PADRES APOLOGISTAS – PATRÍSTICA VOLUME 2 – PAULUS – RESENHA BREVE

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Ano passado decidi por em prática um desejo antigo: ler toda a OBRA PATRÍSTICA! Uma tarefa hercúlea, mas necessária e prazerosa. E eu nem imaginava como. Como a vida é meio desordenada, estou lendo desordenadamente, em certo sentido. Li o Volume I, li o Volume XXVIII, li os 6 livros do sacerdócio de João Crisóstomo, todos no ano passado. Além disto, comecei a ler o volume XXVII/2 do Crisóstomo que é um comentário de Coríntios (este é monstruoso – três volumes com mais de 1000 páginas cada um). Vou passo a passo porque quero chegar em Agostinho de Hipona e ler a Cidade de Deus, um dos Magnus Opus da igreja, ao lado das Institutas de Calvino, da Suma Teológica de Tomás de Aquino e da Dogmática de Karl Barth (9 milhões de palavras – em alemão). Aqui vai o comentário do Volume II, lido este ano de 2017.

Este é chamado de Pais apologistas e dedica-se a obras escritas no século II da era comum.

Pela foto você pode ver quem são os seis escritores e/ou seus textos. Digo e/ou porque, por exemplo, Diogneto não é o nome de uma pessoa, mas um título que pode ser o Imperador Adriano.

A tônica desta literatura é a defesa dos cristãos de ataques que os estavam levando a morte. Basicamente eles eram acusados de quatro coisas:

  1. Antropofagia (comer carne humana) – esta referência tem óbvia relação com o fato de que Jesus disse que fazer sua vontade era comer sua carne e com relação a Ceia, que era feita em certo sigilo e suscitava estas ideias.
  2. Incesto – relações sexuais ilícitas dos cristãos, o que não ocorria, já que a comunhão era em outro sentido.
  3. Ateísmo – por dois motivos: negavam as divindades humanizadas gregas e a idolatria representada por animais e objetos dos egípcios. E o que era pior: adoravam um homem nascido entre os judeus: Jesus.
  4. Novidade: isto mesmo – novidade! Gregos afirmavam que era nova doutrina e que por isto devia ser rejeitada, já que era uma novidade, uma nova invenção de judeus e de seus prosélitos.

Veja que neste momento já não há tanto embate com os judeus propriamente ditos. Os romanos helenizados e os próprios gregos são um grande problema para a igreja.

Carta a Diogneto ataca o judaísmo e o helenismo de modo a demonstrar a superioridade e transcendência da fé cristã. Ele apela para o modo de vida superior, materialmente desinteressado dos cristãos para mostrar que os cristãos não são perigosos e vivem a verdade sem estar contra os gregos. Fala da humanidade de Jesus e como é possível que Deus tenha assumido a forma humana. Termina com um apelo a conversão de Adriano. Corajoso!

Aristides de Atenas escreve uma Apologia que também ataca frontalmente os gregos e os judeus. Ele está claramente influenciado pelas categorias Platônicas (Deus não criado), Aristotélicas (motor não movido) e Estóicas (da providencia), mas parece um tratado filosófico do que teológico. Muito objetivo e breve.

Taciano, o Sírio vai fundo na questão da antropofagia, além dos outros temas que já esbocei acima. Ele faz uma afirmação curiosa: a variedade de leis romanas e a multiplicidade de cosmovisões só servem para criar confusão. Para ele o mundo é mais simples, quando visto do ponto de vista divino. Ele foi discípulo de Justinho Mártir, mas após a morte de seu mestre se envolveu em algumas heresias, como a obrigação ao celibato para bem servir. Sua obra se chama: Discurso contra os gregos! Nele está, também, a acusação de antropofagia feita aos cristãos (página 93).

Atenágoras de Atenas também faz apologia a partir das acusações de antropofagia, incesto e ateísmo (pg 132-144). Ele defende a superioridade dos cristãos a partir da vida de cada um: amor ao próximo e desdém pela vida terrena que é breve e efêmera quando comparada à eternidade. Meu Deus! Apologia a partir do modo de viver dos cristãos. Ele escreve um apologia chamada: Petição em nome dos cristãos. É dele a frase: ¨Quando um demônio que fazer mal a um homem, primeiro prejudica a inteligência¨. Página 153.

Teófilo de Antioquia é o que tem maiores textos. São três. Sobre ele temos uma informação teológica importante; ele é o primeiro a usar o termo ¨Trías¨ que mais tarde será a importante doutrina da Trindade. Ele não usa este termo de forma tão elaborada, mas chama Deus de Trías – que se manifesta em Pai, Filho e Espírito. Ele escreve a Autólico suas três apologias. Ele era de origem Síria e chama os judeus de bárbaros, mas de quem veio a verdade e a verdade mais antiga do que escrita por Hesíodo e Homero, mais tardios. Apela, inclusive, para a verdade bíblica em função de sua simplicidade. Ataca sem rodeios a filosofia de Platão e o próprio Hesíodo. Ele foi o sexto Bispo desde o período apostólico e sua obra parece ser, segundo comentários de muitos outros pais da igreja, monumentalmente maior, mas perdida, infelizmente. Já tem uma doutrina da Providência divina na salvação tal qual será o calvinismo cerca de 1400 depois (página 237).  Ele afirma, na página 257, que o casamento está incompleto enquanto o casal não se desliga completamente do pai e da mãe. Ele debate a questão que permanece até hoje em relação ao homem e da natureza (pg. 248). Já discutia se o mundo é esférico ou cúbico (pg. 262).

Por fim, Hermas – o filósofo. Também desdenha da filosofia de Platão e Aristóteles, mas tem alguma preferência por ideais aristotélicas. É chamado de filósofo, mas segundo os comentaristas ainda lhe falta profundidade. Mesmo assim sua obra é chamada: Escárnio (ou Sátira) dos filósofos pagãos. Seu ataque vai de encontro as ideias gregas da essência de Deus, da alma e do mundo. Platão, por exemplo, fala que Deus é incriado (como cremos), mas que é matéria também o é, fazendo assim um ¨salada filosófica¨ injustificável.

É isto ai. Em paralelo tenho lido e estudado a vida e as obras de Aristóteles, que faz estas leituras ainda mais interessantes e todas cravadas na história de modo muito compreensível.

Logo mando do Volume III. Que ganhei de presente de alguém daqui. Mais uma vez: obrigado!

Bora estudar mais.

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