IGREJA: LUGAR DE VAIDADES

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Hoje começamos a estudar Eclesiastes e Cantares de Salomão na Escola Bíblica Dominical na sala de adultos.  Fico muito feliz por retornar a sala de aula como professor oficial de uma turma da Escola Bíblica Dominical (a melhor escola do mundo!), e sendo parceiro do José Carlos Augusto nesta empreitada. Já li o livro de Eclesiastes mais de 30 vezes seguramente. Mas, como todo mundo sabe, sempre que relemos a Bíblia, ou mesmo textos específicos, somos novamente surpreendidos e edificados.

Não vou entrar aqui nos méritos destes livros, mas pensar um pouco sobre alguns poucos ensinamentos e impressões que ele nos causa no primeiro instante e, sobretudo, como podemos avaliar nossa experiência cristã a partir do Eclesiastes.

Aprendi desde os primeiros dias da minha vida cristã que é perigoso dar muita atenção as coisas que são próprias desta terra e de criação humana, a dar valor a coisas materiais e ser muito vaidoso. Se por um lado questionamos, como cristãos reformados e mais ortodoxos, o comportamento distorcido de cristãos guiados por princípios da Cura e da Prosperidade, devemos parar para pensar nas vaidades que temos como cristãos também. E são muitas, me levando até duvida do que é mais questionável, do que é pior. (Na nossa vaidade é sempre o outro que está errado e nunca a gente mesmo!).

Em uma aula de Teologia há alguns anos atrás, falando sobre prática pastoral e interpretação de textos, dei um exemplo que gerou um pequeno atrito com um aluno. Falei do porque, como cristãos, termos como obsessão e objetivo a compra e o uso de um tênis de mais de R$ 700,00, quando pessoas a nossa volta mal podem ter um de R$ 50,00. Até entendi o posicionamento do aluno quanto a ter nas mãos o produto de seu trabalho ou querer o melhor para si mesmo – e concordo. Mas disse a ele que a ostentação é também um desvio da conduta e da ética cristão, e sob este ponto de vista tal atitude pode ser indesejável e até condenável sob a ótica cristã. 

Mesmo igrejas muito rígidas quanto a usos e costumes me parecem caricaturas de si mesmas. Veja, por exemplo, como se vestem as mulheres e homens em igrejas que proíbem cortar o cabelo, pintar unhas e outros detalhes. Nos vestidos, nos saltos, nos ternos está presente toda ostentação, e vaidade também. Quando não estão presentes nestes detalhes, estão presentes na forma de falar, no jeito de olhar os outros de cima para baixo, em um tom de ¨pessoa poderosa detentora dos mistérios de Deus¨, porque há muitos que mudam até o tom de voz quando falam (em nome de Deus, é o que dizem!).

Considero-me um homem abençoado por tudo que tenho, já tive e acho que terei do ponto de vista material. Mas do que isto me considero abençoado por conviver com pessoas de toda a natureza e ter a oportunidade de ver mais de um lado da questão. Tenho amigos na favela, tenho amigos que são donos de mais de cinco fábricas, amigos estrangeiros, gente analfabeta e extremamente culta.  Esta experiência de convívio reforça ainda mais aqueles conceitos pueris, quase infantis, mas que reservam em si grande sabedoria e inteligência, recebidos ainda nos meus primeiros dias de vida cristã, do meu pastorzinho que era e continua sendo uma simplicidade e que nunca se esquece de mim e da minha família.

O sonho do Pastor Martin Luther King Junior de ver pessoas sendo julgadas pelo caráter ainda é sonho que se vê longe mesmo dentro da igreja. A igreja é um lugar de vaidades. A beleza, cuidado e asseio das pessoas soa muito mais que um simples cuidado e amor próprio, são uma forma de se mostrar melhor. Há vaidades de dons e cargos (palavra a qual sempre fui avesso e nunca usei e nem ensinei as minhas ovelhas!). Basta um pequeno passeio nos porões espirituais da igreja para ver a presença daquilo que é real na vida das pessoas: inveja, situações mal resolvidas, ciúmes, competição, mágoas, tristezas, preguiça, desleixo. Um pena que a gente crie uma casca tolerável aos olhos dos outros e que esconda aquilo que somos de verdade – podremente vaidosos.  

Sei que tenho que ter muito cuidado com as pessoas porque quero o bem delas, mas em alguns momentos quase me desespero e parto para uma solução pouco ortodoxa e recomendável. Quantas vezes veio na ponta da língua para dizer: sabe por que você está passando por isto? É que você é adultero, é mentiroso, é vaidoso demais, é falso, dissimulado, não pensa em Deus, não tem amor próprio e nem pelos outros! Por sorte esta unção de João Batista nem sempre me toma. E sei que primeiro devo fazer isto olhando para o espelho. 

É interessante perceber como nosso raciocínio espiritual funciona tão bem para algumas coisas e é tão cego para outras. Interessante a gente se ver preocupando com amor e tantos outros conceitos elevados do cristianismo e da vida e tropeçando em pecadilhos infantis, como por exemplo, desprezar algum irmão seja por qual motivo for.

Pode ter certeza que tenho em mente situações reais do dia a dia para escrever o que você está lendo agora. É tudo vaidade.

Fico pensando que, se tem razão aqueles que acreditam em teorias conspiratórias, dizendo que o cristianismo é perigoso porque se suas teses prevalecerem será o fim da sociedade como organizada no momento, porque vai acabar o amor ao dinheiro, a exploração, a mentira e a vaidade, que o cristianismo acabe com a própria igreja, porque nem ela e nem nela vemos os valores do Reino.

Segue abaixo a letra da música TUDO É VAIDADE do João Alexandre para refletir mais poeticamente:

Vaidade no comprimento da saia
no cumprimento da lei
vaidade exigindo prosperidade
por ser o filho do rei

Vaidade se achando a igreja da história
vaidade pentecostal

Vivendo e correndo atrás do vento
tudo é vaidade

Vaidade juntando a fé e a vergonha
chamando todos de irmãos
vaidade de quem esconde a verdade
por ter o povo nas mãos
vaidade achando deus em si mesmo
querendo fugir da cruz

Não crendo e sofrendo
perdendo tempo
tudo é vaidade

Os falsos chamados apostolados
do lado oposto da fé
dinheiro, saúde, felicidade
aquele que tem contra aquele que é

Rádios, tvs, auditórios lotados
ouvindo o evangelho da marcha à ré

a morte se esconde atrás dos templos
tudo é vaidade

Aonde está a honra dos orgulhosos
a sabedoria mora com gente humilde
liberdade

Pastor José Martins Júnior

05 de maio de 2013

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