Uma pedra de tropeço constante: nossa forma de viver
“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens” – Mateus 5.16.
“…. criados em Cristo Jesus para as boas obras.” – Efésios 2.10.
“… deixemos todo embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia.” – Hebreus 12.1.
A pior coisa que produzimos quando damos mau testemunho é dar aos outros o direito de justificarem suas vidas sem Deus nas nossas que, com Deus, não são exemplo também. É sempre bom que notemos que, de fato, as pessoas nos observam muito mais do que imaginamos. Colocamo-nos na condição de arautos da verdade e portadores das Boas Notícias e, obviamente, somos cobrados por isto.
O testemunho não é uma forma de representarmos a nós mesmos, nada disso. É uma forma de representarmos o próprio Jesus, aquele que nos delegou esta tarefa. É uma exposição da nossa vida sob o efeito do seu poder e graça.
Até bem pouco tempo atrás se tornar cristão era uma decisão difícil porque necessariamente se tinha que abrir mão de muitas coisas e mudar muito (para não dizer “completamente”). Hoje já é tolerável ser cristão sem mudar de vida. Fico impressionado com muitos que andam por aí chamando os outros de irmão.
O Cristianismo anda misturado com todo tipo de coisa: espiritismo, espiritualismo, moda, música, etc. A confusão é tão grande que já perdemos o padrão, perdemos a ideia do que é ser cristão, perdemos a identidade.
Jesus Cristo e seus apóstolos gastaram boa parte do seu tempo orientando os crentes a terem um modo diferente de vida dos outros. Isto, não porque simplesmente faz parte de uma obrigação, mas, como disse Jesus várias vezes, o “Reino de Deus é chegado a vós”.
As antigas máximas de “mudança de direção” e de “mudança de mente” prevalecem no nosso tempo e ganham força e intensidade no meio de nós como nunca.
Antes de qualquer coisa nos enganamos a respeito do fato de que devemos mudar de vida somente porque pode ser melhor. Muitas vezes é o recado que transmitimos. A Bíblia nos ensina a ter aversão pela vida passada e a ter aversão a vida do ímpio ou do homem sem Deus. Ser cidadão do Reino é a única alternativa que nos resta se queremos nos salvar. Admitir o contrário é o que faz com que tenhamos um pé firmado no Reino e outro firmado no Mundo (se é que nestas condições alguém pode estar firme em algo).
No enganamos também com a prática do bem como forma de ganhar aqueles que estão perdidos. Isto é na verdade característica intrínseca da natureza regenerada. O bem se faz ao que não merece (como aconteceu conosco), se faz ao inimigo (como aconteceu conosco), se faz que não pode devolver o favor (como aconteceu conosco), se faz até a quem não pode nos ver (como também aconteceu conosco) é pressuposto de tudo isto.
Enganamo-nos também quando não nos julgamos em condições de ofertar o plano de salvação aos outros por não vivermos muitas facetas do mesmo plano. Pecadores somos e seremos até o derradeiro dia na luta desenfreada para nos livrar de quem nos domina por natureza. A falta de viver o que se prega está primeiramente associada à dificuldade de se reconhecer como pecador e, depois como sintoma de falta de caráter. Ademais é apenas uma pedra de tropeço criada por nós mesmos para amplificar aquilo que ainda não foi mudado e, anular-se na tarefa transmitida pelo Espírito.
Enganamo-nos também quando recebemos sinais de que o caminho que estamos trilhando é, no mínimo, inconveniente e não reagimos. Quando a Bíblia diz que Deus repreende a quem ama e açoita quem recebe por filho não diz, necessariamente, como acontece. Desde o autoexame como forma de nos corrigirmos, a repreensão dos que nos são mais próximos, a acusação dos que nos são mais distantes, a repreensão dos nossos líderes incluindo o pastor, a repreensão por parte da igreja, um desconforto gerado por uma situação calada pelos lábios, mas gritante na sua forma, podem ser formas do cuidado de Deus.
Não temos também a inconstância de nossa vida como forma de testemunhar mal. Ora estamos aqui, ora estamos lá. Ora queremos e depois não queremos mais. Ora fazemos ora não fazemos. Nem mesmo sabemos que podemos esperar de nós mesmos. É bom testemunho o famoso e conhecido Sim, Sim ou Não, Não. Já cientes disto não podemos nos arriscar a formular proposições que não podemos sustentar, nem mesmo viver uma vida que também não possamos sustentar. Romanos 12 já nos alerta para isto, ou seja, não pensar de si mesmo mais do que convém.
Ainda que preguemos a todos os cantos que o pecado seja sempre a mesma coisa, na verdade, vivemos classificando pecados em diversas categorias: os que só prejudicam a mim, os que posso esconder, os menores que os dos outros, os pecados toleráveis e os intoleráveis, etc. Interessante é o fato de que não cobramos de nós o que esperamos dos outros. Nosso pecado é sempre compreensível e justificável, quando não acontece de não ser considerado como pecado. Damos outros nomes como Prova, Tribulação, Perseguição, Ação Demoníaca, Mal Entendido, e por aí afora.
Outro perigo quanto ao mau testemunho é o sentimento de impunidade que pode ser criado no nosso coração confundindo a misericórdia a nós estendida como licença para pecar ou fazer o que quiser. Há sempre um tempo de ajuste e reajustes. Toda atitude inconsequente tem no seu princípio um “que” de segura mais um pouco porque pode ser que melhore ou mude. É o período de incubação, ou seja, quando o pecado se instala de forma intensa. O mal ao ser detectado deve ser cortado na raiz, antes de formar seu tronco, seus galhos e suas folhas e consequentemente seus frutos.
Se sou testemunha de Jesus, se aceitei esta tarefa, devo também, como parte da missão, cuidar de mim mesmo para que o plano para mim se cumpra. Não vivemos isoladamente, ainda que queiramos, nem todos ao nosso redor são desatentos ao que acontece. Muita coerência é cobrada de nós e um tipo de vida mais elevado também. Precisamos em nosso meio de cada vez mais nobreza porque somos cidadãos de um Reino, o Reino de Deus.