DEMÔNIO SOCIAL

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Em uma destas aulas de sociologia e religião que tive, ouvi coisas que me fizeram pensar e chegar a uma conclusão esquisita, mas até certo ponto com algum sentido. Não quero aqui ter razão ou estar criando uma nova teoria, mas brincar um pouco com o conhecimento e com as insanidades que nossa mente, quando provocada, é capaz de produzir.

O tema eram as lutas de classe e os movimentos que se levantaram, sobretudo, nas últimas décadas nos mais diferentes lugares do mundo. Lutas sociais, de grupos, de partidos existem desde que o homem existe. Passemos a refletir sobre algumas que considero mais preponderantes e veja uma conclusão maluca.

As mulheres procuram seu espaço e é justo que o encontrem. Eu tenho uma visão igualitarista de gênero, com exceção feita aos casos em que, biologicamente, mulheres e homens são evidentemente diferentes, como engravidar e ter todos os cuidados que isto mereça. Não vejo qualquer vantagem em ser homem ou qualquer desvantagem em ser mulher. Mas não é assim que funciona. As mulheres, por exemplo, ganham muito menos no mercado de trabalho mesmo exercendo as mesmas funções dos homens, sendo que, muitas vezes, até com muito mais competência. Ainda são preteridas em funções de maior liderança e destaque em diversas áreas sociais. Ou seja, mulheres ainda lutam contra os homens para firmar seu espaço. Espaço merecido. Isso sem contar que, na falta que os homens tem feito ao negligenciar suas responsabilidades, muitas tem carregado famílias inteiras em seus ombros com muita dignidade. Sem contar que toda a estrutura social e mesmo linguística é masculinizada: dizemos homens para nos referirmos a todos, incluindo as mulheres. Não é curioso! É a luta da mulher contra o homem.

Quem acha que racismo não existe mais é porque anda bem desinformado e desatento. Talvez a mais gritante seja a disputa entre negros e brancos. Curioso que mesmo com leis que procuram punir com rigor quem age com racismo, mesmo com todas as campanhas de conscientização, mesmo a ciência provando que não há diferenças entres os homens em função da cor da pele, tal preconceito persiste. Voltemos ao mercado de trabalho. Homens brancos ganham mais que homens negros. Nos estádios de futebol, por exemplo, jogadores negros ainda são ofendidos por causa da cor de sua pele. Já ouvi policiais, amigos meus, dizendo que a cor da pele ainda é um fator para decidir quem será parado ou não para uma revista na rua. Infelizmente é uma balela a conversa de que somos todos iguais porque os números e as conclusões a que chegamos olhando o dia a dia apontam na direção contrária. É a luta do negro contra o branco.

Quem não tem acompanhado, mesmo que não queira, a luta dos homossexuais contra a homofobia e por sua inclusão e aquisição de direitos? Acho toda esta luta muito esquisita quando olho a proporção e a força que tem ganhado, sobretudo, tendo evangélicos na mira, quando não são os evangélicos que matam, espancam, perseguem, não contratam nas empresas pessoas que, sabidamente, são homossexuais, ainda que eu saiba que os evangélicos são homofóbicos em sua maioria.  Acredito que haja muita gente mal intencionada por trás deste movimento todo. Tenho a impressão que ainda vamos lutar contra uma ditadura gay. De qualquer forma, eles têm o direito de não serem desrespeitados, de não serem preteridos em lugares públicos por sua opção sexual, nem não perderem funções, atribuições e outros direitos quaisquer por causa de sua opção sexual. Muitos dizem, sem razão nenhuma, de que o reconhecimento e aceitação das reivindicações do movimento GLBTS (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Simpatizantes – sigla que muda toda semana), vão acabar com o conceito padrão de família. Mas que conceito padrão de família? O IBGE divulgou a pesquisa da nova estrutura familiar brasileira na semana passada e, para nossas conclusões, não são os homossexuais que estão estragando tudo não. Já temos mais de 50% da população vivendo em famílias de modelos diversos: mãe e filhos, pessoas morando sozinhas (seria uma família?), amigos morando juntos, até modelos tipo ¨Cadinho¨ (quem assistiu a novela AVENIDA BRASIL da Globo sabe do que estou falando). A minha conclusão é a ausência do papel masculino. Não quero dizer que se os homens tivessem feito seu papel direitinho que tudo estaria certo, mas bem menos complicado. De qualquer maneira há uma luta entre o heterossexual e o homossexual. Já ouvi falar até da possibilidade de uma passeata do orgulho heterossexual – mais um absurdo! É a luta do homossexual contra o heterossexual.

Outra luta antiga é a dos ricos contra os pobres. Realmente, a maneira como a renda é distribuída causa vergonha. Vi, agora a pouco, um post no Facebook de uma mulher de rua que respondeu a seguinte pergunta: ¨O que mais dói na senhora?¨, ao que ela respondeu: ¨o que mais dói é a fome meu filho, é a fome!¨. Jesus mesmo disse que sempre teríamos os pobres conosco e, tenho certeza, que o que ele quis dizer foi que sempre deveríamos cuidar dos mais pobres, ter atenção com eles, não lhes deixar faltar nada e, com certeza não quis dizer que sempre seríamos cercados de injustiças e pobreza sem que pudéssemos fazer nada para mudar ou pelo menos melhorar.  É a luta do pobre contra o rico.

E a religiosidade? Muitos no início do século passado apostaram e chegaram a afirmar que a religião seria extinta, que os avanços do conhecimento superariam os conceitos religiosos. Freud, Marx, Nietzsche, entre tantos outros, fizeram afirmações ou colocações neste sentido. Apesar de um movimento de descristianização da Europa nas últimas décadas, ainda persiste o conceito de alma, os conceitos religiosos entre os povos de todo o planeta. Parece um fenômeno irreversível. Da gênese do homem ao seu fim a religião persistirá. E, entre as religiões mais barulhentas do nosso País, há os evangélicos (termo que, insisto, precisa ser revisto – mas isto é outro assunto!). O evangélico no Brasil é uma caricatura medonha de religioso. A perseguição que sofre é merecida. Palavras mágicas, resultados sem trabalho, fazer coisas sem sentido, dizer-se puro, santo, entre tantas coisas, o coloca na lista dos personagens mais estranhos que a religião mal analisada e mal vivida pode produzir. Felizmente ainda tem muita gente evangélica séria (ainda que esta afirmação contenha uma contradição em si, ou seja, colocar evangélico e sério na mesma frase, concordando uma com a outra. Mas como eu disse, é um outro assunto!). Na minha arrogância até acho que sou um destes. Mas aí é só a gente que pensa assim. No fundo as pessoas que lidam com a gente ficam com o pé atrás quando tratam conosco. Se eu fosse contar aqui as histórias que vivi daria um livro de piadas, outro de terror e outro de fazer o Hitler parecer bonzinho, até cristão. É a luta dos ateus e adeptos de outras religiões contra os evangélicos.

Portanto, aí vem minha conclusão maluca, se você é homem, branco, heterossexual, classe B ou A (classificação no Brasil) e evangélico, você é um monstro, um demônio a ser combatido. Você encerra em si mesmo tudo que há de mais detestável e passível de combate na nossa sociedade. Por favor, não levem muito a sério, mas fica para sua reflexão.

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