GUIADOS POR PRINCÍPIOS E IDEAIS

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(Texto escrito em 2006 quando começavam a se articular as alianças políticas para as eleições) 

Estamos cercados de escândalos de todos os lados no meio evangélico. Temos deputados, da suposta ”bancada evangélica”, carregando milhões em maletas e aviões. Temos igrejas, aproveitando-se dos momentos de culto para contrariar os princípios da divisão entre Igreja e Estado, angariando votos para seus candidatos, a pretexto de orações. Temos pessoas, ainda que não declaradamente, usando o nome de Jesus para literalmente “ganhar dinheiro”. Temos igrejas que parecem palácios de grandes Marajás, adornadas com aquilo que de melhor o dinheiro pode comprar. Temos igrejas e ministérios apostólicos que nada mais são do que fachadas para lavagem de dinheiro, funcionando como verdadeiras e muito lucrativas empresas. Afinal, não pagam os devidos impostos por serem, de fachada, “instituições sem fins lucrativos”.

Temos também a mentira desenfreada dita aos gritos dos púlpitos, chamadas por alguns de “Santo Altar”. Dali se esconde a verdade; mascara-se a dor, a pretexto de falta de fé; nega-se o pão de cada dia ao necessitado, sob o mesmo pretexto; ignora-se dali porções inteiras do Evangelho, que é a Boa Notícia, ironicamente!

Estamos cercados também daqueles que, descaradamente, aceitam a glória que pertence a Deus. Pessoas que parecem estar acima do bem e do mal – quase deuses! Pessoas a quem, conceitos como verdade e mentira, justiça e injustiça, ou coisas mais simples como direita e esquerda, para frente e para trás, simplesmente não se aplicam. Destes que se vangloriam do poder que tem de tirar pessoas da miséria familiar, financeira, espiritual e pessoal, em apenas um segundo, não deixando transparecer o precipício ainda mais profundo onde lançam os mesmos incautos – da ignorância de Deus, da idolatria aos humanos, do assalto feito com a Bíblia na mão, antes uma arma usada contra o Inimigo, hoje a arma usada contra aqueles que ela defendia: os próprios crentes. Aqueles que não entrarão nos céus e estão fechando as portas para os que querem.

Seria tudo isto falta de caráter ou apenas oposição do Inimigo de nossas almas? Seria a manifestação da fraqueza humana ante a irresistível atração do poder e do dinheiro, ou a manifestação de pessoas não afetadas pelo poder de Deus em Cristo? Seria a manifestação da verdade da alma de cada um deles ou almas que sucumbiram por apenas um momento, mas, tornarão a levantar-se? O que é isto que estamos assistindo, lendo, ouvindo, testemunhando? O que é isto tudo que nos assusta, envergonha, escandaliza? Seria a causa de Cristo ou a causa dos homens, ou quem sabe ainda pior: a causa do Inferno?

Sobrevivem, no entanto, no meio desta podridão toda, alguns poucos Idealistas. Pessoas que realmente parecem ter convicção do que são e fazem, vivendo pelos mesmos princípios que pregam. Estão ocultos no meio da multidão, mudos e invisíveis. Não tem número de partido, não estão entre os grandes deste mundo (ainda que estejam entre os grandes do Reino de Deus!), não tem dinheiro, não usam ternos caríssimos, às vezes nem mesmo ternos baratos. Seu tesouro está no coração, na alma, nas palavras ditas e que, são a toda prova, verdadeiras. Gente que até morreria pelo que crê. Gente que tem Temor e Amor. Gente que tem vergonha na cara e que assume “a bronca do dia-a-dia”. Gente que anda de ônibus ou mesmo a pé, não em BMW ou Mercedes Benz, e mesmo que tenham tudo o que foi citado anteriormente, não se vangloriam disto e fazem das mesmas posses  “verdadeiras propriedades de Jesus Cristo”. Gente que ri e que chora. Enfim, gente que tem coração de carne no peito, e não coração de pedra. É a irônica Igreja Invisível, a Igreja que vai subir, a igreja que não se vendeu, a igreja que mais uma vez foi sacrificada pelo inimigo, cuja morte é vida na presença de Deus. Igreja sem nome pomposo, sem endereço de luxo, sem referência nos Guias de Endereço da cidade.

São a igreja daqueles que sustentam casas de recuperação para viciados em drogas e bebidas. Daqueles que recolhem alimentos para montar cestas básicas para os necessitados. Daqueles que doam dias para aplicar suas habilidades em favor da verdadeira Obra de Deus sem cobrar nenhum tostão por isto. Daqueles cuja “balada de sexta-feira” consiste em montar sanduíches e ir para o centro da cidade distribuir aos moradores de rua, com a “segunda intenção” de fazer-lhes companhia e apresentar uma solução real e acessível a todos: Jesus Cristo. Daqueles que realmente se compadecem da situação de outros irmãos e no mínimo oram por solução, com fé em seus corações. Daqueles que se alegram com agir de Deus e disto testemunham vividamente.

Deus vê tudo lá de cima e vê também de dentro dos nossos corações. Ele sabe como nossos olhos olham, como sentem nossos corações, sabe da nossa sinceridade. Realmente não podemos mentir para aquele que tudo sabe, tudo sonda. Aquele que ouve além das palavras, vê além dos gestos, sente além dos corações. Ele já separou, já escolheu, sabe o que é joio e o que é trigo. Sabe qual obra resistirá ao fogo do último dia. Quem entrará de mãos cheias ou vazias, ou mesmo quem não entrará. Sabe quem diz em vão: “Senhor, Senhor”. O mesmo que analisa as verdadeiras e falsas virtudes humanas.

Por tudo isto, não arda em nós desejo pelo poder. Não venha a nós o desejo pelo ter, como se isto pudesse melhorar o que realmente importa: o que sou para Deus. Ele não enxerga meu carro, não vê minha casa, não se importa com minha roupa ou meu cheiro. Ele vê o que ninguém vê: somente o que realmente importa – o que sou!

Escandalizemos pela nossa muita fé. Amontoemos brasa sobre a cabeça dos outros não pelos nossos descaminhos, mas, por conta da nossa bondade e desinteresse. Tenhamos olhos de águia, não para enxergar longe, mas enxergar dentro, dentro de nós. Sejamos guiados por princípios e ideais, não pelo desejo de ter, de possuir, de comandar, de poder.

Sejamos guiados pelos princípios e ideais pelos quais fomos chamados.

Pastor José Martins Júnior

 09 Setembro de 2006

 

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