O segundo livro da série da Vida Nova ¨Clássicos da Reforma¨ trouxe João Calvino. A boa introdução sobre a vida de Martinho Lutero no primeiro livro fez com que a introdução sobre a vida de João Calvino ficasse a desejar no segundo livro, mas podemos compensar com outras leituras e pesquisas, ainda que o propósito sejam os textos em si e a melhoria da tradução dos mesmos. O que foi muito bom.
Vemos aqui um lado interessante de Calvino que não vemos nas Institutas por exemplo. Áspero com seus opositores, irônico com adoradores e colecionadores de relíquias e critico com outros pastores (falsos pastores).
Aqui não é uma resenha do livro, mas algumas referências e anotações que julgo que serão importantes em algum momento para mim mesmo.
A página 67 trata do culto no debate com Jacó Sadoleto. Algumas observações são interessantes. Para Calvino, pelo menos neste texto e neste momento do texto, a grande distinção entre homens e animais é o fato de que os homens podem se ligar a Deus e ter comunhão com ele, uma distinção incomum para nós hoje. Pensamos nossas diferenças sobre aspectos diferentes. Deste modo, acréscimos e superstições no culto fazem deste o erro dos mais graves que podemos cometer. O culto aprovado por Deus hoje é o mesmo aprovado desde o começo. Nada de novo deve ser acrescentado e nada de ¨velho¨ deve ser retirado. Este mesmo Sadoleto é acusado de atacar a mais nevrálgica doutrina reformada: a justificação pela fé na pagina 74.
Na página 79 o assunto é a transubstanciação e Calvino é direto: não podemos rebaixar o corpo e o sangue do Senhor a simples objetos desta realidade. Ainda nas páginas 131-133 ele cita a controvérsia sobre a Ceia entre Lutero e Zwínglio e lamenta que tenha havido discordância tão forte neste assunto que mesmo as semelhanças e concordâncias em todo resto não tenham sido suficientes para uma aproximação entre os dois. Ainda na página 78, ao tratar dos escândalos, ele mais uma vez lamenta que Lutero, Calvino e, agora também, Ecolâmpadio tenham discutido e tidos desavenças sobre a Ceia, mesmo sendo homens tão elogiáveis.
Para questões de natureza da relação do pastor com sua igreja vale a pena a leitura das páginas de 85 a 88. São dignos de ser ouvidos como o próprio Cristo aqueles que de fato trabalham e labutam na obra de Deus e não se vendem. Há um duro questionamento sobre a licenciosidade de lideres de seu tempo, bem como a falta de correção na conduta e pregação. Ainda sobre a vida pastoral, vale uma visita à pagina 270 onde ao tratar dos escândalos, ele afirma que a doutrina de Cristo é desonrada quando aqueles que a pregam vivem de maneira errada.
O tema do ¨Tratado sobre as Relíquias¨ seria cômico se não fosse tão trágico e pernicioso para a igreja daquele tempo. Calvino cita inúmeras relíquias que não poderiam existir em tanta quantidade e em tantos lugares diferentes. Relíquias ligadas a Jesus, aos apóstolos e até mesmo a personagens mais distantes no tempo como Moisés e Arão. Todo o texto vale a pena. Neste podemos perceber o Calvino irônico e inconformado, não apenas com aqueles que se valiam disto, mas também com aqueles que criam, compravam, peregrinavam e faziam destes objetos alvo de adoração.
Na página 282 temos uma declaração interessante. Calvino afirma que a pessoas em seu tempo sabiam mais do que antes quando viviam nas trevas. Não sei se é de fato uma referencia ao período que hoje chamamos de Idade Média, mas vale o destaque do comentário.
A página 296 entra um debate sobre comida que não discute apenas o desperdício e a gula, mas o falso uso religioso da comida.
O conhecimento dos textos dos Reformadores é um bálsamo sobre a nossa fé. A distância do tempo não os desfavorece, pelo contrário.
Pr Júnior
Agosto de 2017