ENTRE FATOS E FOTOS – A DIFICULDADE DE LER A REALIDADE!

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Quem não gosta de uma fofoca que atire a primeira pedra. Ok, tudo bem, há quem não goste, mas a tentação de querer destruir o outro é sempre muito grande entre nós. E, parte do esforço de diminuir a nossa culpa diante de um ato tão desumano e cruel, se disfarça pelo simples uso das palavras, muitas vezes dúbias porque vêm revestidas de zelo e cuidado, mas tão ou mais destruidoras. Mesmo aqueles que se prestam a no mínimo duvidar desta ou daquela informação, prestando-se ao trabalho, muitas vezes prazeroso de ouvir, sequer deseja que tal injúria seja fato, e melhor que não seja, porque o bem nunca vendeu jornais e nunca atraiu de fato a ninguém. Em meio a este emaranhado de falatórios e conspirações, é que a verdade ora se camufla, ora some, ora aparece, ora se confunde, ora se mistura, mas não nos damos conta disto. Assim, o tempo passa.

Todas as ferramentas que temos para entender a quantidade de informações que nos circundam – isto para falar do conjunto daquelas das quais nos damos conta – são suspeitas. A subjetividade é sempre subjetividade, ou seja, o sujeito, munido de suas ferramentas, de sua capacidade de organizar por si mesmo as informações, de seus preconceitos, ou até mesmo de forças ocultas a ele mesmo que o força nesta ou naquela direção (e falo de forças psíquicas, entre o princípio do dever e do prazer, falo mesmo de forças espirituais ora malignas ora dos impulsos humanos, seja pelas ameaças e recompensas prováveis deste ou aquele procedimento), faz dele um analista parcial de pouco prestigio em suas conclusões. A objetividade histórica também tropeça, porque como já disse alguém, a história sempre é contada pelos vencedores. A objetividade histórica também é metodológica depreendendo por meio de ferramentas próprias o extrato da realidade, ignorando, talvez, e somente talvez, a subjetividade dos agentes históricos. A produção da realidade nem sempre é produto da racionalidade estruturada de um agente dono da situação, mas muitas vezes um tiro pela culatra, um erro de pontaria, um desdobramento improvável, produto de um vetor improvável de forças conflitantes e muitas vezes pela soma de outras forças invisíveis neste balé de puxa-empurra. Quanto às estas forças, algumas nos parecem muito impessoais, subproduto das consequências naturais das forças conflitantes como a hipermodernidade, por exemplo, que em sua liquidez, toma formas variadas, já que se caracteriza por não ter uma forma definida, ainda que isto seja em si uma forma. No entanto, há outras muito pessoais, mesmo que procurem se mascarar, se camuflar, mas quem tem nome, endereço e números de documentos. Direita, esquerda, centro. Marxismo cultural, marxismo, comunismo, socialismo, islamismo, nova ordem mundial, coalisão sino-russa, globalismo ocidental, maçonaria, rockfellerianismo, etc. Uma pergunta a se fazer é: quem está no comando? Aqui surgem todas as teorias conspiratórias de sociedades secretas, de comandos das trevas, de agentes infiltrados nos altos escalões trabalhando em prol de um mundo diferente e conflitantes com nossos anseios. Além de mídia vendida, controle dos meios de comunicação, desinformação, que geralmente não é atividade inimiga, mas de ¨amigo¨ mal informado ou mal intencionado. Ou seja, segundo os mesmos teóricos da conspiração, meios que são fortemente controlados e fortemente influenciados pelas campanhas ocultas de doutrinação, manipulação de interesses diversos e igualmente conflitantes. Cada nova época da humanidade parece estar sujeita a cair nas mãos destes grupos totalitários e ocultos. De certa forma, alguma coisa está acontecendo e, como propomos no início, as fofocas apontam para alguma crise, mudança, insurreição em um horizonte muito próximo.

No campo político, à medida que corre a análise do impedimento da atual presidente estamos assistindo a prisão dos grandes figurões do palco nacional coisa impensável há poucos anos atrás, vemos a direita saindo do armário e formulando e articulando algum esforço diante do estado atual das coisas no país, vemos também os primeiros movimentos do recrudescimento do conservadorismo, uma provável reação à imoralidade sem limites que vivemos. No próprio campo religioso, um retorno sem precedentes à teologia e a ética reformadas, principalmente por jovens, apontam alguma mudança, que não seria mudança, mas um retorno, que aponta mais para um anacronismo do que qualquer outra coisa. Gente com saudades da ditadura. É preciso atualizar e adaptar, o que nem sempre, ou quase nunca, é possível.

Fatos, mas somos a sociedade da imagem. Pelo menos é o que muitos dizem, mas é também o que parece em virtude das redes sociais e dos esforços multiplamente reforçados pelas redes sociais. Imagem de fotos, das selfies, do photoshop. Quem nunca ouviu: uma imagem vale mais do que mil palavras! Que saudades das palavras.  Quanta gente feliz, rica, saudável, bem alimentada e alimentando-se, gente sábia, e ainda mais, que gente corajosa. Câmeras, programas, teclas e redes sociais e um novo indivíduo, que já não é tão mais novo, o indivíduo digital, o sujeito (objeto) virtual. Diferente da realidade, porque quem jamais estranhou pessoalmente alguém que já vira anteriormente por uma da muitas telas que nos rodeiam?

Já surgem por ai muitos desmascaramentos das divergências da vida virtual fotografada e photoshopada. O que faz muito sentido porque se o que mais importa é o que se parece para o outro, certa felicidade toma aquele que assim o faz, ou seja, que parece ser o que não é enganando o que sabe que aquilo também não o é, mas se mostra favorável e positivo diante de uma mentira que, mesmo que não combinada e negociada, é mansamente aceita e proclamada. Uma espécie de ¨finjo que sou e você finge que acredita¨. Ou será que alguém de fato acredite? Assim a miséria e a mentira tornar-se-iam ainda maiores. Diante das patologias cada vez mais intensas deste mundo esquizofrênico, é possível que sim, possível que seja verdade.

Eia a nossa sina!

A busca pelos fatos e pelas verdadeiras fotos torna-se um labirinto, um jogo de esconde, uma busca cansativa, enfadonha, por vezes quase mortal. Talvez nisto se apresente a hipermodernidade, não em que a verdade, a metanarrativa, já não exista, mas que está se esconda, se travista, se oculte, fique longe e distante. Sabedoria, neste sentido, já não mais como alcançar a verdade, mas muito mais como possuir poucos, porque de fato não há muitas, ferramentas para começar a trilhar o caminho. Mata fechada em noite escura, cheia de armadilhas, animais devoradores, falsas pistas, lamaçais e areia movediça, pestes que voam.

Ainda é necessário, mesmo assim, continuar, ir em frente, trilhar o caminho e escrever os mapas. Desencontrado, voltar de onde se perdeu e retomar, perguntar de um jeito e depois de outro mesmo que a mesma pergunta, elaborar sistemas, usar repelentes, desarmar as armadilhas, levar até o fim os questionamentos e inquietações. Duvidar, desconfiar, rever, reavaliar. Não se entregar. Partidariamente apartidário. Crente cético. Cego com vista. Tolo sábio. Menino homem. Homo sapiens (e sapiens).

Pr. Júnior Martins

17 de dezembro de 2015

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3 comentários
  1. Concordo que as informações que recebemos não são confiáveis e que nos mesmos criamos um mundo ao nosso redor de fantasias. Pergunto: Excetuando a Bíblia, qual outro veículo confiável em que podemos nos ancorar? É possivel termos conhecimento dos fatos sem que eles sejam manipulados? Somo joquetes destas mídias?

  2. A questão é problemática exatamente por isto. Os recursos que dispomos são, em primeiro lugar a ciência e sua interpretação se dá no campo da análise factual de elementos manuseáveis e eventos que possam ser repetidos quantas vezes forem necessários para que possam ser subtraídas as informações (verdades) a respeito do fenômeno. Mesmo tendo esta prerrogativa tão fortemente inquestionáveis, quantos de nós somos cientistas e podemos confirmar por nós mesmos as informações afirmadas? E mesmo que o fossemos, as categorias adotadas de nossas análises poderiam variar os resultados finais, como geralmente acontece, e vemos a ciência revisando seus resultados. E ainda, que é a ciência? Quem a representa? Ficamos no vácuo. Temos do outro lado a religião, multifacetada. Talvez possamos nos culpar pelo desencontro que vivemos. Esta é outra área do ¨saber humano¨ plural e multifacetada. Quando debatemos a duas questões que me parecem essenciais para a religião, a existência de Deus, como questão fundamental, e depois a existência do mal, nem mesmo aqueles que tem o mesmo credo, costumam concordar entre si. Entre os gnósticos que afirmam que Deus é mal e com isto explicam tudo, entre os demais que vivem na tensão dialética entre o bem e o mal, como bem vencendo ao final e o mal como tendo um propósito, ou mesmo aqueles que diminuem um pouco a onipotência divina e sua onisciência (que são por si só categorias da um vertente teológica específica) e assim colocam o mal como algo que não estava previsto, mas que poderá ser vencido no final, temos uma confusão estabelecida. O que quero dizer? Que estamos mergulhando entre impossibilidades? Não. Mas que não podemos fechar nossas certezas e morrer por elas à toa. O que invariavelmente fazemos é adotar um ponto de vista que nos seja simpático e descreva a realidade, por não termos no primeiro momento, a priori, elementos que nos dirijam com segurança. Com o tempo testamos nossas ideias à medida em que também vamos nos informando mais a respeito de nosso próprio ponto de vista e de outrem. (o que não deixa de ser um princípio cientifico porque vamos testando reformulando, e nem mesmo deixa de ser subjetivo porque parte do sujeito e das categorias que o mesmo é capaz de manusear). A verdade não está em nós. A verdade não está nos fatos. A verdade não é nem mesmo filosófica. A verdade me parece relacional, produto de uma construção muito mais complexa e infinita. A verdade me parece muito mais afeita à sabedoria e a um esvaziamento do que a formulação de postulados prováveis e testáveis, ainda que os mesmos sejam necessários como conteúdo e categoria de aproximação.
    Daí minha proposta de uma caminhada longa e incansável pelo conhecimento, porque a verdade parece muito mais se desmascarar por trás dos elementos sujeitos aos cinco sentidos (ou mesmo seis, se pensarmos na intuição, ou espiritualidade, ou pensamento como sentido objetivo, e acho que podemos pensar assim também).

  3. Ainda falta o aspecto politico-sociológico da obtenção da verdade. Não vivemos em um vácuo existencial, logo nossas convicções são produto de alguma forma de senso comum também. Quantos tabus e conceitos, mesmo grupos mais liberais possuem, e que baseiam sua compreensão de mundo? São muitas. Todo grupo possui assuntos intocáveis.

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