Os Mortos que nos cercam
De um teólogo destes da moda, e não cito o nome aqui de propósito, ouvi algo que é interessante, mesmo que com um pouco de exagero: os vivos são guiados pelos mortos.
A ideia não é nenhuma novidade, mas soa com bastante efeito. O que ele quis dizer é que o mundo que temos hoje foi construído por aqueles que já morreram. Deste modo, as ideais com as quais elaboramos nossos pensamentos já foram levantadas no passado. O mundo que recebemos foi construído por aqueles que foram. Muita água já rolou debaixo desta ponte antes de chegarmos até aqui. Nossos antepassados erraram e acertaram e estamos aqui para tomar as coisas de onde pararam e darmos continuidade. Bom, esta é uma das facetas – mortos comandam e ditaram as regras do atual mundo dos vivos.
A frase, que sabemos pertencer a Jesus, é uma provocação a um daqueles atrevidos e desinformados que o querem seguir. Esquecendo dos outros dois em Lucas 9: 57-62 e focando apenas neste caso vemos mais ou menos assim: ¨e a outro disse: Segue-me. Ao que este respondeu: permite-me ir primeiro sepultar o meu pai. Replicou-lhe Jesus: Deixai os mortos sepultar os seus próprios mortos; tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus¨. Dos três foi o único que foi convidado e não ¨voluntário¨. Sepultar o pai seria cumprir suas obrigações de filho até o fim, o que, a principio é uma ideia excelente. Ao primeiro homem a resposta mostra que ele era um iludido que não receberia do Evangelho coisas que poderia ser que desejasse. O terceiro, Jesus já percebe que não levaria seu compromisso até o fim. Somente para o segundo, que é o nosso caso, mesmo diante de uma escusa, ele é provocado a ir em frente anunciando o Reino de Deus.
Tanto no caso do nosso teólogo famoso quanto do texto, os mortos estão presentes e influenciando o mundo dos vivos. No primeiro porque prepararam um mundo com acertos e erros e precisamos retomar de onde se parou. No segundo, de forma mais negativa, até porque não são mortos de verdade, mas uma figura para os mortos espiritualmente, o que pode acontecer àquele que está no Reino e se prende a eles.
Dos primeiros temos um legado, bom e mal. O bom para servir de base para passos mais largos e mais distantes. O mal para ser usado como exemplo do que não fazer. (Isto eu aprendi com meu primeiro pastor: ¨com as pessoas nós aprendemos o que fazer e o que não fazer¨ – com pessoas vivas e mortas). Já li muitos livros de gente que já morreu a muito tempo e que mudou minha vida hoje. Estudando história vemos os heróis e os bandidos, que nos apontam em uma e outra direção.
No entanto, nossa atenção agora se volta para o que considero mais importante aqui: os mortos vivos, aqueles que não morreram fisicamente, mas estão espiritualmente mortos. Entre os tais temos não apenas os ímpios e incrédulos, mas ¨crentes¨ que fizeram uma opção equivocada de fé, que se tornaram rancorosos com a igreja e o Evangelho e dos muitos que temos nas nossas igrejas tomados pelo desanimo e ideias perigosas para a igreja e a comunhão – seriam os verdadeiros mortos.
Talvez muitos não percebam, mas estamos cercados de mortos nas nossas igrejas. Pessoas para as quais nada jamais poderá dar certo. Pessoas que transformam a vida cristã em um oba-oba, ou algo extremamente formal, pessoas que não tem prazer em servir, sempre preguiçosos, sempre dispostos a não fazer algo, sempre negativos, sempre lentos, sempre desinteressados, sempre fazendo partidos, nunca interessados em conhecimento e crescimento. Ou mesmo focando em coisas secundárias, fazendo da igreja um circo, um clube social, interessados somente em sim mesmo e seus deleites. E como é duro, quando ao passar do tempo, começamos a perceber que estas pessoas nos rodeiam. Infelizmente, pouco ou nada se pode fazer por eles, senão fugir ou enfrentar, mostrando, não para mudança deles, mas de outros, o que é que o Evangelho nos pede em termos de serviço, disposição, fé, alegria e vontade.
Não existem soluções porque muitas são as facetas desta morte. O que se pode fazer é alertar os vivos. Alertar para que tomem consciência disto e não sejam limitados e impedidos pelos tais.
Que assim seja, já que o Evangelho é promessa de vida plena em Cristo.
Pastor Júnior Martins
Tentando manter-se vivo