UMA QUINTA FEIRA DAQUELAS!

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Reflexões sobre a Páscoa
Texto escrito para a página da IBVB no Facebook em 18.04.2019
Escrevo este texto em uma quinta-feira, véspera de feriado de Páscoa. Muitos costumam chamar esta semana de Semana Santa. Amanhã é a Sexta-feira Santa. O dia está ensolarado e, segundo a previsão do tempo, não deve chover hoje – um dia perfeito. Acordei cedo e já conversei com muita gente pelos aplicativos de celular. Ao sair encontrei com um irmão que me deu boas notícias sobre sua vida. À tarde verei muita gente querida com quem compartilho o Evangelho e as profundidades da Teologia. Vamos compartilhar uma grande refeição juntos e, ao que tudo indica, terei um final de tarde e noite muito bons.
No supermercado ouvi que o Bacalhau estava em oferta. Hoje é dia de comprar Bacalhau para os católicos ou os que ainda guardam este hábito religioso (católico), costume ou superstição. Mais tarde haverá grandes congestionamentos nas rodovias que ligam nossa cidade ao interior e ao Litoral. Filas enormes em pedágios. Festa, sol e mar para alguns. Silencio e mato para outros. Há quem fique indiferente a isto, mas são poucos os que não compraram um ovo de Páscoa, mesmo com os preços exorbitantes do chocolate.
No entanto, é pensando na quinta-feira fatídica ocorrida cerca de 2.000 anos atrás que estamos querendo falar. Falamos da última semana de Jesus antes de sua crucificação. Das suas últimas horas antes de ser capturado.
No domingo anterior ele entrou de forma triunfante em Jerusalém (Mateus 21.1-11, Marcos 11.1-11, Lucas 19.28-44, João 12.12-19). O orgulho poderia ter subido à cabeça. Afinal, o povo parecia amá-lo incondicionalmente.
A segunda-feira trouxe seus desafios e conflitos. Jesus amaldiçoa uma figueira (Mateus 21.18-22, Marcos 11.12-25) simbolizando o que acontece com quem não dá frutos. Ele purificou o tempo e, apesar de nenhuma retaliação instantânea (por medo de povo) a raiva de seus opositores foi aguçada (Mateus 21.12-16, Marcos 11.15-18, Lucas 19.45-48).
Na terça-feira Jesus ensina no templo e discute com os religiosos (Mateus 21.23-23.39, Marcos 11.27-12.44, Lucas 20.1-47). Neste contexto ele conta três parábolas: dos dois filhos (Mateus 21.28-32), dos lavradores maus (Mateus 21.33-46, Marcos 12.1-12, Lucas 20.9-19) e das bodas do filho do Rei (Mateus 22.1-14). Ele observa a viúva pobre dando sua oferta e extrai ensinos dali (Marcos 12.41-44, Lucas 21.1-4). Também prega um sermão escatológico (Mateus 24.1-25.46, Marcos 13.1-37, Lucas 21.5-38). Nesta ocasião Jesus falou sobre a destruição do Templo e a Vinda do Filho do Homem, ou seja, sua Segunda Vinda.
Na quarta-feira surge efetivamente o plano para mata-lo (Mateus 26.1-5, Marcos 14.1-2). Dentro de dois dias Ele seria entregue aos seus algozes. Tudo já estava planejado contra Ele. Em um dos momentos mais comoventes de sua trajetória seria ungido por uma mulher misteriosa preparando o seu corpo para a morte (Mateus 26.6-13, Marcos 14.3-9, João 12.1-8). Judas, um dos seus discípulos, além de ladrão, revela-se como conspirador e traidor (Mateus 26.14-16, Marcos 14.10,11, Lucas 22.1-6).
Chega a quinta-feira. Como todo judeu, Jesus comemora a Páscoa com seus discípulos – Deus os livrara da opressão egípcia com mão poderosa, o Anjo da Morte poupara aqueles cobertos pelo sangue de animais (Mateus 26.17-25, Marcos 14.12-21, Lucas 22.7-16). Jesus dá instruções aos seus discípulos acerca dos preparativos para a Páscoa indicando o cenáculo que serviria para a ocasião. Quando já estavam sentados para a refeição pascal, Jesus revela aos doze discípulos que o traidor estava entre eles. Muitas coisas estão acontecendo naqueles momentos: a própria Ceia do Senhor (Mateus 26.26-30, Marcos 14.22-26, Lucas 22.17-23, ver também 1 Coríntios 11.23-25) momento no qual a história começava a mudar profundamente; os pés dos discípulos são lavados por Jesus (João 13.1-20); Jesus conversa com Pedro prevendo, inclusive, que ele iria negá-lo (Mateus 26.31-35, Marcos 14.27-31, Lucas 22.31-34, João 13.36-38); mesmo diante da própria morte prevista e das traições, Jesus é quem consola os discípulos (João 14.1-16.33) e ainda ora por eles e também por nós (João 17.1-26); parte para o jardim do Getsêmani (Mateus 26.36-46, Marcos 14.32-42, Lucas 22:39-46, cf. João 18:1) onde fará uma das orações mais intensas e sangrentas de sua vida (Lucas 22.39); ali mesmo, vendido por 30 peças de prata – o preço de um escravo – recebe o beijo da traição e é preso (Mateus 26.47-56, Marcos 14.43-52, Lucas 22.47-53, João 18.1-12); já tarde, é levado para um dos julgamentos mais injustos e mais rápidos da história: a sentença já estava proferida. – não importavam as provas e as testemunhas, muito menos a verdade (Mateus 26.57-68, Marcos 14.53-65, Lucas 22.54,66-71, João 18.19-24); aquela noite ainda seria coroada com a negação de Pedro (Mateus 26.68-75, Marcos 14.66-72, Lucas 22.54-62, João 18.15-18,25-27).
Que contraste entre aquela quinta-feira e a nossa quinta-feira! Hoje somos conhecidos e chamados de cristãos. Entretanto, pouco nos conectamos com Jesus e o auge de sua vida e ministério ocorrido naquela semana, naquela quinta-feira. Foi uma semana de muito trabalho e de sentimentos muito intensos. Havia muito para ensinar – e foi ensinado. Havia muito para exemplificar – e Ele foi o exemplo. Os inimigos não podiam ficar sem resposta – e as tiveram. A dureza da rejeição e da traição não podiam ser ignoradas – e não foram. Um jantar tão importante, era Páscoa, não podia ser abandonado mesmo que à mesa estivessem traidores ou outros que não se davam conta do que acontecia diante dos seus olhos – e nada deixou de acontecer.
Estamos, mesmo sem saber, ligados irremediavelmente àquele dia. As verdades divinas estão diante de nós. Se nós somos como uma figueira sem frutos, Ele pode nos secar murchar. Se nós corrompemos a verdade e ofertamos daquilo que nos sobra, não podemos esperar aceitação plena. Se nós somos convidados à mesa do Senhor, devemos pensar se ali estamos de modo digno. Se nós não atentamos para nossa própria ignorância e insensibilidade, não percebemos a presença de Cristo em nossas vidas – mesmo assim seus planos seguem. Se ele lavou os pés dos discípulos, nós devemos fazer isto muito mais. Se não compartilharmos de sua dor e o seguirmos sem negá-lo é porque não temos parte com Ele.
Aquela quinta-feira não se repetirá. Nem mesmo é necessário – tudo está consumado! No entanto, os ensinos que emanam daqueles dias são eternos. Estão registrados para serem lidos e compreendidos. Ensinos que nos trazem vida e nos dão a dimensão do que foi feito por nós, mesmo que não mereçamos, mesmo que não compreendamos.
Jesus Cristo é a nossa vida e o motivo do nosso louvor. Ele é Deus conosco. Viveu nossa fraqueza e se fez sacrifício no nosso lugar.
Que Deus nos abençoe e que, em uma quinta-feira tão maravilhosa (pelo menos para mim) tal meditação ocupe nossas mentes e corações para que nossas vidas continuem a serem transformadas por Cristo e seu poder.
Pr. Júnior Martins
18.04.2019
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