Quando a vida espiritual e nossa obediência estão em jogo, é a única situação em que a família não é priorizada. Vale a máxima e Pedro e João: Mais nos importa obedecer a Deus do que a homens.
- Os nascidos de novo formam uma nova família que durará para sempre. Ao priorizar a relação espiritual de todas as pessoas a sua volta, Jesus deseja a todos o melhor, o que inclui a Salvação, o maior bem. O que te desejam seus amigos? O que você deseja a seus amigos?