VIDA DE LEITOR – POR QUE EU LEIO?

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Não sou de queixar-me do tempo, aprendi que quem faz nosso tempo somos nós. Nós é que controlamos nosso tempo e nossa agenda, mas com certeza, gostaria de mais tempo para ler. Tempo com mente descansada e sem a pressão de outras atividades obrigatórias ou do sono. Mesmo assim persisto.

Não leio, no momento, mais do que vinte livros por ano, mas já li muito mais. Além dos obrigatórios para os cursos e aperfeiçoamento, seguem os que fazem parte da vontade e do desejo. Acredito em disciplina na leitura e em tudo que se faz, mas quando o amor ao que se faz é maior, disciplina é assunto secundário.

Já li muita coisa que me envergonha, que por sorte do meu desapego, doei para que outros também compartilhem do meu arrependimento. Conheço quem não se desgrude de seus livros. Particularmente seleciono bem e faço a doação dos que não interessam mais, já foram mais de trezentos embora. Não faço mais questão dos comentários ou resenhas dos originais, mas procuro ler as obras originais, traduzidas para o português, claro. Deste modo, tenho a minha própria opinião, que não muito dificilmente, é diferente das que vejo por aí. Hoje, a Companhia das Letras e outras editoras nos ajudam muito lançando coleções inteiras em formatos de bolso (pocket version) e encadernações mais simples, mantendo o conteúdo com custo mais acessível, obviamente.

Meu pai não pôde, ou não quis, estudar. Mas não se furtou a muita leitura. Suas leituras ou eram religiosas ou de natureza mais geral, como biologia (por conta dos animais) e da vida (sexo, psicologia). Operário, com certeza fugia um pouco ao exemplo ou modelo da maioria. Acreditava na educação e formação, e que estas começam pela leitura. Sua timidez e atitude mais reservada, esconderam algumas coisas, como fazer parte do grupo de teatro de sua pequena cidade de Minas Gerais, que exige leitura e decorar os textos.

Se as escolhas dele para mim foram boas ou não, ainda não sou capaz de avaliar, mas deixaram a marca da importância de ler. Ler sem preguiça, não olhando para volumes ou páginas, mas para a necessidade de saber. E saber, não para ser o melhor, mas para ser mais capaz de viver e crescer. Há ainda muita gente que escolha livro pelo tamanho ou por estar na moda. Funcionou? Talvez. Porque não foram poucas as angústias que geraram em mim, trazendo alguma dor e sofrimento. Coisa própria de quem é fraco? Não, com certeza, mas de quem se entrega. As descobertas nem sempre são boas e agradáveis no primeiro momento, mas depois de pensadas e refletidas, mudam o curso das nossas vidas.  É o caso de ler Friedrich Nietzsche sendo religioso. Certas razões doem na carne.

Desde o TUDO, que há cerca de 30 anos atrás tinha a pretensão de ser um dicionário exaustivo, aos vinte e três volumes do ¨Universo em Desencanto¨, que ele escondeu de mim e nunca achei, porque sabia que eu leria de qualquer modo. Passando pelo SAV (Sexo, Amor e Vida) que ele deixava livre para minha consulta mostrando que era uma homem bastante aberto e moderno, já que eu era recém saído da infância. Espirita Kardecista convicto, não podia faltar o ¨Evangelho segundo o Espiritismo¨, e toda a farta literatura produzida por eles.

A escola teve papel fundamental neste processo ao incentivar a pesquisa e as visitas a bibliotecas. Lembro quando pesquisei sobre a poluição do ar e das águas, na época em que Cubatão estava nas primeiras páginas dos jornais e como notícia frequente dos telejornais. Conheci nesta época o acervo de vídeos da Central Globo de Produções, na Rua Hadock Lobo em São Paulo, que me lançaram ainda mais no mundo da leitura. Tudo bem que ler O Príncipe de Maquiavel aos treze anos não seja grande incentivo à leitura.

O esforço do meu pai para que eu tivesse uma profissão foi fundamental. Aprovado no SENAI Suíço-Brasileiro para cursar Mecânica de Precisão aos 14 anos, foi fundamental neste processo porque a escola contava, e ainda conta, com uma das bibliotecas mais maravilhosas que já vi. Lá, por indicação de um colega, conheci Isac Azimov, e li praticamente todos seus livros de ficção cientifica.

Outro elemento formador da minha vida de leitor foi minha conversão a Cristo. Agora meu livro era a Bíblia, livro que trata da vida e que nos incentiva a andar com Deus e a ler também. Muitas pessoas em cidades mais afastadas e pessoas de mais idade foram alfabetizadas usando a Bíblia. Nesta ocasião levei vantagem por causa de todo um passado de leituras: eu já lia bem. Três meses foram necessários para ler tudo sem prejuízo das minhas atividades na escola e o início da minha vida profissional. Cristãos leem em média três capítulos por dia de Segunda- feira a Sábado e quatro no Domingo para que possam lê-la em um ano. Multipliquei esta velocidade por quatro e sei de pessoas que já o fizeram em bem menos tempo. Pressa? Desespero? Competição? Eram sede e fome puras. Ela me remeteu para outras leituras porque é simplesmente impossível ler e entender tudo sozinho. Os livros de Teologia se tornaram meus companheiros. Hoje ocupam a maior parte das minhas prateleiras. O conhecimento é como um labirinto neste caso, porque começamos a estudar um assunto e temos que trilhar novos caminhos para entender os anteriores. Foi meu caso com história, matéria que no Segundo Grau (atual Ensino Médio), foi meu pesadelo e minha tortura e hoje a minha paixão e busca, porque ao procurar conhecer a origem de certas ideias me deparei com personagens e histórias que me cativaram. Fui na Grécia Antiga, conheci a Republica de Platão. O universo de Jesus Cristo no primeiro Século. Os pais da igreja e da Filosofia como Santo Agostinho de Hipona, Bernardo de Claraval. Vi a riqueza do Século XIX com os alemães, judeus e tantos outros que até hoje norteiam o pensamento humano: Freud, Marx, Weber, Nietzsche, Scheilemacher e outros. Li até mesmo aqueles que se opõem a minha forma de pensar e crer como Richard Dawkins, Cristopher Ritchens e Dan Brown. Ou que mexem com nosso jeito de pensar como Rubem Alves e Mario Sérgio Cortela.

Todos fazem nossas mentes vibrar e refletir. Consequentemente fazem nosso desejo de compartilhar e testar nossas ideias crescer a cada dia. Sites, fórum, blogs, hoje multiplicam e dão ainda mais vida a nossa vontade de ler e conversar, dialogar, discutir e confundir. Faço uso de todas as formas, mesmo ainda sendo usuário da velha dupla papel e caneta. Não consegui ainda aderir a leitura dos E-books, prefiro o papel.  Aprendi a lidar com meu ¨insights¨ sempre anotando no momento que vem e, saiba-se que são muito comuns ao acordar, quando ainda não me dei conta do dia e da vida, a mente está mais solta e sem preconceitos. Aliás, atitude muito louvável ao se ler.

Fica ainda um mistério a solucionar, a descobrir. Se por um lado sou um ¨peixinho filho de peixe¨, tenho alguma dificuldade em fazer o mesmo com meu filho. Talvez ainda não tenha despertado para a leitura e para o conhecimento. Ele está rodeado de livros. A própria mãe, que cursou Letras, Teologia, e acaba de se formar em Psicologia, é um exemplo forte, e seria mais uma grande motivação.

Deste modo encerro, porque quem lê muito acaba escrevendo e falando bastante também.

Pastor Junior Martins

7 de Novembro de 2013

Atendendo a um convite para escrever sobre ¨Vida de Leitor¨

P.S.: Tenho um poema publicado em um livro infantil que nunca vi. Tinha cerca de 8 anos de idade, 1982, e como era criança, não me preocupei em pegar um exemplar e guardar. Era sobre fotografia. Ainda me lembro de uma frase do poema. Eu era aluno do Colégio Albert Einstein, Cidade Dutra, São Paulo – SP.

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