EUSÉBIO DE CESARÉIA – HISTÓRIA ECLESIÁSTICA

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História eclesiástica ou Historia Ecclesiae de Eusébio de Cesareia foi uma obra pioneira do século IV por tratar de um relato cronológico do desenvolvimento do cristianismo primitivo entre o primeiro e o quarto século. Ela foi escrita em grego koiné e sobreviveu também em manuscritos em latim, siríaco e armênio[1]. O resultado foi a primeira narrativa extensiva escrita de um ponto de vista cristão[2]. No início do século V, dois defensores em Constantinopla, Sócrates Escolástico e Sozomeno, assim como um bispo, Teodoreto de Cirro, na província romana da Síria, escreveram continuações da história eclesiástica de Eusébio, estabelecendo uma convenção de continuadores que iria determinar de maneira significativa a forma como a história seria escrita por pelo menos um milênio. Uma outra obra de Eusébio, a Crônica, que tentou apresentar uma linha do tempo comparativa entre as histórias pagã e do Antigo Testamento, também fundou um modelo historiográfico, a crônica medieaval ou história universal.

Eusébio tinha acesso à biblioteca Teológica de Cesareia Marítimae fez uso de muitos documentos eclesiásticos, atos de mártires, cartas, extratos de autores cristãos anteriores, listas de bispos e fontes similares, muitas vezes citando extensamente os originais, de modo que a sua obra acabou por preservar muitos originais que não sobreviveram até nossos dias. Como exemplo, ele cita que Mateus compôs o Evangelho dos Hebreus e seu “catálogo da Igreja” sugere que ele teria sido o único Evangelho Judaico. É, portanto, de valor histórico, embora ele jamais tenha pretendido ser nem completo e nem observar imparcialidade no tratamento de seus objetivos. Ele sequer pretende apresentar uma visão conectada e sistemática da história da igreja primitiva. Ela é portanto uma vingança da religião cristã, embora o autor jamais tenha pretendido assim. Eusébio foi muitas vezes acusado de falsificar intencionalmente a verdade, pois ele jamais foi totalmente imparcial em seu julgamento das pessoas ou dos fatos.]

Na sua “História da Igreja” ou “História Eclesiástica”), Eusébio tentou, de acordo com as suas próprias palavras (I, i.1), apresentar a história da Igreja desde os apóstolos (história essa referida nos “Actos dos Apóstolos“) até ao seu próprio tempo, tendo em conta os seguintes aspectos:

A SUCESSÃO DOS BISPOS NAS IGREJAS LOCAIS PRINCIPAIS; A HISTÓRIA DOS APÓSTOLOS; A HISTÓRIA DAS HERESIAS; A HISTÓRIA DOS JUDEUS; AS RELAÇÕES COM OS PAGÃOS; OS MÁRTIRES.

Agrupou o seu material de acordo com os reinados dos imperadores, apresentando-o tal como o encontrou nas suas fontes. O conteúdo consistia em:

Livro 1: Introdução detalhada, sobre Jesus Cristo.

Livro 2: A história da época apostólica, desde a Queda de Jerusalém até Tito.

Livro 3: A época após Trajano

Livros 4 e 5: o século II

Livro 6: O período de Severo a Décio

Livro 7 e 8: historial do surto de perseguições movidas sob o reinado de Diocleciano

Livro 9: História da vitória de Constantino I sobre Magêncio no ocidente e de Licínio sobre Maximino Daia no oriente.

Livro 10: O restabelecimento das congregações e a rebelião e conquista de Licínio.

Tal como chegou até nós, a obra concluiu-se antes da morte de Crispo, em julho de 326 d.C., e, desde o Livro x que é dedicada a Paulino de Tiro que morreu antes de 325 d.C., no final de 323 d.C. ou em 324 d.C.. Este trabalho é realmente impressionante pela pesquisa que exigia e deve tê-lo ocupado por vários anos. O seu martirológio terá sido um dos estudos preparatórios para a obra.

Tirânio Rufino a traduziu do grego para o latim no final do século IV.

Numa das passagens da obra, Eusébio defende que as calamidades sofridas pelo povo judeu se deveram ao seu papel na morte de Jesus. Esta passagem tem sido usada, ao longo da história, tanto para atacar judeus como cristãos: “…desde esse tempo que rebeliões, guerras e conspirações danosas os seguiu, a cada um, em rápida sucessão, incessantemente, quer na cidade, quer em toda a Judeia, até que o cerco de Vespasianoos esmagou. Foi assim que a vingança divina se cumpriu para os Judeus, pelos crimes que ousaram perpetrar contra Cristo.” — História Eclesiástica, Livro II, cap 6, Eusébio, citando Flávio Josefo[4].

Porém, não devemos interpretar esta passagem como sendo simplesmente anti-semitismo(veja cristianismo e anti-semitismo), porém. Eusébio também faz uma acusação similar contra os cristãos, afirmando que o espírito divisionista entre eles como a causa de algumas das mais severas perseguições: “Porém, quando por conta da grande liberdade que tínhamos, caímos em preguiça e negligência, e invejávamos e maltratávamos uns aos outros e estávamos quase pegando em armas contra o próximo, reis acusando reis com palavras que eram como lanças, e pessoas formando partidos contra outras, e uma hipocrisia monstruosa e a dissimulação chegando aos mais altos graus de iniquidade, o julgamento divino com paciência, como lhe convém, enquanto as multidões continuavam a se reunir, gentilmente e moderadamente molestava o episcopado.” — História Eclesiástica, Livro VIII, cap 1.7, Eusébio[5].

Anotações e comentários

  1. A fome da Judéia conforme Atos 11 página 39.
  2. Página 41: Pedro em Roma, Evangelho de Marcos origem e propósito.
  3. Sicários: métodos e mortes página 45. Atos 21:28 egípcio com os sicários na página 46.
  4. “De Pedro reconhecemos uma única carta, a chamada I de Pedro. Os próprios presbíteros antigos utilizaram-na como algo indiscutível em seus próprios escritos. Por outro lado, sobre a chamada II carta, a tradição nos diz que não é testamentária; ainda assim, por parecer proveitosa a muitos, é tomada em consideração junto com as outras Escrituras. Quanto aos Atos que levam seu nome e o Evangelho dito como seu, assim como a Pregação que se diz ser sua e o chamado Apocalipse, sabemos que de modo algum foram transmitidos entre os escritos católicos, pois nenhum autor eclesiástico, nem antigo nem moderno, utilizou testemunho tirado deles.” Pg 52
  5. Paulo, segundo Eusébio, dizia que Atos dos Apóstolos era ou Evangelho.
  6. Ele usa as decisões de Flavio Josefo da invasão de Tito. Segundo Josefo, Tito ao ver todos os cadáveres putrefatos no chão dizia que aquilo não era obra sua. Um líquido escuro e fedorento saia debaixo dos cadáveres. 
  7. “Com efeito Mateus, que primeiramente tinha pregado aos hebreus, quando estava a ponto de ir para outros, entregou por escrito seu Evangelho, em sua língua materna, fornecendo assim por meio da escritura o que faltava de sua presença entre aqueles de quem se afastava. Marcos e Lucas já tinham publicado seus respectivos evangelhos, enquanto João se diz que em todo este tempo continuava usando a pregação não escrita, mas que por fim chegou também a escrever, pelo seguinte motivo. Os três evangelhos anteriormente escritos já haviam sido distribuídos para todos, inclusive para o próprio João, e diz-se que este os aceitou e deu testemunho de sua veracidade, mas também que lhes faltava unicamente a narrativa do que Cristo havia feito nos primeiros tempos e no começo de sua pregação.” Pg 65
  8. ” Depois deste há que se colocar a lista das Cartas de Paulo. Depois deve-se dar por certa a chamada Primeira de João, assim como a de Pedro. Depois destas, se está bem, pode-se colocar o Apocalipse de João, sobre o qual exporemos oportunamente o que dele se pensa. Estes são os ditos admitidos. Dos livros discutidos, por outro lado, mas que são conhecidos da grande maioria, temos a Carta dita de Tiago, a de Judas e a segunda de Pedro, assim como as que se diz serem segunda e terceira de João, sejam do próprio evangelista, seja de outro com o mesmo nome. Entre os espúrios já alistados: os Atos de Paulo, o chamado Pastor (de Hermas) e o Apocalipse de Pedro, e além destes, a que se diz Carta de Barnabé e a obra chamada Ensinamento dos Apóstolos, e ainda, como já disse, talvez, o Apocalipse de João: alguns, como disse, rechaçam-no, enquanto outros o contam entre os livros admitidos. Alguns ainda catalogam entre estes inclusive o Evangelho dos hebreus, no qual são muito contemplados os hebreus que aceitaram Cristo. Todos estes são livros discutidos.” Pg 66
  9. Sobre a Epístola aos Hebreus: “Não cabe dúvida, portanto, de que tais são Inácio, em suas cartas cuja lista fornecemos, e Clemente na carta por todos admitida, que escreveu em nome da igreja de Roma à de Corinto. Nela Clemente expõe muitos pensamentos da Carta aos Hebreus, e inclusive utiliza textualmente algumas passagens da mesma, mostrando assim com toda claridade que este escrito não é recente. Por isto pareceu natural catalogá-la entre os demais escrito do apóstolo. Porque Paulo praticou  por escrito com os hebreus valendo-se de sua língua pátria, e alguns dizem que a carta foi traduzida pelo evangelista Lucas, mas outros afirmam que foi o próprio Clemente, o que talvez seja mais verdadeiro pelo fato de a,nas, a carta de Clemente e a carta conservarem um caráter estilístico semelhante, além de não se diferenciar muito o pensamento de um e outro escrito. Deve-se saber ainda que há uma segunda carta que se diz de Clemente, mas não sabemos que seja conhecida como a primeira, já que nem os antigos a utilizaram, tanto quanto sabemos. E muito recentemente alguns trouxeram à luz, dizendo que são dele, outros escritos, verbosos e longos, que contêm os diálogos de Pedro e Apion. Destes escritos não se encontra a menor menção entre os antigos, nem mesmo conservam puro o caráter da ortodoxia apostólica. Consequentemente fica claro qual é o escrito aceito de Clemente. Também se falou dos de Inácio e de Policarpo.” Pg 73
  10. “Isto é o que conta Papias sobre Marcos. Referente a Mateus, diz o seguinte: “Mateus ordenou as sentenças em língua hebraica, mas cada um as traduzia como melhor podia.” Pg 75 donde vem a história de que Mateus foi o primeiro em 43 tendo escrito em hebraico?
  11. “Existiam diferentes opiniões na circuncisão, entre os filhos dos israelitas, contra a tribo de Judá e contra o Cristo, a saber: essênios, galileus, hemerobatistas, masboteus, Samaritanos, Saduceus e fariseus.” 92
  12. Assim pois, tendo subido ao Oriente e chegado até o lugar em que se proclamou e se realizou, informei-me com exatidão dos livros do Antigo Testamento. Ordenei-os e envio-os a ti. Seus nomes são: cinco de Moisés: Gênesis, Êxodo, Números, Levítico, Deuteronômio; Jesus de Navé, Juízes, Rute; quatro dos Reis, dois dos Paralipômenos; Salmos de Davi; Provérbios de Salomão, ou também Sabedoria, Eclesiastes, Cantar dos Cantares, Jó; dos profetas, Isaías, Jeremias, os doze em um só livro, Daniel, Ezequiel; Esdras. Destes livros tirei os Extratos, que dividi em seis livros.” E é isto que há de Meliton. 95
  13. Lista dos bispos de Roma – Os bem-aventurados apóstolos, depois de haverem fundado e edificado a Igreja, puseram o ministério do episcopado em mãos de Lino. Este Lino é mencionado por Paulo em sua carta a Timóteo. Sucede-o Anacleto e depois deste, em terceiro lugar a partir dos apóstolos, obtém o episcopado Clemente, que também havia visto os bem-aventurados apóstolos e tratado com eles, e tinha ainda ressoando-lhe nos ouvidos a pregação dos apóstolos e diante dos olhos sua tradição. E não apenas ele, porque então ainda sobreviviam muitos que haviam sido instruídos pelos apóstolos. Quando nos tempos deste Clemente surgiu entre os irmãos de Corinto uma não pequena dissensão, a igreja de Roma escreveu aos Coríntios uma carta importantíssima tentando reconciliá-los na paz e renovar sua fé e a tradição que tinham recebido dos apóstolos.” E depois de breve espaço diz: A este Clemente sucede Evaristo, e a Evaristo, Alexandre; depois é instituído Sixto, o sexto portanto a partir dos apóstolos; e depois deste, Telésforo, que também sofreu gloriosamente o martírio; logo Higinio; depois Pio, e depois deste, Aniceto; havendo Sotero sucedido a Aniceto, agora é Eleutério que ocupa o cargo do episcopado, em décimo segundo lugar a partir dos apóstolos. Pela mesma ordem e com a mesma sucessão chegaram até nós a tradição e pregação da verdade que procederam dos apóstolos na Igreja. – página 107. 
  14. Página 108 autoria dos Evangelhos incluindo Mateus em hebraico ou aramaico. Ver final de 109 e início de 110 também.
  15. Nas páginas 121/2 trata da alteração texto bíblico para amoldar a ideia de que Cristo foi apenas homem e, também, como claramente estas alterações podiam ser detectadas. 
  16. Nas páginas 132-73 vemos a vida de Orígenes e a heresia ebionita de que Cristo era filho biológico de Maria e José. 
  17. 136 fala da autoria Paulina de Hebreus.
  18. Origines teve 7 taquígrafos a sua disposição. Ele não considerava coincidência que o cânon do Antigo Testamento judaico tenha 22 livros, ou seja, o mesmo número de letras do alfabeto hebraico.
  19. Vale a pena dar atenção as cartas de Dionísio bispo de Alexandria. Além dos martírios, a vir,a como a igreja lidava, por exemplo, com quem caia. Veja o caso do  Serapion, questiona-se sua fé por suas obras? Pg 147
  20. A estátua feita em homenagem a cura da mulher com fluxo de sangue página 159
  21. No livro 7 fala um pouco do gnosticismo. Eusébio de Cesaréia não se preocupa muito com aspectos doutrinários. 
  22. O livro 8 fala de Constantino, das perseguições que antecederam (com detalhes) seu império e como arrefeceram depois que ele assumiu.
  23. Constantino e Licinio estão em alta conta no texto ver pg 203-8.
  24. Licínio parece se rebelar contra os cristão, mas é vencido por Constantino.
  25. Eusébio faz um longo trecho de adoração a Deus no último livro dando a entender sua grande alegria diante da nova situação dos cristãos no império.
  26. Ele apresenta documentos imperiais que dão liberdade aos cristãos, doação em dinheiro, entre outros.

     

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2 comentários
  1. muitas coisas são suposições, outras são continuações ouvidas de outros que vieram após os apóstolos, precisão nem tudo há a não ser o que está registrado nas escrituras

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