EU, O GILBERTO E O JOSEPH

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O texto abaixo foi escrito na ocasião da primeira visita do Papa Bento XVI e da Lei Cidade Limpa. Gilberto é o Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo na época. O Joseph é o primeiro nome do Papa Bento XVI.

Está interessante andar na cidade de São Paulo ultimamente. A cidade anda um pouco descaracterizada. A ordem foi expressa: “Cidade Limpa, nada de placas fora do padrão”. A multa é pesada para o descumprimento, ainda que o jeitinho brasileiro continue funcionando. As grandes igrejas ainda conseguiram segurar por um pouco, mas já estão cedendo ao desejo de limpeza da administração municipal. E o resultado está muito curioso no meu modo de ver.

Há vinte e cinco anos mais ou menos que “os sucessores de Pedro” não andavam entre os tupiniquins. A visita agora foi de urgência: “estamos perdendo fiéis para as seitas protestantes. A salvação está na igreja. Por que andam ensinando o contrário?” Um milhão de “fiéis” estavam lá numa atitude bem parecida com as de fãs dos Rolling Stones. De fato, nada de impressionante, afinal, a fé está em moda também. Diferente mesmo foi o primeiro santo canonizado fora da central católica. Por que será? Me pergunto.

Acredito que a mão de Deus está nisto tudo. Cutucou o prefeito na sua cadeira dizendo: “vá lá e ensine como derrubar as placas de igrejas”. Entrou no vaticano e cutucou também: “vá lá e mostre que há diferenças sim e divergências muito mais”.

Não estou pregando um ecumenismo evangélico porque não sou hipócrita para pregar, e nem inocente para acreditar, que os evangélicos são como “farinha do mesmo saco” e, que a diferença está só no nome que cada grupo recebe. É muito mais que isto, todos sabemos. Também não vou ficar quieto diante do teatro que armaram diante dos meus olhos para fazer um proselitismo reverso, ou seja: “Fiquem aqui”.

Conheço duas igrejas que “eticamente” estão uma do lado da outra e, obviamente, sem placas. Passei em um domingo destes na porta das duas após um final de culto e fiquei olhando para as pessoas que saíam e, sinceramente, parece que a única diferença mesmo é a placa, que agora já não existe mais. A diferença parece sempre pairar na insignificância.

Temos agora um novo motivo idólatra, mais um motivo para se prostrar. Mais balinhas para curar, mais velas para acender. A maior nação católica do mundo parece renovar sua identidade porque, na multiplicidade dos seus santos tem, agora mesmo, um original e legítimo. Parece que com o crescimento do país, até mesmo os artigos de natureza religiosa vão passar por uma legalização. Neste ponto, não me considero vencedor, pelo contrário.

Para quem pensa um pouco o recado para nós é bem claro. Se a nossa diferença está no fato de frequentarmos igreja A ou B e, se vendemos a salvação por meio da fé, a experiência pessoal com Cristo como meio de aplicação da graça, a prática das boas-obras como forma de expressão da Nova Criatura, estamos barateando nossa condição Protestante. É hora do racha e do Cisma. Quero ver o circo pegando fogo e vou cooperar para isto.

Não sei se isto tudo te abalou, mas, eu ando muito pensativo. O Gilberto e o Joseph mexeram comigo. Um me ensinando uma nova dimensão da natureza espiritual ressaltada pela grandeza individual dos “homens e mulheres do Grande Deus” que o são a despeito de suas “placas”. O outro me redirecionando o olhar para as diferenças que por um tempo quis ignorar, mas que se fez notória na pessoa do próprio Mestre dos Mestres, ou seja, a de se opor sem medo ao que destrói a verdade.

Eu, o Gilberto e o Joseph dificilmente nos veremos. Nos vendo, dificilmente falaremos a mesma língua. Nem por isto, me furto ao direito de tê-los, ainda que só por isto, como pessoas que me ajudaram a dar mais um passo. Ainda que seja um passo na direção contrária deles.

Pastor José Martins Júnior

Maio de 2007

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