Smith, James K.A. Desejando o reino: culto, cosmovisão e formação cultural. São Paulo: Vida Nova, 2018. 240 páginas.
Palavras-chave: adoração, cosmovisão, culto, desejo, idolatria, liturgia.
Devemos estar constantemente preocupados com os ataques externos que a igreja recebe. E eles são muitos, como a pressão feita pela secularização e as perseguições, sejam elas mais diretas e ferozes, sejam ela mais sutis, etc. No entanto, devemos levar nosso foco a observar nossas distrações e incoerências internas como igualmente destruidoras da vitalidade de cada um e da fé cristã. Há um grande desafio posto diante da igreja: educar os crentes e fomentar uma fé viva e operante. Algo muito desafiador. Talvez não estejamos mais enxergando as possibilidades da fé cristã como ela se coloca diante de nós por termos uma visão obscurecida por tantos anos de tradicionalismo obtuso[1] e, quem sabe, até mesmo pelo excesso de zelo. James K. A. Smith é um filósofo canadense que atualmente é professor de Filosofia na Calvin College, onde ocupa a cadeira Gary & Henrietta Byker em Teologia e Visão de Mundo Reformada Aplicada. Ele é uma figura notável associada à ortodoxia radical, um movimento teofilosófico dentro do cristianismo pós-moderno. É um ator que várias vezes ao longo do livro imagina a visita de antropólogos marcianos em solo terrestre visitando igrejas e assistindo de camarote a vida dos crentes, procurando compreender o significado e a coerência do que é feito e dito. A linguagem do livro é simples, apesar da erudição do autor. O livro é recheado de exemplos práticos e uso de literatura e eventos cotidianos. As seções do livro chamadas de ¨Para pensar¨ contrabalanceiam afirmações e análises mais profundas, conectando o leitor ao cerne de cada ponto tratado.
O foco do autor é a Educação Cristã visando esclarecer a forma como realmente aprendemos e como a igreja está perdendo terreno e possibilidades ao não perceber as reais dimensões da capacidade humana de aprender e apreender, já que reduz o ser humano ao cérebro.
O capítulo final é dedicado ao contexto universitário, contexto no qual onde muitos jovens se perdem por causa de uma desconexão deste novo mundo (o universitário) com a igreja. Mesmo tendo como foco a reavaliação da vida e currículo das universidades cristãs no ambiente canadense e americano, o livro é um bom material de estudo e análise para as igrejas cristãs brasileiras e seu líderes (pastores e educadores religiosos).
O que segue é um breve resumo levemente comentado para compreensão do livro de forma simples. Com exceção de pequenas divergências de natureza denominacional e cultural, como o uso de álcool (o autor fala da quarta-feira do vinho como forma de culto e liturgia em uma reunião com amigos) e do uso do Credo e do Livro Comum de Oração da Igreja Anglicana, temos muita convergência com a visão do autor.
O homo liturgicus é o homem que vive a aprender pelo amor e pelo desejo. Descartes não levou em consideração o fato de que o homem não é capaz de apenas pensar, mas simultaneamente é tomado, durante o ato de pensar, por inúmeras sensações físicas e corpóreas. A psicanálise, com a grande virtude de reconhecer a existência dos conteúdos inconscientes, ou subconscientes, também pecou pelo reducionismo, já que a nossa formação e nosso desejos, que construídos ao longo da vida, formam, deformam e (re) informam nossas prioridades, desejos, sensações e atos. As teorias cognitivo-comportamentais também ignoram o fato de que em nossa formação não há aspectos apenas cognitivos (racionais – o que o autor chama de um túnel estreito formado por pensamentos e teorias), mas também é formado por aspectos afetivos importantes (muito mais amplos que os cognitivos – sentimentos, percepções, racionalizações, etc.).
Temos a capacidade de redirecionar nossos comportamentos e pensamentos de acordo com fatos e circunstâncias, locais e pessoas, pressões e conveniências estando, mesmo assim, convictos e conscientes da mudança de nossos pensamentos e comportamentos no momento em quem estes são alterados. Forças externas (físicas e corpóreas) também influenciam nossas ações. Se nenhuma destas forças é determinante para a formação da nossa cosmovisão, por outro lado, elas têm parcela importante na participação nestas ações. Conclui-se que, como seres litúrgicos, ou seres que amam, somos o resultado de ações muito complexas.
Seria um exagero afirmar que todas as nossas ações são preponderantes para formar nossa cosmovisão ou modificar ou determinar nossa vida. Por isto, podemos dividir nossos hábitos em tênues(que não modificam o que somos – como escovar os dentes, p.ex.) e densos(caracterizam o que somos – como cultuar a Deus já que este ato exige presença física, conhecimento da doutrina, expressão do coração, sentimento da alma). Os nossos hábitos densos podem ser automatizados e operar dentro de nós como aquilo que outrora convencionamos chamar de inconsciente – este é o novo inconsciente – foi-se o desejo e a compreensão da riqueza com o que se está defronte.
Este mesmo processo é desencadeado fora da igreja, no mundo. Há um mundo determinado a moldar nossa cosmovisão, nossa mente e percepção – a forma como seremos como pessoas. Mas como não sermos sugados pela cultura? Quando nossa participação na cultura passa a ser assimilação desta mesma cultura, devemos lembrar, por exemplo, da literatura apocalíptica que, como comumente vemos é uma expressão da ira de Deus para um mundo caído, é também (e esta é a dimensão que ignoramos) um convite a rebelar-nos contra esta cultura. Um dos modelos desta captação da alma humana a que nos referimos é o shopping:
O Shopping, podemos dizer, imita este velho axioma frequentemente repetido pelos evangélicos: talvez sejamos a única Bíblia que as pessoas lerão. Isto é, o Shopping não comunica sua história por meio de folhetos e preleções didáticas, mas por meio das personificações visuais de vida feliz e ícones em 3D que acabamos reverenciando como ideais dignos de imitação. Pelo fato destes meios visuais e viscerais operarem em nosso imaginário mais do que em nosso intelecto e se infiltrarem em nossa imaginação, eles são absorvidos de forma paulatina e sub-reptícia em nosso kardia, centro nervoso de nossa orientação em relação ao mundo. Neste sentido, eles se comportam como liturgias e pedagogias extremamente eficazes. Eles estão nos transformando em certo tipo de pessoas sem que nos demos conta disto (p. 98).
Não nos damos conta, mas o que acontece no shopping é um culto ao consumismo e ao materialismo, alimentado por nossos desejos e vontades. A questão é que objetos deveriam ser usados e não desfrutados. Com isto queremos dizer que o Shopping é um lugar onde podemos usufruir coisas boas, mas ele não deveria captar toda nossa atenção e forças, ou seja, tornar-se nosso objeto de culto. Nossa alegria e culto deveriam pertencer a Deus. Além do shopping, há outros elementos da cultura que também podem roubar o coração do homem, como o patriotismo e o nacionalismo (muito mais presentes na cultura americana da qual o autor faz parte).
O nacionalismo exige lealdade e os americanos, por exemplo, o exaltam por meio daquilo que é atraente ao povo como nos esportes (NFL, Nascar, NBA, etc.), por exemplo. Durante os jogos decisivos e finais de campeonato que que acontece é muito parecido com um culto: há um processo de abertura, música, fogos, etc., que convidam e falam ao coração dos expectadores. A linguagem daqueles que exigem patriotismo dos outros é também de característica religiosa: exige-se apego a terra natal.
A universidade é também um lugar de culto, uma entidade litúrgica ¨animada por rituais e liturgias que constituem a pedagogia do desejo¨ (pág. 115). A universidade possui rituais de aceitação, formação e comissionamento, como acontece na religião:
¨a melhor maneira de compreender esta ideia consiste em vê-la não como uma disposição intelectual básica que permitiria a formação de crenças teístas, mas como a disposição passional para adorar. O pecado e a queda podem erradicar o conhecimento de Deus porque este requer um tipo de relação que se perdeu com a queda. Contudo, o pecado e a queda não podem erradicar esta semente da religião, este impulso para adoração. Por isto, para Calvino, até mesmo a idolatria é testemunha na natureza essencialmente litúrgica e religiosa da humanidade (p. 126).
Assim, não somos seres exclusivamente pensantes, mas seres que amam e desejam. O discipulado (a educação cristã) implica em desejar a Deus e seu Reino e na rejeição, a todo custo, de todo tipo de liturgia mundana ou secular.
É preciso ressaltar ainda que a adoração cristã e o culto formal (na igreja) possuem características singulares que não podem ser imitadas ou reproduzidas de outra forma como no culto a natureza, culto solitário em casa, substituído pelo trabalho, pela prática de esportes, pelo cuidado (culto) ao corpo, etc. Da mesma forma, o discipulado cristão e a vida comunitária (eclesial) não podem ser imitadas e reproduzidas de outra forma. Lembremos: há várias liturgias seculares concorrentes (shopping, patriotismo, nacionalismo, esportes, universidade, etc.).
O fundamental desta tese é o como fazer (know-how). De fato, o grande desafio é resignificar (ou significar novamente, ou seja, redescobrir o significado) de tudo aquilo que o Reino de Deus e a igreja compreendem, e/ou detém, particularmente. O automatismo, o tradicionalismo, a concorrência das liturgias seculares e o excesso de zelo nublaram o significado e a expressão da vida cristã. A riqueza diante da igreja tem passado despercebida ao mesmo tempo em que tesouros e pérolas desta mesma realidade têm sido guardados a sete chaves (alguém jogou estas chaves fora?).
O culto é um busca pelo tempo superior em contraposição ao presentismo – o simples e puro aqui e agora. A oração dominical inclui um pedido importante: ¨Venha a nós o vosso Reino¨. Basicamente é um clamor pela presença do próprio Deus em meio ao seu povo. É curioso como podemos cultuar a Deus ignorando a possibilidade da sua presença ou, na verdade, como podemos ser capazes de imaginar que isto seja possível?
Quando a igreja se reÚne ela está admitindo que a humanidade fracassou retumbantemente diante de Deus e para consigo mesma, e que ali, reunida como igreja, procura (re) descobrir ou retomar a Imago Dei, nos transformando em seres humanos de verdade – tal qual Deus nos fez.
A saudação e a hospitalidade daqueles que são do Reino constituem parte importante desta dimensão passional e emocional do Reino. Há ali a possibilidade da retomada dos relacionamentos porque somos seres relacionais. Estes também são atos litúrgicos, atos de culto e de celebração da vida que nos é dada por Deus.
Somos o povo do livro, mas também deveríamos ser lembrados, conhecidos e reconhecidos como o povo do hino (hinário). A música deve rememorar os conteúdos da fé (doutrinas) de forma afetiva. A hinologia é capaz de reproduzir de forma sintética, precisa e afetiva (uma espécie de teologia compactada) os conteúdos mais importantes da fé. Por isto, não devemos cantar qualquer coisa e nem de qualquer maneira. A música e a hinologia é capaz de reproduzir o que há de mais profundo no coração e é uma das formas escolhidas por Deus para que seu povo se encha do seu Espírito, coisa na qual não há nada de racional (ou muito pouco), afetivamente. É a possibilidade de união e comunhão com Deus – Efésios 5.18-20.
Mesmo quando se trata das normas e regras no meio do povo de Deus, e elas existem e são necessárias, o aspecto da liberdade não está limitado por estas mesmas regras e leis. Não queremos dizer com isto que elas devam ser quebradas, mas que a criatividade, e o exceder o que está determinado (como disse Jesus aos seus discípulos: ¨se a vossa justiça não exceder a justiça de fariseus e escribas de modo nenhum entrareis no Reino dos Céus¨- Mateus 5.20), operam no coração humano, inclusive como fatores orientados pelo próprio Espírito de Deus. Fomos criados para transcender!
Faltam nos nossos cultos os momentos de confissão de pecados, arrependimento e perdão. Não estamos, de modo geral, conectados com tradições religiosas que possuem fórmulas de orações e liturgias escritas e sacramentadas que celebrem este momento (como O Livro Comum de Oração da Igreja Anglicana). Entretanto, devemos lembrar que, mesmo em tradições religiosas que compactam estes ensinos em literatura própria, tal literatura é resultado da adaptação e releitura de passagens bíblicas, ou seja, o material que é a fonte comum para os cristãos que é a Bíblia continua sendo nosso guia de oração.
O batismo pode ser celebrado dentro de um automatismo racional e desconectado – um simples ato simbólico sem maiores consequências. E, geralmente nos perguntamos: o que fazer agora com aqueles que acabam de ser recebidos pelo batismo? No entanto, o batismo é, em primeiro lugar, o rito que nos coloca dentro da comunidade da fé e que celebra nossa iniciação. O batismo tem o poder de igualar todas as pessoas independentemente de quaisquer diferenças de raça, credo anterior, cor, extrato social, etc., já que todos passam pelo mesmo ato da mesma forma. Talvez o aspecto mais significativo do batismo seja o da renúncia, ou seja, aquele indivíduo novo crente que é recebido pelo batismo em uma comunidade cristã está renunciando sua vida anterior e seus valores pregressos e, por consequência, assumindo novos valores que, além de viver, também ensinará. Há registros de liturgias batismais antigas em que os candidatos deviam afirmar em alta voz todas as suas renúncias ao mundo, ao Diabo, aos desejos pecaminosos, etc.
Os credos, desconhecidos e ignorados por muitos, demonizados e dessacralizados por outros, são outro elemento importante dentro da liturgia cristã. Eles são, nas palavras do autor, nosso Hino à Bandeira da Igreja, já que nos conectam com uma longa tradição. É o momento do creio durante o culto no qual são relembrados e balizados os fundamentos da nossa fé. Mas quem não estranharia a recitação do Credo Apostólico, por exemplo, na liturgia de muitos dos nossos cultos? No entanto, podemos pensar em várias outras formas de ensiná-los ao povo ressaltando sua relevância e importância em conexão com nossa fé.
A oração é a linguagem do Reino. Quando pedimos por meio da oração exercemos nosso sacerdócio ao nos importarmos com pessoas próximas e com o mundo em geral. É o momento em que a transcendência (aquilo que está além de nós – o próprio Deus) e a imanência (a capacidade deste Deus de interagir conosco) são ativadas plenamente.
A própria Bíblia deve ser mais explorada como uma narrativa, como a grande história da Salvação do povo de Deus. Muitos ignoram o fato de que a Bíblia foi escrita para o povo (em linguagem simples) no sentido de mantê-lo atento à vontade e aos atos de Deus por meio dos seus feitos no passado. Além disto, a Bíblia é a Constituição do Povo do Reino, mas principalmente a responsável por construir de forma saudável o imaginário cristão sobre como devemos nos relacionar com Deus, que fala sobre qual mundo fazemos parte e para que tipo de mundo devemos trabalhar.
A Ceia do Senhor é feita com elementos triviais, o pão e o vinho, e com isto mostra que Deus participa do nosso dia a dia. A Ceia é também um anticlímax santificado, ou seja, uma antecipação da refeição que teremos com Deus em seu Reino, conforme anunciado e prometido por Jesus. Todo este simbolismo deve ser vivificado na mente e coração da igreja.
As ofertas e os dízimos são a mostra da conversão do bolso e do coração humanos, que gratos e obedientes, convergem seus bens para a Glória de Deus. Constituem-se sim em uma troca – uma troca de gratidão e de reconhecimento.
Quando enviamos missionários ao mundo, mas ainda antes disto, quando cada crente se compreende como um enviado ou como um missionário, também contribuímos deste modo como parte do nosso culto e celebração a Deus. É a hora de agir. É a hora de pregar. É a hora de expressar de fato toda riqueza de nossa fé obedecendo a Deus e expressando sua Vida e alegria entre os homens.
Quando falamos de todas estas dimensões e possiblidades da vida e da fé cristãs podemos ficar paralisados diante de tanta coisas que podemos/devemos fazer. A vida cristã se dá no culto coletivo do domingo, mas não se limita a ele. Toda vida deve ser culto e celebração.
Nada do que foi dito nos últimos parágrafos sobre o dia a dia da prática da igreja constitui uma novidade. No entanto, racionalizamos e esvaziamos tanto o significado de todo este arcabouço espiritual grandioso da vida cristã que mal nos damos conta de que nossa vida florescerá se toda ela for culto a Deus. Esta racionalização e este esvaziamento são formas de desprezar a presença de Deus, ignorar maneiras que ele mesmo elegeu para se relacionar conosco gerando vida e saúde.
Somos seres litúrgicos, feitos para adorar e amar com a mente e o coração, mas há uma disputa por este coração e a Educação Cristã deve levar estes dois elementos em consideração. O Cristianismo não é uma religião apenas da mente, mas do coração: a igreja tem mirado muito na cabeça, mas muito pouco no coração!
É sugerido uma espécie de monasticismo cristão, uma forma de estar no mundo, mas não se sujeitar a ele, ao mesmo tempo que se vive os valores do Reino em um mundo corrompido. Apesar de não citar, soa muito parecido com o ascetismo intramundano citado por Max Weber, ao não se deixar seduzir por este mundo, mesmo que seja necessário viver nele e dele, construímos nossa identidade de cidadãos do céu, sem negar ou negligenciar nossa cidadania terrena – dando a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
Definitivamente devemos ver o cristianismo como um corruptor do mundo (ou descorruptor), como aquele que quer roubar corações e não apenas ser mais uma cosmovisão em meio a tantas, como uma espécie de alternativa do bem.
Devemos lembrar da palavras do Apóstolo Paulo em 2 Coríntios 2.5 que diz: ¨destruindo todos os conselhos, e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo¨. Infelizmente, estamos muito ocupados ensinando erroneamente as pessoas a serem as melhores naquilo que fazem quando, na verdade, não deveríamos enxergar qualquer outra possibilidade de vida fora de Cristo. Não é uma questão de sermos melhores ou não, é uma questão de vida ou morte na qual nosso coração é disputado para se tornar fiel a Deus ou a Mamon, ou a tantos outros deuses que se imponham neste politeísmo secular.
Jovens cristãos, quando são inseridos na universidade, estão sujeitos ao um mundo no qual não há nenhuma mediação da igreja. Se o cristianismo quer mudar o mundo, deve passar pela Universidade para mudá-la também, e não ser apenas mais uma resposta racional entre tantas. Tomamos a universidade como exemplo, por causa do foco do autor, mas não devemos negligenciar o fato de que toda criação deve estar sujeita a Cristo ou, como nas palavras de Abraham Kuyper: ¨Não há um único centímetro quadrado, em todos os domínios de nossa existência, sobre os quais Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame: “É meu!“, sujeita totalmente a Ele.
O problema da forma como tratamos a cosmovisão é que operamos apenas uma espécie de domesticação da fé cristã, e não nos preparamos para um conflito de cosmovisões arquirrivais. É como se ensinássemos os crentes apenas a fazer tudo o que todos fazem, mas acrescentando Jesus, quando o problema está de fato na base, na raiz, no alicerce, no coração!
A Educação Cristã deve conectar os crentes às práticas densas da igreja: culto, celebração, comunhão, hospitalidade, batismo, ofertas, etc. As universidades cristãs também devem ter esta conexão como objetivo.
Adoro para compreender, e não mais (ou apenas) creio para compreender. O coração é uma fonte de desejo e de valoração e validação daquilo que nos é caro e não pode ser negligenciado.
A tensão que há na Universidade é simbólica daquilo que acontece fora dela: alguns temem que a religião forme uma massa de seres acríticos e acéfalos incapazes de produzir e questionar. Na contramão, há aqueles preocupados com a desconexão das realidades espirituais e todos os reducionismos inerentes a qualquer cosmovisão que ignora a existência de um Criador. Duas dicotomias perigosas, mas muito presentes, tal qual na nova gnose que dicotomiza o homem em duas instância, o corpo e a alma, desprezando e diminuindo o valor do corpo (coração – kardia).
Sejamos mais cardíacos. Amemos a Deus com todo coração, alma e entendimento.
[1] Para que fique bem claro e acentuado usei a palavra tradicionalismo e não a palavra tradição. A tradição é o patrimônio irrevogável e intransferível da igreja cristã que a conecta com as principais doutrinas e práticas da igreja construídas pela interpretação das Escrituras e pela vasta experiência daqueles que nos antecederam. O tradicionalismo implica em duas distorções claras: a redução da vida da igreja aos usos e costumes mal interpretados, mas com aparência de zelo e, concomitantemente, a recusa em atualizar as práticas sem prejuízo da doutrina e da tradição.
1 comentário
Aqui é a Karina Da silva, gostei muito do seu artigo tem
muito conteúdo de valor, parabéns nota 10.