TRADIÇÃO E TRADICIONALISMO

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¨A tradição é a fé viva dos mortos. O tradicionalismo é a fé morta dos vivos.¨ Estas frases são atribuídas a Nikolai Berdiaev e traduzem o espirito do que queremos tratar aqui. 

Definir tradição não é fácil. Pode ser o conjunto substrato essencial que sobreviveu ao escrutínio da razão e da prática, como descrição fundamental dos valores e práticas igualmente essenciais de um grupo, ou conjunto de ideias. O que hoje é tradição um dia foi novidade. Podemos citar a forma neotestamentária de culto, pregação e missões; a compreensão dos Pais da Igreja do ensino apostólico; as decisões dos concílios e, como batistas; os fundamentos dos separatistas do século 16 e dos anabatistas.

Quanto ao tradicionalismo, por consequência, é um conjunto de hábitos irracionais e irrefletidos que formam um conjunto de vícios de um grupo, afetando seu crescimento e evolução sob o pretexto de zelo. No Novo Testamento podemos citar a forma como os fariseus guardavam o sábado e o voto de Corbã. O cristianismo é uma religião de tradição. Mas que tradição?

Os fundamentos do cristianismo podem ser encontrados na Bíblia, sobretudo no Novo Testamento. Como batistas, os valores se confundem, já que nascemos como um grupo que busca o retorno aos valores do Novo Testamento. A Bíblia como o livro de fé e prática, o credobatismo (ou batismo de adultos ou pessoas capazes de assumir suas decisões), o valor do indivíduo (seu valor, autonomia e liberdade de consciência e expressão), a Ceia e o Batismo como ordenanças e memoriais, a separação entre a igreja e o Estado, a autonomia das igrejas locais (congregacionalismo) e o sistema de cooperação voluntária, são alguns dos valores dos batistas e, portanto, sua tradição.

Podemos acrescentar a estes valores, a decência e ordem em nossa forma de culto, valorizando aquilo expresso pelo Novo Testamento. O tempo nos fez incluir a Escola Bíblica Dominical como um valor para o ensino e o cuidado com as várias faixas etárias da igreja. A necessidade de cultos específicos para oração também figura neste aspecto da práxis. Nossos usos e costumes geralmente seguem o bom senso, ou o equilíbrio.

O tradicionalismo implica na inclusão dos hábitos internos de uma congregação e sua sobrevalorização. A exigência de um vocabulário e vestimentas específicas, a necessária existência de atividades no calendário que ultrapassem aquelas previstas pelo calendário litúrgico tradicional, o fazer por fazer, etc. Mesmo os valores tradicionais podem ser executados de forma a transformar-se em mero tradicionalismo quando esvaziamos sua necessidade e valor. O automatismo dos nossos valores deturpam os benefícios da tradição.

A igreja tem vida, dinâmica, crescimento e sentido de existência e valor quando celebra, pratica e ensina seus valores fundamentais, sua tradição. A essência da igreja batista lhe confere este poder. É preciso resgatar.

A Bíblia deve ser ensinada em sua totalidade, com maestria, profundidade, vigor e rigor. Somente pessoas que realmente dão sinais de sua conversão e mudança de vida devem ser batizadas e incluídas no rol de membros de nossas igrejas. O batismo não pode ser barateado. Cada membro da igreja deve ser incentivado a servir e tomar decisões na igreja com responsabilidade e envolvimento. O automatismo da Ceia deve ser vencido pelo ensino e por sua ministração responsável com aprofundamento da compreensão espiritual deste memorial. A vocação da igreja como Reino de Deus, que prega sua Palavra e faz discípulos de todas as nações, deve impor-se como meta da igreja, ainda que aqueles que sejam vocacionados politicamente devam ser igualmente incentivados e cumprir esta vocação.

As igrejas devem se sentir responsáveis pelo seu crescimento numérico e espiritual, e trabalhar de forma organizada para estes fins. Os cultos devem ser completos e buscar o envolvimento de cada membro em sua totalidade. As particularidades de cada congregação devem ser apresentadas e devidamente justificadas aos seus membros para não gerar confusão entre seus valores essenciais e não essenciais.

O ensino, marca fundamental de nossa história, deve ser feito com zelo e os professores, mestres e doutores da igreja devem ser valorizados e buscar o processo de formação contínua. Com aquilo que chamamos de tradição sejamos dogmáticos (sistemáticos). Com aquilo que chamamos de tradicionalismo sejamos pragmáticos.

Infelizmente, práticas duvidosas e questionáveis têm feito parte de nossa história. O empréstimo de ideias e comportamentos de correntes evangélicas diversas tem complicado nossos arraiais, nublado nossa visão e corrompido nosso povo. Práticas oriundas a Teologia da Cura e da Prosperidade, práticas e conceitos neopentecostais e até um lento, mas vigoroso, processo de judaização da igreja.

É preciso despertar e voltar às raízes. É preciso despertar e voltar à tradição.

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