MESQUITA, Antônio Pedro. Aristóteles – obras completas: Introdução Geral. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2005. 752 p.
Não somos incentivados a estudar filosofia quando estamos na escola e mal percebemos o tamanho do patrimônio e conhecimento perdidos. Talvez nossos professores não sejam suficientemente preparados para uma tarefa tão importante ou, quem sabe, não disponham da capacidade pedagógica para tal tarefa.
O Ocidente deve muito à filosofia grega de Sócrates, Platão e Aristóteles. O próprio cristianismo passa de concorrente e opositor àquele que se vale dos fundamentos da filosofia grega em suas estruturas. Já no tempo apostólico vemos, sobretudo no Evangelho de João e em suas cartas, um intenso debate contra uma espécie de proto-gnosticismo, uma espécie de mistura de cristianismo e cultura grega.
As escolas gregas eram muitas, mas podemos dividi-la em pré-socrática e pós-socrática. Além disto, há muitas variações em virtude dos lugares e diferentes visões dentro da própria cultura grega, mas não nos ateremos a isto aqui.
Platão e Aristóteles são muito presentes na Obra Patrística, ora sendo atacados, ora tendo suas estruturas sendo utilizadas. Ele é uma chave fundamental para a compreensão do mundo antigo, sobretudo da transição do Império Greco-macedônio para o Império Romano e toda estrutura política, econômica, social, religiosa e educacional.
A obra de Aristóteles é muito vasta, mas dividida em três partes: escritos originais e reconhecidos como sendo de sua autoria, escritos espúrios (falsos, parciais ou adulterados) e pseudoepígrafos. O corpo canônico está de fato reduzido a umas poucas dezenas de livros.
O presente livro se presta ao serviço de discutir a validade dos documentos que se dispõe e catalogá-los dentro dos critérios técnicos adotados.
- Filho de um médico da realeza.
- Nasceu em 384 em Estagira, dai o nome estarigita.
- Ficou órfão na adolescência e sua irmã o criou desde então.
- Foi para Atenas e estudou na escola de Platão durante 20 anos, tinha então 17.
- Platão o apelidou de ¨O Leitor¨: os livros não eram lidos, mas ouvidos. Aristóteles começou a ler para si mesmo, fazia anotações e começou a escrever. Algo que fazemos hoje.
- Era a favor dos macedônios o que o obrigou a sair de Atenas em 347. Esta tensão valeram dois exílios e fugas de Atenas.
- Foi professor de Alexandre contratado por seu pai quando Alexandre ainda era adolescente. Ser a favor dos macedônios, neste caso, o ajudou muito. Provocou a ira de seus concorrentes com esta escolha. Provavelmente foi com uma pequena equipe.
- Morreu com 63 anos.
- Peripatético pode significar que ensina andando ou que ensinava em um passeio público. A escola peripatética não é original de Aristóteles, mas este a eternizou.
- Suas obras ficaram no esquecimento e espalhadas por 300 anos porque a filosofia neste tempo seguiu mais a retórica do que a profundidade. Este é o tempo que coincide com o primeiro século da era Comum. Seu resgate foi fundamental para a filosofia do primeiro século. Mas encarou muitas dificultaras pelo lapso do tempo. Podemos comparar com o resgate do Novo Testamento. Naquele caso, documentos foram perdidos, adulterados e parcialmente misturados. Há problemas sérios de datação que levam a dificuldades de responder questionamentos como: o pensamento de Aristóteles evolui? Muitos argumentam que seu pensamento possui três fases distintas: o pensamento que adquire com Platão ainda jovem, o pensamento que se opões a Platão, principalmente depois da sua morte, e um pensamento independente no final da vida. Muitos afirmam que sempre houve uma uniformidade em seu pensamento. Assunto para especialistas. O fato é que a terminologia e a forma de expressar de Aristóteles são desafiadoras. Nos trechos finais do livro o autor apresenta uma série de 10 conjuntos de termos em Aristóteles, começando com o controverso termo ¨substancia¨.
- Há um sentido diferente do termo exotérico em Aristóteles – ensino para fora da academia, mais direto e popular. Para não iniciados. Este tipo de ensinamento era proferido para a população interessada em filosofia, mas em termos mais palatáveis.
- Pouco de sua obra se preservou e muito foi adulterado.
- Faltou nele, em alguns textos quando comparado a Platão e outros posteriores, finezas nas palavras, ainda que haja testemunhos fortes em contrário.
- Ele viveu 20 anos na escola de Platão e talvez já tenha chegado lá com ideias próprias, mas se identifica com a escola platônica em alguns momentos desenvolvendo ideias por meio de diálogos.
- A principal tensão de ideias está que Platão acreditava na alma como sendo uma ideia e Aristóteles como sendo uma substância. Isto leva o pensamento de Aristóteles a uma análise pragmática da realidade. Platão cria em quarto elementos e ele acrescia um quinto: o éter.
- Platão era 40 anos mais velho que Aristóteles.
- Este livro destina-se a aqueles que querem profundidade em Aristóteles, mas dá detalhes importantes ao que querem iniciar em seus estudos sem maior profundidade (nosso caso).
- Aristóteles é também definido como empírico, naturalista e peripatético. Para ele o conhecimento pode servir a três propósitos: apenas para si mesmo, para nos conduzir em uma prática de vida e para transformar-se e estar pronto para a vida.
- O filósofo era um generalista profundo. Lidava com todos os temas. É diferente de hoje. Sua obra e vida são tão vastas que alguém ousou dizer que eram dez, sendo cada um responsável por uma área vultuosa ou virtuosa. Para Aristóteles o conhecimento pode ser apenas para si mesmo, para levar a um prática de vida, ou para outros fins como transformar-se e estar pronto para os desafios.
- Por que é difícil interpretar as obras de Aristóteles como tendo um centro? a) variam as ideias, b) ele pode ter abordado o mesmo assunto de pontos de vistas diferentes, c) a dificuldade de determinar suas fases, etc.
- Quais os temas principais das obras de Aristóteles? 1) os escritos de lógica, conhecidos pelo nome de Organon (“instrumento”; compreendem categorias, da interpretação, primeiros analíticos, segundos analíticos, tópicos, refutação de sofismas). 2) Escritos da filosofia da natureza ou física (física, do céu, da geração e da corrupção, meteorológicos, história dos animais, do movimento dos animais, da marcha dos animais, da alma, da sensação e dos sensível, da memória e da lembrança). 3) Os catorze livros recolhidos pelo título de metafísica, assim chamados porque na série ordenada por Andrônico vinham depois (metà em grego) dos escritos da física. 4) As obras morais, políticas, de poética e de retórica, os quais são: ética a Eudemo, ética a Nicómaco, ética maior ou grande moral (cuja autenticidade se discute), política, poética, retórica e constituição de Atenas.
- Palavras novas e novos significados em Aristóteles: matéria, essência, categoria, premissa, enteléquia, silogismo, demonstração, imaginação, escolha, etc. Ver páginas 470-472 e explicações que seguem.
Como não tenho o propósito de realmente fazer uma resenha, além do que um livro tão denso impede uma tarefa tão técnica, passamos agora a ler algumas das obras. Neste momento já terminei o Organon, com dois dos seis livros, e iniciamos ¨Da Alma¨.