IGREJA: UM LUGAR DIFERENTE

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Depois de uma conversar muito interessante sobre igreja com certo irmão, confesso que parei para pensar um pouco melhor sobre o assunto. Não sei se é porque desde cedo testemunhei grandes mazelas, ou tive notícias dos mesmos ou, quem sabe, porque não tive tempo, como muitos, de imaginar o lugar perfeito e esperar que a igreja fosse o mesmo.

As descrições mais apaixonantes que conheço de igreja não passam nem de perto do ideal das narrações dos sermões que ouvimos e pregamos. Parece que ideal da perfeição se baseia exatamente no seu oposto. Vou te explicar porque.

Falamos muito, por exemplo, de santidade. E o que ela é? Exatamente o oposto de inimizade com Deus e de carnalidade. Ora, como a mesma se manifesta se a contradição não está presente? É óbvio que a santidade não é uma graça simplesmente imputada: é mérito do trabalho do homem em conjunto com Deus. Pelo menos penso assim, pelo que consigo entender. Portanto, qual é o primeiro passo para a santidade? Não é a santidade, mas o conhecimento do pecado. Se não choro por causa dele, se ele não me incomoda, se não me sinto desprezível quando ele não se satisfaz apenas em bater a porta, mas entra, longe estou da santidade.

Falamos de fé, como outro exemplo. E o que ela é? O oposto de incredulidade e de desconhecimento do oculto, do segredo de Deus – é cegueira!  Do mesmo modo ela se manifesta verdadeira quando, em termos gerais, está ausente. Ora, se todos fossem crédulos que virtude teria a fé. Ela é exatamente aquele algo diferente de você, mas presente em você como se fosse seu. É algo estranho, mas bem-vindo. É uma contradição em si, porque se temos espírito, e quase somos unânimes em afirmar isto, não podemos negar que boa parte de nossa experiência se dá no tempo e no espaço e que pouco percebemos o oculto e misterioso, que pouco percebemos, a Presença de Deus, e mesmo das hostes do mal.

A igreja é também o lugar de toda esta contradição. Onde os Santos, porém pecadores, vivem juntos. Lugar onde o Espírito guerreia contra a carne e o Maligno constantemente. Lugar onde buscamos viver aquilo que ainda não somos e agarrar firmemente o que ainda não nos pertence, como se já fosse agora. Lugar onde os mais incoerentes podem encontrar a Imutabilidade. É de fato um lugar conflitivo. Um lugar onde ao mesmo tempo nos alegramos de não sermos nada diante daquele que nos Chama, ou ainda, “bichinhos de Jacó” e, sermos chamados de Filhos, tendo sido convidados pelo próprio Nome.

É uma pena que estas verdades quando aplicadas a realidade ainda causem náuseas em muitos. Há quem cobre perfeição da igreja e, sinceramente, não sei se algum dia de fato, chegaremos próximos a ela. Há quem reclame da igreja ter tantos problemas, ora, que felicidade tem o tal, por poder enxergar a realidade, virtude tão rara em dias confusos como os nossos. De fato, deveríamos ficar alegres por vermos o quanto de imperfeição há em uma igreja, porque aí está a misericórdia de Deus: em habitar no meio de pessoas como você e eu. Há quem reclame da lentidão como as coisas acontecem, e por que tanta pressa? Já não nos basta a correria da semana atrás do pão e dos sonhos desta Terra? Ademais, perceba que o nosso traslado é sempre descrito como imediato, ou quase imediato, num instante chegamos lá.

Este mês completamos mais um ano de vida como igreja,. Chegamos aos oito anos. Oito anos vivendo nossas incoerências. Ora nos ajudando mutuamente, ora nos complicando mutuamente. Vendo uns chegando, vendo outros indo embora. Melhorando em algumas coisas e piorando em outras. Focalizando certas coisas e esquecendo de outras. Parece que o recado mais propício para o momento é: Vida longa à Igreja! Aprendamos a amá-la como ela é porque Deus já sabe o jeito de usá-la para glorificá-lo. Vamos respeitar as grandes diferenças entre os irmãos: de leigos a cultos, de trabalhadores a mais sossegados, de necessitados a doadores, de cantores a desafinados, de mulheres e de homens, de satisfeitos e murmuradores, de fortes e fracos, de casados e solteiros e solitários.

Talvez o nosso grande erro seja o de querer mudar o jeito dela para um jeito que nos agrade, não percebendo que Deus assim a fez, para que, deste modo, O glorifique e cumpra o propósito para qual foi e ainda permanece aberta.

Parabéns a Igreja. Eu te amo como você é!

PASTOR JOSÉ MARTINS JÚNIOR

MAIO DE 2006

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