Quando começamos a estudar a Bíblia queremos aprendê-la com profundidade. Isto na verdade é bom. Somos introduzidos a um conhecimento totalmente novo – o conhecimento de Deus. Tanto a experiência prática do dia-a-dia quanto o da leitura e da prática doutrinária são formas seguras de crescer neste sentido. Devemos, no entanto, nos resguardar do excesso de misticismo e de mistério. Por um lado temos aqueles que enxergam milagres e operações maravilhosas em absolutamente tudo. Excluem o racional, esquecem do lado humano, esquecem da liberdade que Deus nos deu para tomar decisões e ainda apoiá-las. Do outro lado temos os racionalistas, pessoas sem os “mistérios de Deus”, onde tudo deve estar previsto e racionalmente embasado. Um e outro correm risco. Nós com certeza nos encaixamos em um ou outro e devemos orar a Deus para sermos guiados por Ele no caminho certo.
Manipuladores da Palavra se multiplicam a cada dia e do mesmo modo acrescentam e retiram significado da Palavra, ou seja, dizem o que ela não diz, e não dizem o que ela diz. Não é à toa que entre os batistas se dá preferência aos que estudaram teologia para ensinar a Palavra, e como diz a própria Bíblia: “meus irmãos, não sejais muitos de vós mestres (ensinadores da palavra), sabendo que receberemos um juízo mais severo” (Tiago 3: 1).
Vamos aqui rapidamente rastrear o significado de pedir. No texto escolhido, Mateus 7: 7, temos o seu uso de modo mais evidente. Em grego temos aqui ¨aíteíte¨. O mesmo surgirá algumas outras vezes no Novo Testamento. Ao contrário do que se tem dito comumente há poucos indícios de que a palavra signifique “demanda”, ou seja, exigência. Vejamos por exemplo, o caso de 1 Coríntios 1: 22, quando poderíamos dizer: “os judeus exigem um sinal”. Demonstrando neste caso, obviamente, sintoma de dúvida ou mesmo a impossibilidade diante dos olhos dos judeus de que tal “pedido” seja aceito.
É importante notar, também, que nossa versão em português diz em Mateus 7: 7 – “Pedi”, ou seja, cumpra-se a ordem de pedir. O verbo no grego aparece como sendo: imperativo (ou seja, uma ordem a ser obedecida), presente (ou seja, inadiável), ativo (algo a fazer e não a sofrer a ação – não passivo), segunda pessoa (ou seja, alguém pede a um terceiro ou terceiros que execute ou executem), plural (ou seja, é exigido de mais de uma pessoa). Diante desta exposição deve ficar claro que:
- A ordem de pedir é Deus que nos dá por meio de Cristo, quem deve obedecer somos nós, não há neste caso nenhum indício de que Deus seja obrigado a acatar o pedido feito;
- Como imperativo, o verbo declara estar isto dentro da vontade de Deus, mostrando urgência e exigência d’Ele para conosco, não da nossa parte para com Ele;
- Devemos pedir tudo quanto nos vier a mente no tempo presente, ou seja, Deus quer receber nossos pedido agora, não necessariamente respondê-los agora, nem mesmo de respondê-los em qualquer tempo futuro;
- Nós estamos recebendo a ordem de pedir e não ordenando que nossos pedidos sejam atendidos, a imposição neste caso é unilateral, ou seja, apenas para o homem e não para Deus;
- Jesus estava falando com seus discípulos na ocasião, não foram os discípulos que disseram isto a Ele;
- O plural do verbo demonstra que Ele procurava atingir um grupo de pessoas, ou no mínimo duas pessoas para que se constitua o plural, evidenciando que o pedido não seria uma ordem para Deus, que caracterizaria apenas uma pessoa;
- Quando o verbo demonstra “demanda” surge como oposição e/ou afronta e não como fidelidade.
Quando analisamos o contexto da passagem, fica claro que a ênfase está na persistência em pedir e na boa vontade de Deus em nos atender, como um pai que atende ao filho. A ênfase recai também como sendo um presente de Deus.
Elementos como fidelidade do pedinte, bom testemunho, serviços prestados, parecem não contar também nesta passagem. A mesma parece muito mais indicar a bondade de Deus em relação as necessidades de seus filhos. (Outros textos, que citaremos a seguir mostram ou os entraves ou a mínimas condições para aceitação das orações, mesmo assim, nenhuma em condição de exigência para com Deus.)
Não há qualquer elemento de troca em questão. O que nos faz crer que é uma passagem que trata da graça, do amor, da compaixão e da paternidade de Deus para conosco. Ele nos ouvirá porque somos filhos e porque insistimos, e nada além disto.
Deve ficar claro que como pedido ele pode ser negado. Há outras condições prescritas na Bíblia condicionando o atendimento de nossas orações, veja: Salmo 66: 18, Provérbios 28: 9, 1 Pedro 3: 7, 1 João 3: 21-22. Sendo que há também elementos que tornam nossos pedidos mais eficazes, como:
- Estar na vontade de Deus – 1 João 5: 14-15,
- Ter fé – Marcos 11: 24,
- Obediência – Provérbios 15: 8,
- Confissão de pecados – Mateus 6: 12,
- Perdoar os outros – Marcos 11: 25,
- Humildade – Lucas 18: 11-14,
- Persistência – Lucas 6: 12,
- Sinceridade – Hebreus 5: 7,
- Aguardar com paciência – Salmo 27: 14,
- A sós – Daniel 6: 12,
- Com outros – Mateus 18: 19-20,
- Em jejum – Neemias 1: 4,
Isto para citar poucos textos.
Conclusão
Qualquer pessoa que se levante para compreender a oração como algo unilateral, como exigência, como algo sempre certo, peca em dose elevada. A oração subentende uma série de fatores espirituais muito bem esboçados na Bíblia. Somos encorajados a orar constantemente, mas também, na mesma proporção a andar na vontade de Deus. “Andar na linha com Deus” não nos garante repostas de oração. Veja que Ele disse não a Moisés, a Daniel, a Paulo e ao próprio Jesus. Todos eles, em algum momento, desejaram algo que não receberam.
Pedir é apenas pedir, podemos receber um não mas, o que parece pior para Deus, é o fato de não pedirmos. Aí sim, cometemos um grande erro.
Não nos lamentemos pelos “nãos” que recebemos mas, pelos pedidos que não fazemos. Não pedir é bem pior do que não receber.
Pastor José Martins Júnior
Respondendo a um pedido
17 de maio de 2005
4 comentários
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conteúdo de valor, parabéns nota 10.
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