DOUTRINA DA GRAÇA E AS VÃS FILOSOFIAS – O QUE É O HOMEM PÓS-MODERNO E O QUE É O HOMEM PARA A REFORMA

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DOUTRINA DA GRAÇA E AS VÃS FILOSOFIAS – O QUE É O HOMEM PÓS-MODERNO E O QUE É O HOMEM PARA A REFORMA

Esboço e referências sobre a Doutrina da Graça e o homem pós-moderno para o Congresso da Reforma no dia 26 de julho de 2017

  1. A graça define nossa identidade como pecadores necessitados da misericórdia e favor de Deus. Ou seja, a graça responde: o que é o homem?
  2. É necessária para nossa salvação. Ou seja, a graça responde: o que preciso para ser salvo?
  3. É necessária para todo o nosso trajeto de vida rumo à eternidade. Ou seja, a graça responde: o que preciso fazer para servir?

Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo – 1 Coríntios 15.10.

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; 10 Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas – Efésios 2.8-10.

Vamos tratar de uma das doutrinas fundamentais da fé cristã reformada e que distinguem o protestantismo reformado de outras religiões e até mesmo de outras formas de cristianismo que é a doutrina da Graça.

Ao mesmo tempo, vamos lidar com uma doutrina que se for desprezada, gera uma falsa religiosidade alicerçada em fundamentos muito fracos como aas obras, ou que se for supervalorizada pode redundar em um antropocentrismo tão descabido que também afasta o homem de Deus. Explico.

Como ex-católico fui ensinado que devo fazer todo o esforço para agradar a Deus e conquistar o seu favor, em uma mais completa forma de meritocracia. Esta é uma forma de desprezo pela doutrina da Graça. Ela inexiste na salvação por meio de obras.

Já como protestante, em algum momento fui tentando a esvaziar minha vida da busca pela santidade e da prática das boas obras porque, segundo tal ensino, a Graça de Deus é tamanha que pouco importa como vivemos. Isto seria supervalorizar a graça e esquecer que temos responsabilidade diante de Deus.

Deste modo, a doutrina da Graça é a que responde o que é o homem diante de Deus e qual a sua situação diante de Deus, mas, ao mesmo tempo, contrastamos com o que o nosso tempo, a pós-modernidade ou modernidade liquida ou hipermodernidade, termos que não definiremos aqui porque já nos debruçamos muitas vezes sobre ele.

COMO A PÓS-MODERNIDADE DESCREVE O HOMEM?

  1. Desiludido com a modernidade, mas ao mesmo tempo auto-suficiente.
  2. Desiludido com o mundo, mas hedonista.
  3. Desacreditado das autoridades e verdades, mas com todas as respostas.
  4. O homem pós-moderno é um homem que não consegue integrar os diversos aspectos da vida como trabalho, família, religião, ciência, ou seja, um ser dividido e muito complexo.
  5. Mesmo o homem religioso pós-moderno tem um defeito grave: integrar seu relacionamento com Deus e o restante de sua vida, o que chamamos de dicotomia e que desencadeia uma dos maiores males do homem religioso ocidental: o secularismo.

Várias doutrinas filosóficas, sociológicas e religiosas  procuram definir homem de hoje e lhe fazem sugestões:

  1. O marxismo afirma que o homem é um ser cujo problema está no conflito de classes.
  2. Se no passado recente o homem era definido a partir de sua suposta evolução como homo erectus, homo sapiens, homo sapiens sapiens, hoje o homem é definido como homo fabris, homo consumus.
  3. Há pouco tempo o homem era o centro do universo, agora é ele o ser independente.
  4. Mesmo na religião ó homem é definido pela sua capacidade de consumo dos bens desta terra por meio da fé. O homem é o que é capaz de consumir.

  LUTERO

 Com base no Salmo 51, Lutero afirmou o seguinte O conhecimento de Deus e do ser humano é a verdadeira e divina sabedoria teológica, mas é o conhecimento de Deus e do ser humano à medida que se relaciona ao Deus, que justifica, e ao ser humano, que é pecador. Portanto, o objeto da Teologia, na verdade, é o ser humano culpado e condenável e o Deus que justifica e é redentor. Isso quer dizer que, para ele, o interesse principal da pregação e da Teologia é o Deus que age, trabalha, faz a sua obra, que se dirige às pessoas e se preocupa com elas em sua condição lastimável. Isso tem a ver com a palavra de Deus. Deus age falando a sua palavra, uma palavra que cria do nada e faz nascer vida onde não há vida.

A isso, Lutero relaciona o Cântico de Maria ´Deus fez grandes coisas em mim, ele que é poderoso´. Para o Reformador, isso quer dizer que ninguém faz coisa alguma, somente Deus faz tudo. Ele age em todas as coisas. Todas as obras das criaturas são obras de Deus. Lutero explica também o termo todo-poderoso, presente no Credo Apostólico. Deus é poderoso porque, em tudo, por meio de tudo e acima de tudo, tudo é feito exclusivamente por seu poder. Esta é a razão para que Deus seja adorado.

Aqui se manifesta a, assim chamada, ´descoberta´ da Reforma. Lutero angustiou-se ao extremo até descobrir o sentido da expressão ´justiça de Deus´ na Escritura Sagrada. Lutero havia aprendido que a justiça de Deus é aquela que Deus exige que seja cumprida pelo ser humano. Com isso, apesar de todos os esforços para cumprir essa justiça, Lutero acabou em desespero. Foi levado a odiar a Deus, pois exigia dele uma coisa que não podia cumprir. Em meio ao desespero, tentou compreender o que o apóstolo Paulo chama de ´justiça de Deus´. Tinha à sua frente o versículo Eu não tenho vergonha do Evangelho de Cristo, pois é um poder de Deus para a salvação de todos os que creem. Nisto é revelada a justiça que tem valor perante Deus, à qual vem de fé em fé (Rm 1.16s).

Conduzido por essas palavras, chegou à compreensão de que Paulo entende por justiça de Deus aquela justiça que Deus dá de graça. A justiça que o próprio Deus cria quando tem misericórdia das pessoas e as torna justas pela fé. Ao mesmo tempo, Lutero entendeu outras expressões da Escritura: poder de Deus é o poder com o qual Deus torna as pessoas poderosas; sabedoria de Deus é aquela pela qual Ele as faz sábias. Em todos esses casos, Deus é quem dá essas qualidades às pessoas. O que podem fazer as pessoas? Deixar que essa ação divina ocorra em suas vidas: somente a graça!

CALVINO (trecho das Institutas da fé cristã)

AS PROMESSAS DA LEI NÃO INDUZEM À SALVAÇÃO ATRAVÉS DO MÉRITO DAS OBRAS, O QUAL SOMENTE À CONDENAÇÃO PODERIA CONDUZIR

Prossigamos agora também com outros argumentos mercê dos quais Satanás se empenha, através de seus satélites, ou em demolir ou enfraquecer a justificação pela fé. Julgo que já subtraímos a nossos caluniadores a possibilidade de acusar-nos de sermos inimigos das boas obras; porque negamos que as obras justifiquem, não para que não se faça nenhuma boa obra, nem tampouco para negar que as boas obras sejam boas, mas para que não nos fiemos nelas, nem nelas nos gloriemos, nem lhes atribuamos a salvação. Pois esta é nossa confiança, esta nossa glória, a única âncora de nossa salvação: que Cristo, o Filho de Deus, é nosso, e nós, por nossa vez, nele somos filhos de Deus e herdeiros do reino celeste, chamados à esperança da bem-aventurança eterna pela benignidade de Deus, não por nossa dignidade.

Já mostramos acima como, se nos apegamos à lei, somos destituídos de toda bênção, somente maldição paira ameaçadora, a qual foi ordenada para todos os transgressores [Dt 27.26]. Ora, o Senhor não promete coisa alguma, senão aos perfeitos cultores de sua lei, os quais nenhum se acha. Permanece, pois, que toda a raça humana é indiciada mediante a lei como sujeita à maldição e à ira de Deus, das quais, para que se livrem, necessário se faz escapar ao poder da lei, e como que de sua servidão guindar-se à liberdade, na verdade não àquela liberdade carnal que nos afasta da observância da lei, nos incita à conspurcação de todas as coisas, permite que nossa concupiscência se exceda como se as barreiras fossem rompidas ou as rédeas, soltas; ao contrário, aquela liberdade espiritual que conforta e soergue a consciência perturbada e consternada, mostrando-a livre da maldição e da condenação com que a lei a premia, amarrada e constrita. Esta liberação e, por assim dizer, alforria da sujeição à lei conseguimos quando, mediante a fé, apreendemos a misericórdia de Deus em Cristo, pela qual somos feitos seguros e convictos da remissão dos pecados, de cujo senso a lei nos pungia e remordia.

A doutrina da graça nos mostra que:

  1. Se o homem for deixado por si mesmo a única coisa que é capaz de fazer é se perder.
  2. Não havia outra maneira de Deus se relacionar conosco porque nunca, jamais, poderíamos oferecer a ele qualquer coisa de útil ou agradável.
  3. Ao mesmo tempo em que ela é maravilhosa, pois nos põe diante de Deus, é também humilhante porque sela nossa incapacidade. Ou seja, onde houver qualquer orgulho a Graça estará de fora.
  4. Também nos mostra que não apenas somos salvos por ela, mas que mediante a mesma graça vivemos.
  5. A graça ainda nos impõe impossíveis: Perdoar o imperdoável. Aceitar o inaceitável. Compreender o incompreensível.
  6. A graça é o que retém a justa e invencível ira de Deus.
  7. A graça não é uma liberação de Deus para que cada um viva conforme quer, mas a única forma de se viver a vida de Cristo, ou uma vida verdadeira, à luz do nosso limitação e da eternidade.
  8. Só é capaz de saber o que é a Graça de Deus quem sabe o que é ser pecador e estar desesperadamente perdido e de repente ser resgatado

Pr Júnior Martins

26/07/2017

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