O mês de Abril tem um dia interessante e é logo o primeiro: o Dia da Mentira. A sociologia diz, ou pelo menos alguns sociólogos dizem, que a mentira é uma “instituição absolutamente necessária”. Somos até tentados a concordar.
Se estendermos nosso entendimento de mentira como dissimulação, como omissão, como meias-verdades aí a coisa pega de verdade. Não tenho medo de afirmar que todos nós somos em certo sentido mentirosos, a começar daqueles que acham que não são. Coraríamos de vergonha e dor se todos nossos pensamentos e desejos fossem expostos a luz do dia em um telão montado na rua da nossa casa. Diante de questões embaraçosas e de confrontação não desvendamos o que somos, logo, muitas vezes, mentimos.
Os mesmos sociólogos que institucionalizaram a mentira veem nela um bem. Imagine só se encarássemos a realidade nua, crua e cruel como ela é. Se olhássemos nossa condição de perto e com olhos exigentes, talvez chorássemos. E, não apenas mentimos, mas também cremos em mentiras sem as quais seria também difícil de respirar. Mentimos para proteger pessoas, para ocultar nossos erros e falhas, para mostrar que estamos melhores do que realmente estamos e até para mostrar que estamos piores (quando isto convém). Há pessoas tão craques nesta ardilosa tarefa que sequer coram as bochechas ao mentir. A mentira está tão impregnada em nós que mentimos até sem saber que estamos mentindo. Mentimos por mentir.
A mentira serve até para brincadeiras. Em alguns países na Europa, por exemplo, há empresas grandes cujos presidentes chegam a anunciar, em grande estilo e escala, no primeiro dia do mês de abril, novidades e grandes empreitadas que empolgam os consumidores de modo imediato, mas são desmentidas logo em seguida.
A mentira foi trazida e ensinada pelo Diabo e logo acatada por todos os mortais (por mortais entenda homens e mulheres). E, logo passou de aliada diante da dor e da vergonha para inimiga mortal, distanciando o ser humano do seu foco, ludibriando, enganando e trazendo sonhos, que ao despertar, mostram-se pesadelos terríveis. Aquela que um dia foi alheia hoje parece quase parte de nossa existência. Veja seu primeiro ato em Gênesis 3 quando uma verdade se tornou uma mentira e o que aconteceu.
Ela esta aí e precisamos dar uma resposta a ela – combatê-la com a verdade. Não vamos discutir se existe mentira branca, azul ou verde… Se existe mentira para o bem ou para o mal… Desde já: Mentira é Mentira. Mentira é enganação, ludíbrio, associação de idéias com o Maligno, máscara, encantamento…
O remédio para a mentira é a verdade, sem dúvida. Mas devemos perceber como esta verdade deve se apresentar. Geralmente a gente entende a verdade como em oposição a mentira. Permita que eu me explique melhor. Já que minha condição natural é a que me inclina para o pecado de mentir devo ser forte para lutar contra esta inclinação, ou seja, seria este o pensamento natural. Quero, no entanto, propor algo um pouco diferente, ou seja, permitir que a verdade tome os espaços da mentira e se torne uma condição de existência. A gente tem muita coisa a esconder e ser verdadeiro neste sentido não é sair “vomitando pra todo lado” o que somos e pensamos. Não, nada disto. Seria, por esta minha proposta, sermos ocupados pela verdade para, aí sim, exalarmos o “perfume da verdade”. Dá pra entender?
Uma proposta que não é o mesmo que “esconder a sujeita debaixo do tapete”, nem mesmo assumir desavergonhadamente nossa condição mentirosa. Sinceramente, não é vantagem nenhuma assumir que sou mau só para mostrar que sou “verdadeiro”. Nem tampouco, uma proposta que signifique esconder. É na verdade assumir uma nova condição. Não quero esconder o mal que faço, quero não fazê-lo. Não quero ser corajoso para assumir os erros que cometo, quero não cometê-los mais. Não ter nem mesmo motivos para mentir.
Mentira é sempre prejuízo. Prejuízo da alma, das relações, das situações, da vida como um todo. Mentir é perder. Há quem se considere corajoso por mentir. Coragem é falar a verdade. Mentir é atitude de fracassado ou de quem vai fracassar. A gente, quando aprende a confiar em Deus de verdade teme menos o que pode acontecer quando a verdade é nosso guia. Assim chego a conclusão que os valores que tenho devem, também, ser diferentes, até para que o meu conceito de ganho e prejuízo seja conforme a vontade de Deus.
A mentira é sempre, também, uma coisa de um mundo paralelo que pouco, ou nada, tem a ver conosco. Ou seja, é um reportar-se a outra instância na qual, as coisas que nos convém, fazem sentido de algum modo. Uma verdadeira ilusão que mais dia ou menos dia acaba se desfazendo bem diante dos nossos olhos e desnudando-se de forma vergonhosa. Logo, o remédio para a mentira é o “pé no chão”. Pé no chão, isso mesmo, não ser um iludido ou deslumbrado que tem a cabeça em universo paralelo, distante e individualista.
Finalmente, a mentira e a verdade, são também o mote do nosso juízo. Há uma lista terrível de impedidos de entrar no céu na Bíblia (conhece?). Os “mentirosos” estão nela. Podemos amargar condenação eterna se a mentira faz parte do nosso dia-a-dia. A presença dela em nós é um impedimento definitivo para nossa santidade e fé. Parece que Deus gosta de gente verdadeira.
A mentira está ao nosso redor constantemente. Deus nos dê sabedoria, discernimento e coragem para reconhecê-la, enfrentá-la e derrotá-la.
Deus nos abençoe contra mais esta inimiga tão cruel de nossas almas.
Pastor José Martins Júnior
Abril de 2008
1 comentário
Quando a mentira torna-se um hábito as consequências são quase irreversíveis. Mesmo para pessoas que não pertencem a alguma religião, a mentira vai contra os padrões morais, no entanto, está impregnada a qualquer núcleo social.
Ao mesmo tempo que é errado, é normal mentir.