INSTITUTAS DA FÉ CRISTÃ VOLUME I – JOÃO CALVINO – COMENTÁRIOS

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É a última do dia aproveitando a manhã. Terminei as Institutas Volume I hoje bem cedo. Que maravilha! A gente estuda parcialmente a obra de Calvino a vida inteira e não se dá conta de que a obra dele vai muito além dos 5 pontos e que o 5 pontos são uma obra do Sínodo de Dort (em 1618-19, depois de sua morte em virtude do crescimento do arminianismo na Holanda) e que ele já se horrorizava com um movimento chamado pelo seu nome quando ainda vivo (claro!). Você pode encontrar muita coisa da vida de Calvino na Internet. Vou destacar algumas aqui que acho interessantes.

  1. Recebeu uma espécie de ordenação aos 12 anos de idade.
  2. Mas nunca foi ordenado pastor.
  3. Muito estudioso – ele foi para um seminário católico que tinha uma dura rotina de estudos, oração e meditação, mas mesmo assim, passava as madrugadas com uma vela acesa debaixo do cobertor, para não atrapalhar os colegas de quarto, repassando o que aprendeu.
  4. Teve contato com os escritos e ideias de Lutero e logo que seus ensinos passaram a se parecer com os de Lutero, os católicos franceses começaram a perseguí-lo. Ele viveu um tempo dentro da própria França exilado, com nomes falsos e se mudando constantemente.
  5. Neste período, ainda dentro da França, pastoreou os huguenotes. Quem conhece a História do Protestantismo no Brasil, sabe que estes mesmos huguenotes estiveram aqui no século XVI, chegaram praticamente juntos com os holandeses, mas foram deportados e mortos na França. O catolicismo francês era implacável. Lembre que a França já foi casa do Papa, em Avignon, mesmo que tenha sido um cativeiro, como dizem, em um período que se chegou a ter três papas ao mesmo tempo.
  6. Vai para a Suíça. Lá começa a pastorear a igreja protestante e causa muitas mudanças na cidade.
  7. Sempre foi pobre.
  8. Sua casa era quase uma hospedaria.
  9. Algumas vezes pediu ajuda ao presbitério para pagar despesas de seus hóspedes.
  10. Parte do seu pagamento era em vinho – um total de 2.000 litros por ano.
  11. Gostava de jogar bocha e fazia pequenas apostas em um bar onde bebia (nada de anacronismos!).
  12. Moralizou muito Genebra.
  13. Pairam dúvidas sobre a relação dele com a morte de Serveto por heresia e, no volume I ele cita as heresias de Serveto mais de uma vez, citando seu nome. Mas para este discussão é melhor ver o que o Augustus Nicodemus escreve em http://www.mackenzie.br/7035.html. Há quem o defenda, mas há quem o ataque. Veja os fatos e decida você mesmo.
  14. Só não comentou o livro de Apocalipse. Para alguns porque não deu tempo, para outros porque não gostava do livro.
  15. Pregava expositivamente e extemporaneamente com os textos hebraicos e gregos na mão. Verso após verso.
  16. Cuidava pessoalmente dos doentes em períodos de grandes pestes na Europa, o que era comum naquele tempo.

Queria dizer mais, mas está bom. Figura maravilhosa este Calvino!

As Instituas talvez sejam a obra mais importante de toda a tradição cristã, não apenas a Reformada. Para alguns, talvez rivalize com a Cidade de Deus de Agostinho, a Suma Teológica de Tomás de Aquino e a Dogmática de Karl Barth. Como me falam três volumes deste e mais aqueles, dou minha opinião daqui uns 20 anos, se estiver vivo, saudável e ainda interessado em aprender. A vida é curta só para ler e estudar Calvino.

As Institutas também são uma defesa da doutrina cristã. Por um lado da doutrina Reformada e por outro lado uma defesa contra as ideias anabatistas odiadas, então, por alemães e suíços e que ganhavam muito espaço então.

No primeiro Volume, temos uma teologia propriamente dita, ou seja, sobre quem é Deus e todo seus poder e ciência, longo discurso sobre angelologia, contra a idolatria (é neste volume que aparece a célebre frase de que ¨o coração do homem é uma fábrica de ídolos – na minha edição nas últimas linhas da página 113), além de um longo e final trecho sobre a providência divina, tratando das ações dos justos e injustos.

Em outras palavras, é a primeira Teologia Sistemática da Igreja Protestante. E por que optamos por estudar outras ao invés de começar por esta? Talvez porque reduzamos Calvino ao Calvinismo. Que pena, nem os Calvinistas sabem defender seu tutor a altura. Será que eles leem!

Provocações a parte, vão aí algumas ideias que me chamaram a atenção ou insights a partir da leitura, mas não distinguirei umas das outras.

  1. A transcendência de Deus dificulta sua compreensão por meio dos sentidos humanos.
  2. Deus é a natureza, uma afirmação que uma alma piedosa possa fazer, mas que não se confunda a divindade com as instâncias sempre inferiores de sua criação.
  3. A maior recompensa da obediência é a certeza de andar no caminho da vida verdadeira. Precisamos encontrar o prazer nas coisas não materiais e não simbólicas, mas espirituais.
  4. Precisamos atentar se não é grande demais o nosso esforço por validar aos olhos dos ímpios princípios religiosos que por natureza os condena. Esforço em vão.
  5. Calvino tem no poder, na antiguidade, na preservação e nos testemunhos de mártires a confirmação da autoria divina das Escrituras.
  6. Assim como os pais da igreja criticam a idolatria egípcia e greco romana, ele cita Platão, Aristóteles e Cícero e também o faz.
  7. Coração do homem é uma fábrica de ídolos.
  8. A linguagem antropomórfica da Bíblia corresponde, para Calvino, ao modo como uma ama fala com uma criança.
  9. Fala de Serveto como herege. Serveto defendia uma espécie de triteísmo e não conseguia compreender a subordinação funcional deslocada de outro tipo de igualdade essencial. As duas coisas coexistem na trindade.
  10. Na defesa da trindade, Calvino invoca Irineu, Tertuliano, Crisóstomo e Agostinho. Em relação à Irineu ele invoca uma melhor leitura de seus escritos sobre a trindade já que consideravam a sua ideia de subordinação de Cristo ao Pai, como uma redução ou subordinação divina entre ambos, quando na verdade, ele estava respondendo a questionamentos de sua época no mesmo sentido.
  11. Calvino fala dos anjos e não vê sentido em anjo pessoal, ou como falamos, em anjo da guarda.
  12. Na página 78 Calvino afirma que quando a Bíblia diz que Deus fez algo ruim, como as pragas do Egito, por exemplo, era Satanás sob a vontade de Deus que o limitava.
  13. Calvino parece ensinar uma dicotomia na qual a alma tem excelência sobre a carne. Ou pelo menos precedência quanto a salvação e mesmo quanto à perdição.
  14. Na página 190 ele afirma que o homem não está destituído plenamente da imagem de Deus, mas que a queda afetou de tal modo a tornar-se uma deformidade.
  15. Ele discorda do Serveto novamente na imagem e semelhança do Homem. Serveto ensinava que no sopro de deus houve uma espécie de transfusão do ser divino no homem. Esta ideia vem do maniqueísmo. Ele fala bastante também de um tal Osiandro.
  16. Ele usa as categorias platônicas para definir a alma, mas propõe uma variação. Platão dividia em 5. Ele em duas: entendimento e vontade. Página 194-195.
  17. Existe certa alusão aristotélica no conceito de providência divina de Calvino como causa primeira ou primeiro motor que move tudo. Ele não crê em sorte ou acaso, tudo é obra da providência divina, até mesmo o que acontece de mal no homem.
  18. Termina falando de como Deus lida com o mal e de que tudo vem de sua mão, ainda que ele não planeje e nem opere o mal, o mal também serve a seus propósitos de punir e corrigir.

É isto. Aí. Fica mais este comentário que espero que seja útil.

Por hoje chega. Ufa!

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